Décimo Segundo Capítulo: Bianca

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Não me considero uma bisbilhoteira, mas eu tenho um sistema básico de familiarizar com ambientes. Talvez porque permitem que tenhamos um alicerce sobre as pessoas, uma fotografia ou ainda uma miniatura bizarra; nesse último caso até hoje não descobri o encaixe do objeto na personalidade de Priscila.

Depois do meu pedido levemente constrangedor para Guilherme, segui para o banheiro e aproveitando a hospitalidade utilizei os produtos que afirmavam seu gosto grotesco. Eu só esperava conseguir fugir dos possíveis interrogatórios, tanto de Luís Henrique e de minha amiga.

Coloquei o vestido um pouco folgado e voltei para o quarto. A cor marrom das paredes combinava com os móveis que seguiam o mesmo padrão. Foi natural sorrir ao ver o berrante e o violão dispostos com cuidado. Parecia tanto tempo desde que havia tocado.

— Mas por que esconder os troféus? — Questionei-me.

A porta foi aberta de maneira abrupta e escondi as mãos atrás das costas, apertando os lábios.

— Ainda está aqui? — Guilherme perguntou grosseiramente, sentando na cama e livrando-se dos chinelos.

Olhei para meus próprios pés, tentada a dar um tapa na testa ao lembrar que as botas continuavam no banheiro.

— Sim, senhor bruto, ainda não retoquei a maquiagem e nem escovei o cabelo — respondi malcriada, indo buscar meus calçados.

— Muito engraçada, senhorita Moura, só não esqueça que é convidada de minha mãe e este quarto é meu — Guilherme disse, impossibilitando minha saída do banheiro.

— Eu não sou esquecida, senhor Souza — argumentei — Agora pode me dar licença?

— Claro — ele disse.

Em passos largos atravessei o quarto e já colocava a mochila no ombro, quando ele me alcançou, uma expressão de surpresa:

— Você está usando o meu perfume?

— O desodorante, sim — respondi confusa.

— A senhorita é muito insolente!

Eu não acreditava que ele iria fazer uma cena por causa disso. Primeiro o homem tenta me conquistar, se é que posso deduzir. E agora parece que me enxerga como uma alienígena.

— Prometo comprar outro para você — sugeri, abandonando o quarto.

Felizmente Gislene apareceu e me levou até a cozinha, onde a mesa já estava posta.

— O vestido ficou bonito — ela disse, pegando minhas botas e levando-a para fora. Sorri para Benedito, acomodando-me a mesa. Eu seria uma grande mentirosa se afirmasse que estava tranquila com a situação. Não havia tido contato com eles e quem poderia garantir que Guilherme mantivesse a boca fechada?

— Alfredo falou que é uma menina muito interessada — Benedito afirmou, enquanto o enteado aparecia com o rosto sisudo, tomando a cadeira ao meu lado.

— Faço meu melhor — respondi vagamente. Eu adorava ter o meu trabalho reconhecido — Além disso, ele tem muita paciência.

Benedito riu, enquanto Gislene colocava uma travessa de frango com creme de milho na mesa. O cheiro de comida caseira fazia minha boca salivar, era como se eu estivesse na fazenda Santa Glória.

— Podem se servir — ela falou, sentando-se.

Eu deveria me sentir tímida, mas no momento eu estava começando a gostar da ideia de imaginar que estava realmente em casa. Eles olhavam-me com hospitalidade, então sem rodeios servi-me, despreocupada.

Em Um GestoOnde histórias criam vida. Descubra agora