O momento mais difícil chegou e não encontrava maneiras de escapar. Existem dois paradoxos quando viajo para casa: meu coração fica feliz e triste na hora de ir embora. Se me fosse concedido um desejo, eu gostaria de transferir a universidade para algum desses pastos.
— Você tem que se alimentar direito, criança — vovó Margarida disse em tom de ordem.
Como poderia manter o "peso" se não sobrava tempo para preparar uma refeição de verdade. Eram cinco minutos até que o macarrão instantâneo ficasse pronto, depois era engoli-lo sem tirar os olhos do livro. Os churrascos, sopas, massas aconteciam raramente quando eu colocava o estudo em segundo plano e aceitava os convites de Priscila para sair com a turma de Engenharia.
— E traga sua amiga, já faz tempo que ela não aparece.
Assenti, sorrindo, a empreitada seria árdua. Priscila não aceitava estar no mesmo lugar que Luís Henrique, de modo que meu convite foi rejeitado por ambas as partes. Não fazia ideia de como iniciara a discussão que resultou na briga. Só recordo das vozes exaltadas quando cheguei a quitinete.
Eu também não estava disposta a bancar o cupido! O relacionamento seria deles.
— Também ligue mais e assim que puder vou visitá-la.
Raramente Margarida deixava a fazenda Santa Glória.
— E esperarei ansiosa, imagina a cara de inveja dos meus colegas ao conhecerem a vovó mais linda do mundo.
Ela deu uma sonora gargalhada:
— Que os anjos te protejam minha filha.
— Amém, vozinha — abracei-a apertado, guardando o cheiro de rosas misturadas com jasmim.
Próximos ao carro, meu pai terminava de colocar a última mochila no banco do passageiro. Teríamos um pequeno itinerário até a rodoviária e depois algumas horas de ônibus até Belo Horizonte. Enchi a boca de ar, detestava voltar no domingo, ainda mais nesse trânsito caótico.
Jorge me olhava de soslaio, enquanto mamãe acariciava seu cabelo.
— Sem cara de tristeza, pessoal! — Censurei, as mãos sobre a cintura — Qualquer coisa é só puxarem a carroça e seguir direitinho a estrada.
Minha piada não arrancou nem um sorrisinho.
— Muito engraçadinha! — Minha mãe disse consternada — Agora se despeça, antes que seu pai a obrigue ficar.
Olhei para Álvaro que cruzou os braços sobre o peito, uma expressão que só Maraísa causava.
— Depois conversamos, senhora Moura.
Mamãe deu de ombros, eu adorava essa atmosfera de casal apaixonado, embora tenham quase dezenove anos de casados:
— Cuidado ao sair às festas e não aceite nada de estranhos.
— Sim, mãe — o grande percentual dos filhos reclamaria dessas recomendações.
Depois de um abraço e várias beijocas na face, dirigi a meu irmão.
— Ei!
Jorge concordou, segurando as mãos de Maraísa que estavam sobre seus ombros.
— Posso saber do que estão falando? — Nosso pai perguntou, desconfiado.
Antes que eu inventasse alguma explicação extraordinária e omitisse detalhes, duas pessoas surgiram.
— Se ela não disser, deixa que eu explico tudo, Álvaro.
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Em Um Gesto
RomanceNinguém era capaz de entender o amor por suas raízes. Bianca não se importava com as implicâncias, apelidos ou preconceitos - tudo que desejava era trabalhar no que acreditava - por isso, ao escolher o curso de Medicina Veterinária, optara pelos ani...