Capítulo 8: Febril

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(Marinette)

Adrien queria me torturar.

Mesmo com minha insistência em descobrir o que ele estava aprontando, ele não quis me antecipar o assunto. Combinamos de conversar no meu intervalo de almoço, então passei o restante da manhã me afundando na curiosidade.

Tenho certeza que ele não apenas notou meu descontentamento como se esforçou para me atiçar. Sempre que nossos olhares se cruzavam, ele sorria de forma inquieta e traiçoeira, fazendo meu coração fervilhar.

Por que ele tinha que ser tão... atrevido?

Luka já havia aparecido para entregar as quentinhas, mas eu não estava nada interessada em comer, então deixei a sacola intocada sobre a mesa. Adrien tampouco tinha pressa de ir embora e certamente estava sem fome; havia feito algumas visitas na cozinha e papai parecia mesmo disposto a engordá-lo.

— Desembucha — exigi assim que ficamos a sós na saleta.

— Quanta pressa, querida joaninha... — falou calmamente, pendurando o avental no cabideiro.

— Você ficou com esse sorrisinho aí a manhã toda — acusei em resmungo.

Ele fez questão de sorrir outra vez daquele jeito intrigante. Torci o nariz e a boca em resposta, fingindo estar aborrecida (se eu falasse algo, era bem capaz de gaguejar).

— Já reparou que sua confeitaria é incrivelmente romântica? — ele pronunciou.

Pisquei. Aquilo de fato me pegou desprevenida.

— O quê...? — perguntei.

— Existem duas pessoas aqui que estão claramente apaixonadas uma pela outra...

Ele se aproximou de onde eu estava, caminhando com a graça predadora de um felino. Meu coração passou a bombear tão rápido que seria mesmo útil caso eu precisasse correr no instante seguinte.

— Existem? — Minha voz saiu mais baixa e aguda que o normal.

Quando ele cessou os passos, estávamos frente a frente; tão perto que eu poderia jurar ser possível sentir o calor do corpo dele. Se Adrien queria me encurralar, estava fazendo um ótimo trabalho.

— Você conhece uma. E eu conheço a outra — ele seguiu.

— Eu...

Ele estava falando de nós dois? Adrien ergueu as sobrancelhas, como se lesse meus pensamentos, e eu senti minhas bochechas queimarem. Engoli em seco e pensei em dar um passo para trás, mas fiquei com medo de desmaiar.

— Nathaniel e Chloé? — ele perguntou em tom óbvio para confirmar o que eu (não) pensava.

Meu coração parou. Não sei se fiquei aliviada ou decepcionada, mas era fato que minha alma já tinha fugido para algum lugar bem longe do meu corpo. Talvez eu devesse voltar a respirar.

— Do que você está falando? — Apoiei minhas mãos na cintura, fingindo uma segurança que eu não tinha.

— Há quanto tempo aqueles dois se encontram aqui?

— Eles não se encontram — respondi.

— Eles vêm sempre na mesma hora.

— É verdade, mas até aí... nada. Eles só têm os mesmos hábitos.

Os mesmos hábitos incrivelmente bem cronometrados, era verdade... Mas eles nunca interagiram, Adrien estava louco. Ele inclinou a cabeça levemente para o lado, como se estivesse me estudando. Então ficou em silêncio por mais alguns segundos e coçou a bochecha.

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