Capítulo 4: Encantadora

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Acho que não pisquei uma vez sequer enquanto a admirava. Marinette começou a brincar com o enfeite em formato de guarda-chuva, girando-o pelo cabinho de madeira, o que fazia os desenhos na superfície se mesclarem num borrão colorido.

— Tá melhor? — perguntei.

— Sim, obrigada. Acho que... algumas pessoas têm essa mania de resenhar tudo o que veem pela frente. — Ela tentou fazer uma piada?

Engoli em seco.

— É — concordei. Com o quê exatamente, não fazia ideia.

— Escuta — ela começou a dizer, ainda brincando com o item de papel. — Preciso pegar seu telefone... pra... pra quando tiver outro evento. Se você quiser, no caso.

— Você que é a chefe, joaninha — respondi suavemente.

— Não posso obrigar ninguém a trabalhar pra mim... gatinho — ela pronunciou o apelido com deboche, mas o semblante era divertido.

— Digamos que eu esteja em suas mãos.

Ela me olhou com atenção.

— A noite foi um teste pra você também, Adrien. Você quer ficar na equipe? Ainda preciso de um sommelier e você é muito bom.

— Quero — respondi sem pensar duas vezes.

Marinette abriu a bolsa para buscar o celular. Então me passou o aparelho para que eu digitasse nome e número na agenda dela (de fato estava sem sinal de telefonia ou internet, tal como ela previu).

Salvei o contato como "Adrien Athanase" apenas, nada de "Adrien Agreste", como eu normalmente me apresentava. Minha família não era famosa, longe disto, mas a empresa de meu pai tinha uma reputação notável e eu não poderia arriscar que ela ligasse os pontos; que ela soubesse que eu era um desses ricos com quem ela não gostaria de fazer amizade.

Devolvi o telefone e passei as mãos pelos cabelos, disfarçando meu nervosismo.

— Depois entro em contato pra pegar seus dados, estou sem a ficha de cadastro aqui — ela proferiu.

— Tudo bem.

— Te aviso com antecedência quando tiver um novo evento. Acho que o próximo é só na semana que vem, tenho que conferir na agenda.

— Quando precisar, estarei disponível. Qualquer dia, qualquer hora. — Acho que pareci desesperado demais para vê-la outra vez. Quem pode me julgar?

Ela abriu a boca para falar algo, mas hesitou.

— Algum problema...?

— Meus pais também queriam uma ajuda na confeitaria. Seria só na parte da manhã, enquanto durarem as férias de verão. Estamos com muito movimento. Eu tentei dar conta... — A garota recolheu os lábios para dentro da boca e retornou com eles umedecidos.

— Você não está dando conta.

— Cada dia tem mais clientes. Não sei de onde está vindo tanto turista.

— Paris é a cidade mais romântica do mundo. E você faz os melhores macarons da região. Sua resposta é meio óbvia, joaninha — pronunciei com charme.

Ela simulou um sorriso.

— Se estiver interessado, posso falar com meus pais.

— Eu agradeço.

— Te dou um retorno assim que eu conseguir falar com eles.

— Certo. Obrigado, Marinette...

Nossos olhares se mantiveram presos um no outro por um tempo desmedido, mas que não foi nem um pouco desconfortável.

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