Capítulo 17 - Don't look at me like that

162 29 9
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Respirei fundo, eu não esperava voltar para esse lugar tão cedo. Encarar a placa pintada a mão faz meu estomago revirar, foi a primeira vez que falei com ele, talvez na época, eu não deveria ter descido da bicicleta. Meu mundo tinha parado, ele era um dos garotos mais bonitos que eu já tinha visto e ele sempre vivia tão calado.

Eu tive que descer, minha mente implorava para eu dizer oi ou algo do tipo, esse sempre foi o meu jeito. Me sinto mal, eu não deveria ter o conhecido naquele ano, eu era muito sem noção, sem perspectivas e sem saber o quanto um coração pode sangrar.

Já Shinso, era uma das pessoas mais amarguradas e tristes que eu conheci, talvez seja por isso que eu o convidei para andar de bicicleta comigo, o chamei para o parque, o fiz rir e me apaixonei perdidamente. Nunca o contei de fato, alguns meses depois, ele estava com uma garota, ele a olhava com tanto prezo, tão apaixonado quanto eu estava por ele.

As pessoas não mandam no coração, simplesmente acontece, mas uma parte de mim ficou tão bravo, porque ele estava a beijando ao invés de mim, tocando sua pele e rindo tão alto quanto fazíamos. Queria que fossemos crianças para sempre, agora eu estou parado na frente da academia, não sei o que fazer.

Pensei em ir embora, dar meia volta e desistir dessa ideia maluca, sou mesmo um idiota, eu deveria ter ficado do seu lado, mas apenas fui embora e nunca mais voltei. Estou aqui para consertar as coisas, sei que aquele tempo não vai voltar, as lágrimas ainda desceram e nós dois gritamos por horas, mas dessa vez eu vou fazer tudo certo.

A porta se abriu antes de eu mesmo a tocar, está escuro, mas sei que Shinso está me encarando, a luz amarelada dos postes está iluminando seu rosto, destacando todos os seus traços bonitos. Parece tão confuso, perplexo, eu sei o que parece, mas não estou aqui para brigar.

– O que está fazendo aqui?

– Resolvi vim te dar um oi.

– Isso é muito incomum, até mesmo para você.

– Eu sei.

Ficamos um tempo em silêncio, estou com medo de abrir a boca e estragar tudo de novo. Eu sei, estou sendo inconveniente, o irritando e o enojando, mas não consigo evitar, algo nele ainda me puxa de volta, como um buraco negro, um bem mais roxo do que preto.

Me afastei quando percebi que estava parado muito tempo, perto o suficiente para sentir seu perfume e notar que seu rosto era bem mais marcado do que o meu. Ele mudou muito com esses poucos anos, seu estilo de roupa, seu jeito de falar, até mesmo pintou os cabelo de roxo, antes era castanho.

– Vamos conversar aqui no banco – Apontou para o objeto um pouco longe da porta, acenei com a cabeça, sem saber ao certo como reagir.

Quando me sentei na madeira velha, tudo pareceu pesar, preciso ser sincero com ele, isso está me assustando muito. Ele ao menos entenderia? Daria meia volta e iria embora assim como eu fiz? Não sei, mas se Shinso precisar sair da minha vida, espero que ele fique bem.

– O que você quer? Já faz bastante tempo desde que conversamos.

– Acho que quero pedir desculpas, eu fui um idiota.

– É, foi mesmo – Sua voz saiu tão seca que eu quis chorar, uma parte de mim sussurra que a culpa não foi minha, que eu era apenas um criança, mas sei que essa parte está errada.

– Achei que não precisava mais de mim, então me afastei.

– Você fugiu, bem quando as coisas estavam desmoronando.

– Na época eu não sabia! – O encarei bravo, como eu poderia saber de algo que ele nunca havia me contado? Descobri depois de algum tempo, na escola – Você tinha arranjado uma namorada e eu me senti descartado.

– Denki, você era meu primeiro e único melhor amigo, eu passava mais tempo contigo do que com ela.

– Era tudo sobre ela! Eu a odiava, a odiava muito e comecei a te odiar também, porque tudo o que você falava era como uma garota perfeita apareceu na sua vida! – Meus olhos ardem, estou de pé, o encarando com fúria, mal percebi quando a conversa chegou nesse ponto, me sinto zonzo e cansado.

– Por que você me ignorou depois? Por que não voltou a conversar comigo depois que ela foi embora?

– Como eu poderia? – Aquela era uma pergunta muito idiota, mais idiota do que as que eu costumo fazer, mas o jeito que ele me encarou, foi horrível – Não me olhe assim.


* *


Observei a janela, era fim da tarde, quero chorar, tudo o que aconteceu naquele dia voltando na minha mente, mas não vou desabar, não hoje, ando muito ocupado para isso. As férias acabaram de chegar, quero trabalhar dobrado, logo eu preciso tentar entrar na faculdade e se eu não conseguir uma bolsa igual eu tinha na UA vou ter que pagar.

Isso está tirando minhas noites de sono, não sei como vou conseguir passar por tudo isso sozinho, sinto que não tenho ninguém. Virei um estranho para os meus amigos, nesse ponto da história, eles devem achar que virei um traficante.

Sei que não me perguntam nada porque não querem ser intrometidos, ou talvez seja pelo o que aconteceu naquele sábado, no dia em que eu perdi a cabeça e gritei com todos eles. Se eu pudesse voltar no tempo, eu teria ficado quieto, eu não teria falado todas aquelas coisas horríveis com a desculpa de estar passando por um momento ruim.

Agora são só lembranças, um recado do que eu não posso fazer e de como eu não quero ser. Se for para cair, quero cair como eu mesmo, o garoto sorridente e animado que é medroso o tempo todo, mas sempre mergulha nas coisas de cabeça. Não estou mais achando essa parte minha, acho que me despedaçaram ao ponto de eu não achar mais meus pedaços, de eu não conseguir me costurar.

Meus pés se arrastam pelo azulejo, preciso me vestir para o trabalho, minhas roupas estão limpas, mas o cheiro do amaciante é tão neutro, me enoja. Sinto que estou vivendo na casa de outra pessoa, isto não se parece um lar para mim, pelo menos tenho um teto sobre a minha cabeça.

Está absurdamente quente, era de se esperar, o verão desse ano está pior do que o último, sei que o próximo vai ser mais terrível ainda, espero conseguir comprar um ar-condicionado até lá. Tranco a porta e coloco meu tênis, é meio doloroso ficar com ele nesse calor, mas é o requisito para o emprego.

Meu cabelo está preso hoje, não gosto de usar ele assim, me sinto ridículo, acho que está na hora de corta-lo, um pouco mais acima do ombro. No caminho para a lanchonete, não consigo evitar de olhar o pôr do sol, é uma mistura muito bonita, o rosa e o amarelo se juntando para fazer um degrade com o azul.


Estou cansado, mas vou continuar enfrentando um dia de cada vez, preciso fazer isso pelas pessoas que amo e que acreditaram em mim, não posso simplesmente jogar tudo no ar.

End of the SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora