13. Ataque à Fazenda

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Março de 1820 — Grécia — Karpenissi

Acordei com o barulho de pessoas conversando alto, parecia que estavam reclamando. Levantei-me enrolada no lençol, em algum momento na madrugada eu tinha tirado minhas roupas. Sentia minha cabeça pesada, com certeza era a ressaca pulsando e latejando. Abri a janela e o sol entrou, invadindo o meu quarto e aquecendo minha pele. Estava bem quente, deveria ser de tarde.

Troquei-me, ajeitei os cabelos e desci para saber o que estava acontecendo, se eu poderia ajudar de alguma maneira. Fui para a cozinha, porque não tinha ninguém na sala.

A cozinha era um cômodo grande com fogão a lenha queimando a todo vapor, armários e várias panelas espalhadas e uma mesa enorme ao centro. Tinha algumas pessoas preparando o almoço, e dona Despina estava um pouco nervosa, mas não deixava de sovar a massa de pão em cima da mesa.

— Oi, agápi mou (minha querida), você está precisando de alguma coisa? O almoço vai ser servido daqui a meia hora. — disse ela bondosa.

— Obrigada, dona Despina, vou tomar um suco. — falei sentando-me na cadeira de frente para ela.

Peguei a jarra e me servi, tomei uns goles do suco de laranja, e estava bem saboroso. Comi uns pedaços de queijo e pão que ela me trouxe.

— Eu notei que as pessoas estão agitadas e preocupadas. Está acontecendo alguma coisa? — perguntei não querendo parecer enxerida.

— Ah, querida! Saquearam umas fazendas ao norte daqui, tem algumas pessoas feridas e outras mortas. — disse ela triste.

— E quem fez essa maldade? — perguntei horrorizada.

— Ainda não sabemos. — respondeu ela aflita.

As pessoas foram chegando para o almoço, e dona Despina foi arrumar a mesa da sala de jantar, eu a ajudei a levar os pratos, talheres, copos. Todos se sentaram à mesa, e Dimitri chegou depois com o pai, tios, irmãos, primos e amigos. Eles estavam sérios e visivelmente preocupados. Assim que Dimitri me viu, ele veio em minha direção, pegou minha mão e deu um beijo.

— Está tudo bem, moça?

— Tudo bem e com você?

— Tudo bem.

Ele se sentou próximo a mim, e o almoço estava seguindo silencioso, até que começamos a ouvir as pessoas gritando fogo e pedindo ajuda.

— Senhoras, esperem aqui! — ordenou o senhor Haras levantando-se da mesa.

Todos os homens começaram a correr apressados e armados para fora da casa. As mulheres, idosos e crianças ficaram em silêncio, um olhando para o outro preocupado, à espera de algum sinal ou notícia. Dimitri voltou e estava bem sério com a testa franzida de preocupação. Ele olhou para todos nós e começou a dar ordens.

— Manus, vá ver se o depósito foi incendiado e vá chamar mais homens. Mixales, leve todos que estão aqui para o andar de cima e proteja-os, tranque as portas e só abra se eu mandar. — disse Dimitri apressado.

Ele me olhou e eu assenti com a cabeça, e fomos todos para o andar de cima e fizemos como nos foi ordenado, entramos no escritório, e Mixales desceu a madeira da porta para trancá-la. Todos estavam assustados e não sabiam o que fazer. As pessoas ali dentro estavam com medo. Fui até a janela e abri uma frestinha para ver lá fora, vi as pessoas correndo desesperadas carregando suas coisas. Vi alguns cavalos cavalgando rápido, e quando se aproximaram, pude ver os homens com o rosto coberto, montados. Eles estavam carregando armas e espadas.

Meu coração acelerou, comecei a procurar por Dimitri no meio daquelas pessoas, mas a nuvem de fumaça e poeira que se formou estava me impedindo de ver. Eu precisava fazer alguma coisa, não iria ficar ali parada sem fazer nada só observando! Nunca fui de me esconder e não seria agora! Fui abrindo a porta, mas Mixales me impediu.

Koúkla Mou - Livro 1 - A Viagem dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora