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-"você já falou com sua mãe?"

Aquelas palavras já foram suficientes para estragar meu jantar, obrigada pai.

-"o que você acha?"- o respondi antes de colocar a última garfada do ramen pronto que eu tinha comprado.

-"você tem que aprender a comer com hashi, filha"

-"meu deus, eu não posso fazer nada em paz aqui! nós acabamos de chegar e você já começou a encher meu saco"- eu disse levantando da mesa e colocando o potinho vazio dentro da pia, da forma mais agressiva possível.

-"filha!"- antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, eu sai pela porta da frente sem dar nenhuma explicação de onde estava indo. Até porque nem eu sabia.

Depois que meu pai tinha voltado do trabalho, eu e ele tínhamos discutido sobre minha relação com a mulher que me largou. Ele insistia que eu tinha que dar satisfações sobre minha nova vida, pois ela era minha 'mãe'.

Mãe é que cria com amor, não quem abandona a filha quando ela mais precisa.

"que ódio! pensei que depois de sair daquele país mudaria alguma coisa, mas aqui estou"

Estava andando pelas ruas daquela cidade do interior, sem direção alguma.

Eu poderia ser sequestrada ali mesmo?
Poderia.
Eu me importava?
Claro que não.

-"ei, você está bem?"- sentada na calçada de uma loja de conveniência aleatória, pude ouvir uma voz suave pelas minhas costas. Me virei rápido pelo susto, até por que se no Brasil alguém chega por trás desse jeito, é sequestro no certo, mas eu lembrei que estava no Japão.

Vi um certo garoto, um pouco mais alto que eu com um olhar de preocupação em minha direção.

-"você está bem?"- ele perguntou mais um vez, com a mão estendida para eu pegar.

-"hm, sim...quero dizer, não sei"- eu me levantei por mim mesma, deixando a mão do menino estendida lá, mas ele pareceu não se importar muito depois da minha ignorância.

-"me desculpe te assustar desse jeito, mas eu estava te vendo chorar sozinha... então pensei que poderia te ajudar de alguma maneira?"- só depois dele mencionar a palavra 'chorando', o que eu demorei uns segundos para raciocinar o que significava, eu coloquei meus dedos nas minhas bochechas para sentir elas molhadas.

"que estranho, eu não sou de chorar por coisas bobas"

-"ah, eu... só estou passando por umas coisas difíceis agora, me perdoe por te preocupar"- eu o respondi rápido, já pensando em como sair daquela situação vergonhosa, até por que ele era bem atrativo.

Ele tinha cabelos grisalhos para um platinado, e uma pintinha belezinha na maça do rosto.

-"oh, você não me preocupou nem um pouco!"- ele falou antes de abrir um sorriso que esquentou meu coração na hora.

-"além disso, me chamo Sugawara!"- falou enquanto esticava a mão para mim novamente, mas dessa vez eu apertei, o cumprimentando.

-"eu sou (s/n)"- eu disse de volta, agradeci naquela hora que já estava escuro pois ai ele não conseguiria ver o quão corada eu estava. Ficamos uns segundos nos olhando, nem percebendo o quanto estranho aquilo era.

-"ASAHI!!"- o susto que eu levei quando o garoto na minha frente gritou não estava escrito -"pode vir agora!"- ele soltou da minha mão, e quando menos percebi eu pude ver um menino bem mais alto com cabelo preso e barba saindo de um dos arbustos que decoravam a frente da loja.

-"tem certeza que ela não vai se assustar comigo?"- eu pude ouvir ele cochichar no ouvido de Sugawara, que na hora bateu em suas costas forte e sorriu como se ele batesse em seus amigos todo dia -"claro que não! ela parece assustada para você?" - ele respondeu o amigo alto o bastante para me fazer escutar.

𝐢 𝐰𝐚𝐧𝐧𝐚 𝐛𝐞 𝐲𝐨𝐮𝐫𝐬; kei tsukishimaOnde histórias criam vida. Descubra agora