Acordei com uma intensa empolgação, imaginando quantas horas - para não dizer minutos - Bianca suportaria. Nosso veterinário havia se prontificado a ajudar por algumas horas, mas o restante do tempo ela ficaria sob minha responsabilidade. Ainda não tinha superado a petulância da universitária. Será que ela não sabia que as terras me pertenciam? Neguei com a cabeça, terminando de abotoar a camisa.
Seria um longo dia e eu não tinha ideia se iria sobrevivê-lo.
— Guilherme, não se atreva a ir trabalhar sem tomar café — minha mãe gritou, assim que peguei o chapéu.
Como se eu pudesse manter o estômago vazio por tanto tempo. Abandonei o quarto, indo tranquilamente até a cozinha, deveria ser cinco horas da manhã.
— Bom dia, dona Gislene — disse, puxando-a para um abraço apertado — A senhora está muito linda, por acaso pretende arrancar suspiros dos vaqueiros?
Ela bateu em minhas mãos, rindo.
— Já sou muito bem casada, menino!
— E eu discordei em algum momento? — Perguntei, fingindo indignação — Cadê aquele velhote que você chama de marido?
— Benedito saiu para a cidade, disse que iria resolver a compra daqueles cavalos.
— É mesmo, nós conversamos sobre isso ontem, eu pensei que íamos esperar até o mês que vem.
— Ele sabe que você está tão envolvido com a fazenda que é quase impossível deixar tudo aos cuidados de outra pessoa — minha mãe argumentou com toda razão, eu estava esperançoso de contratar um novo administrador hoje — Também soube sobre os estagiários.
— Não vamos ter grandes mudanças por isso, mãe — falei, enchendo a xícara de café — Conrado aceitou um dos alunos de Raul, até tentei empurrar a garota, mas ele também tem outros inexperientes esparramados pela fazenda.
— Você já foi um inexperiente, querido — dona Gislene retrucou, colocando um cesto de pão-de-queijo sobre a mesa — Agora me diga como é a jovem.
Franzi o cenho, mantendo a boca cheia para não dizer asneiras. Não tinha nada o que contar sobre a universitária.
— Quando ela estiver aqui pode me apresentar, vou gostar de ter alguém para conversar às vezes.
—Mãe, ela está aqui para aprender e não conversar fiado.
Dona Gislene colocou as mãos sobre a cintura:
— Imagino o que ela pode aprender com essas criaturas, você não me deixe saber que estão tratando-a mal. Entendido?
— Olhe só, estou sendo tratado como um carrasco pela senhora — reclamei, voltando a entupir a boca. Era só o que faltava, minha mãe começar a proteger essa doutora petulante sem nem ao menos conhecê-la.
— Como é o nome dela, Guilherme?
— Bianca e sabe cuidar muito bem de si mesma.
— Nome bonito, e ela é daqui?
— Não faço ideia, só a vi uma vez e não estou interessado na vida dela — respondi, enchendo o copo de leite e pegando um pão.
Minha mãe balançou a cabeça:
— Você está muito na defensiva — ela murmurou, fitando-me demoradamente — Ela não aceitou seus galanteios?
Olhei-a pasmo:
— Eu não dei em cima dela, mãe — disse me defendendo — Simplesmente havia dito que ela estava no lugar errado e, quer saber de uma coisa, tenho certeza que isso não vai prestar.
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Em Um Gesto
RomansaNinguém era capaz de entender o amor por suas raízes. Bianca não se importava com as implicâncias, apelidos ou preconceitos - tudo que desejava era trabalhar no que acreditava - por isso, ao escolher o curso de Medicina Veterinária, optara pelos ani...