Quarto Capítulo: Bianca

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O momento mais difícil chegou e não encontrava maneiras de escapar. Existem dois paradoxos quando viajo para casa: meu coração fica feliz e triste na hora de ir embora. Se me fosse concedido um desejo, eu gostaria de transferir a universidade para algum desses pastos.

— Você tem que se alimentar direito, criança — vovó Margarida disse em tom de ordem.

Como poderia manter o "peso" se não sobrava tempo para preparar uma refeição de verdade. Eram cinco minutos até que o macarrão instantâneo ficasse pronto, depois era engoli-lo sem tirar os olhos do livro. Os churrascos, sopas, massas aconteciam raramente quando eu colocava o estudo em segundo plano e aceitava os convites de Priscila para sair com a turma de Engenharia.

— E traga sua amiga, já faz tempo que ela não aparece.

Assenti, sorrindo, a empreitada seria árdua. Priscila não aceitava estar no mesmo lugar que Luís Henrique, de modo que meu convite foi rejeitado por ambas as partes. Não fazia ideia de como iniciara a discussão que resultou na briga. Só recordo das vozes exaltadas quando cheguei a quitinete.

Eu também não estava disposta a bancar o cupido! O relacionamento seria deles.

— Também ligue mais e assim que puder vou visitá-la.

Raramente Margarida deixava a fazenda Santa Glória.

— E esperarei ansiosa, imagina a cara de inveja dos meus colegas ao conhecerem a vovó mais linda do mundo.

Ela deu uma sonora gargalhada:

— Que os anjos te protejam minha filha.

— Amém, vozinha — abracei-a apertado, guardando o cheiro de rosas misturadas com jasmim.

Próximos ao carro, meu pai terminava de colocar a última mochila no banco do passageiro. Teríamos um pequeno itinerário até a rodoviária e depois algumas horas de ônibus até Belo Horizonte. Enchi a boca de ar, detestava voltar no domingo, ainda mais nesse trânsito caótico.

Jorge me olhava de soslaio, enquanto mamãe acariciava seu cabelo.

— Sem cara de tristeza, pessoal! — Censurei, as mãos sobre a cintura — Qualquer coisa é só puxarem a carroça e seguir direitinho a estrada.

Minha piada não arrancou nem um sorrisinho.

— Muito engraçadinha! — Minha mãe disse consternada — Agora se despeça, antes que seu pai a obrigue ficar.

Olhei para Álvaro que cruzou os braços sobre o peito, uma expressão que só Maraísa causava.

— Depois conversamos, senhora Moura.

Mamãe deu de ombros, eu adorava essa atmosfera de casal apaixonado, embora tenham quase dezenove anos de casados:

— Cuidado ao sair às festas e não aceite nada de estranhos.

— Sim, mãe — o grande percentual dos filhos reclamaria dessas recomendações.

Depois de um abraço e várias beijocas na face, dirigi a meu irmão.

— Ei!

Jorge concordou, segurando as mãos de Maraísa que estavam sobre seus ombros.

— Posso saber do que estão falando? — Nosso pai perguntou, desconfiado.

Antes que eu inventasse alguma explicação extraordinária e omitisse detalhes, duas pessoas surgiram.

— Se ela não disser, deixa que eu explico tudo, Álvaro.

Em Um GestoOnde histórias criam vida. Descubra agora