Décimo Terceiro Capítulo: Guilherme

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A turma enviada pela escola era composta de dezesseis alunos com idades entre quatro e seis anos. E ao contrário do dia anterior as atividades do grupo eram mais amenas, restringindo a exposição de filhotes.

— Tem um minuto, Guilherme? — Silas solicitou.

Minha mãe concordou, chamando a atenção das crianças para irem até a horta. Ainda não eram dez horas e a expressão do administrador não era das melhores. Não tinha a mínima ideia do que o estava atormentado, todavia, eu esperava que não fosse um pedido de demissão.

Eu realmente estava gostando do trabalho de Silas, pois não se importava com minhas exigências ou paciência rara.

— Qual o problema, rapaz? Tem cara de quem viu a morte da bezerra.

— Senão agirmos rápido — ele iniciou, gaguejando e empurrando os óculos — Encontrei essas notas esquecidas no fundo da gaveta, Guilherme. Não acho que o antigo administrador fosse seu fã.

— Não me espanto com isso, Silas.

— A fazenda tem dívidas, Guilherme, e não são poucas.

Franzi o cenho, desconfiado. Isso parecia uma grande mentira, eu tinha vistoriado cada canto do escritório, lido e relido os documentos, qualquer anotação. Sentei, o rosto escondido nas mãos, tentando me controlar. Perder a cabeça nesse momento seria uma besteira.

— Diz logo a sua opinião — exclamei, puxando as notas fiscais.

— Alguém usou seu nome e efetuou compras que nunca chegaram nesse destino. Por acaso assinou algo sem ler?

— Não.

— Antes de ser o responsável pela fazenda o antigo administrador já trabalhava aqui?

Confirmei, entendendo perfeitamente o ponto em questão. Nos dois anos que mantive afastado era dona Gislene a responsável e o infeliz tinha se aproveitado para me roubar. Inferno! Minha mente começava a aceitar o efeito da realidade; o planejamento caia por terra. Eu só não entendia o agente.

— Eu mato o Rubem!

— Não é hora para ameaças, Guilherme — semicerrei os olhos para Silas, mas ele se manteve neutro — Temos um problema a ser solucionado e no momento tem que conseguir uma negociação vantajosa com os credores.

— Como o banco não notificou?

— Você foi notificado, mas alguém fez questão de esconder todos os envelopes em seu nome — ele respondeu, sentando-se também — Consegui agendar uma reunião com o gerente para amanhã e pretendo entrar em contato com os demais credores. Devo alertar que nossa prioridade é o banco.

— Por que?

— A fazenda está na berlinda, Guilherme, você pode perder tudo e ainda responder judicialmente.

— Mas, nós podemos provar que as assinaturas foram falsificadas, nunca vi esses papéis em minha vida, Silas.

— Aconselho a procurar um bom advogado.

Com as más notícias segui à cidade, esperançoso em receber uma boa avaliação do advogado, embora eu soubesse que minha situação agravasse a cada segundo. Por que? Eu só queria ter a resposta sobre a conduta de Rubem. E mesmo que meu subconsciente incriminasse Monteiro, eu era obrigado a reconhecer que ele poderia fazer tudo, no entanto, me roubar jamais.

— Senhor Souza, acompanhe-me — a secretária disse gentilmente.

— Estou surpreso com esse reencontro, Guilherme.

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