— Você não pode estar falando sério.
Escondi meu rosto entre as mãos, sentando na mesinha que insistíamos em manter na sala. Não sentia remorso, tampouco estava plenamente satisfeita com minhas ações. Guilherme era capaz de animar em mim uma pessoa diferente e equívoca.
Suspirei em rendição.
— Sei que foi errado, porém Guilherme mereceu por ser tão... — grunhi, levantando e iniciando minhas idas e voltas — Eu dei apenas uma opinião, uma coisa que fizemos na fazenda Santa Glória.
— Bianca, você não deveria ter dito aos homens — tentei me defender, contudo, Priscila pediu que me silenciasse — Aquele touro marrento é responsável por tudo que acontece lá, pelo que Nathan comentou ao celular, Guilherme cresceu ali.
— Então, eu tenho que assistir muda?
— Não, amiga, você tem que controlar esse gênio mandão. Ele não é um inimigo.
— Dúvidas pairam no ar, Priscila — retruquei, cruzando os braços.
— Acho que deve desistir, não faz bem permanecer em um lugar onde não é bem-vinda e você tem outras escolhas para estagiar.
Balancei a cabeça, eu não me resignaria.
— Quem ele pensa que é para dizer que eu não sirvo, Pri? Não acredito que depois de anos estudando, batalhando ainda tenho que suportar esse petulante — interrompi minhas idas e vindas na quitinete, olhando minha amiga rir.
Era só o que faltava!
— Ele deve ter alguma qualidade. Foi um mal-entendido — ela argumentou, abraçando a almofada — Por que não toma um banho, depois tentar dormir um pouco e quem sabe amanhã tudo se ajeita?
— Ah! Não o defenda. Eu entendi perfeitamente quando ele me desqualificou, e tenho certeza que só fez isso porque sou mulher. Aposto que os outros sugerirem é normal.
— Calma! Vai ver que amanhã será muito melhor, quem sabe uma grande amizade brota.
Meneei a cabeça, horrorizada com a ideia. Eu tinha plena convicção de que uma guerra estava declarada e se Guilherme pensa que vou acatar suas ordens calada está muito engando.
— Da última vez que vi essa expressão, você quase destruiu o rancho Águas Cristalinas.
Joguei-me no sofá.
— Aquilo foi fichinha perto do que farei caso ele não me respeite.
— Bianca — ela disse em lamúria.
— Você riria com a cena, Priscila —falei exultante — Os olhos crisparam e parecia absorto, os restos de comida deslizando pela camisa e pernas. Até o chapéu não sobreviveu ao impacto. Finalmente consegui sentir-me vitoriosa.
— E não teme que ele revide? — Questionou, brincando com o cacho do cabelo.
— Hum — umedeci os lábios, encostando a cabeça na parede — Guilherme não é insano.
— Eu não quero mais saber! — Priscila disse, batendo em minha coxa — Faça o que quiser, pode até jogar bombinhas no quarto dele à noite, eu não vou me meter nessa confusão. Resolveu arrumar alguém para brigar todo santo dia, então aproveite — ela argumentou convicta — Vou procurar uma padaria e comprar uma deliciosa bomba de chocolate. Fica aqui, criando planos diabólicos contra o pobre homem.
— Priscila, você tem que me apoiar.
Ela balançou o dedo em negativa:
— Sou zona neutra, amiga, e se eu fosse você aproveitaria meu precioso tempo para descobrir o gosto daquela boca.
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Em Um Gesto
RomanceNinguém era capaz de entender o amor por suas raízes. Bianca não se importava com as implicâncias, apelidos ou preconceitos - tudo que desejava era trabalhar no que acreditava - por isso, ao escolher o curso de Medicina Veterinária, optara pelos ani...