Eu o renego

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A noite fresca chegou para todos, o coração de Bambam parecia sair pela boca. Estava tomando uma iniciativa a qual não teria mais volta, então deveria estar muito certo da escolha que estava tomando. A dúvida tomou seus pensamentos por breve instantes quando saiu da casa de sua família de fininho, mas quando viu aquele sorriso lindo que o acalmava em tempos de crise, percebeu que a escolha que estava tomando era a coisa certa a se fazer.
Os dois juntos saíram sem nem ao menos olhar para trás, correndo para o alto da montanha, deixando o lado lobo aparecer um pouco mais, os ajudando na corrida. Ao chegarem na vila dos Kim, resolveram dar a volta por ela, para evitar de serem vistos.
— Seria mais fácil fazer isso na neve, dificultaria eles de nos verem — declarou Mark, sussurrando baixo enquanto mudavam um pouco a rota, pois não queriam ser pegos pelos vigilantes da alcateia Kim.
— Correr na neve seria extremamente cansativo, acho que tudo correu no tempo certo — disse Bambam, recebendo um sorriso fraco de seu amado que concordou com a cabeça.
Logo começaram a correr apressados para o caminho que haviam decorado tempos atrás, mas o coração de ambos deram uma leve falhada quando perceberam que alguém encapuzado corria atrás deles.
— Bambam! — falou Mark, apavorado com a ideia de serem pegos.
— Só continua, Mark, só continua! — disse, segurando a mão de seu amado, entrelaçando seus dedos e continuando a correr, agora no mesmo ritmo.
De repente, o alfa que corria atrás dos dois desapareceu, mas quando foram respirar aliviados, alguém pulou em sua frente fazendo os dois caírem sobre o chão de terra.
— Meu Deus! Isso tudo é medo de serem pegos? — questionou Namjoon, rindo enquanto tirava o capuz.
— Desgraçado! — disse Bambam, se levantando e ajudando Mark a se levantar também. — Achamos que havíamos sido descobertos.
— Do jeito que vocês correm alto, não me admiraria se fossem pegos — declarou Jungkook logo atrás do casal, os fazendo tomar outro susto. — Boa madrugada, casal fujão!
— Nada contra, mas porque nos matar do coração desse jeito? — questionou Mark, colocando a mão sobre o peito, respirando ofegante.
— Pedi para Jungkook pegar a vigília da noite, assim poderíamos cuidar de vocês casos fossem pegos por alguém e, bom, eu vim só para garantir que vocês iriam chegar em segurança até o local — disse Namjoon. — Mas a gente viu vocês correndo tão apressados que não podíamos perder a oportunidade de dar um leve susto e boas-vindas.
— Normalmente as pessoas dão presentes, não ataques cardíacos — declarou Mark, fazendo todos rirem brevemente. — Nossas coisas realmente já estão lá?
— Estão sim, só não arrumamos porque ficamos com preguiça, então a parte da organização fica para vocês dois — falou o Kim. — E aí? Podemos prosseguir?
— De preferência correndo do nosso lado e não atrás da gente, por favor — disse Bambam, rindo fraco.
Os quatros correram rumo à cabana que ficava do outro lado da montanha. Para Jungkook e Namjoon, a recompensa de todo o esforço para ajeitarem o local aconteceu quando viram o sorriso do casal, que tinha um misto de felicidade e liberdade. Mas no olhar dos dois ficava evidente o amor que sentiam um pelo outro.
A consequência do que haviam feito veio pela manhã, quando Lalisa estava encolhida em sua cama, coberta pelos lençóis, ouvindo os passos fortes de seu pai pela casa, abrindo cada porta, à procura de algo, mas ela sabia que era por alguém.
Não encontrando o que queria dentro de casa, tratou de sair à procura de Bambam. Foi naquele momento que Lisa achou melhor se levantar e se arrumar para o dia longo que teria que enfrentar, só esperava ver Namjoon logo, pois ele lhe dava o apoio a qual ela precisava para enfrentar seus medos.
Ao descer até a cozinha, ouviu seu pai retornar com mais alguns alfas, pararem na sala e planejarem um plano de busca, para encontrarem Bambam.
— O que está havendo, pai? — questionou ao entrar no cômodo, sendo encarada por todos.
— Você, por acaso, viu o seu irmão, Lalisa? — perguntou seu pai em um tom preocupado e arrogante, vendo ela negar com a cabeça calmamente. — Achamos que Bambam foi levado por inimigos, estamos trajando uma ideia para ir em busca dele.
— Por inimigos? — questionou, segurando para não rir. — Já viram se ele foi o único levado de toda a vila?
— Eu já avisei Jisung, ele disse que já fez a contagem na vila dele e ninguém de lá foi levado, estamos fazendo daqui também e aparentemente mais ninguém sumiu — declarou em um tom firme.
— Já perguntaram para o Mark? Ele e o Bambam sempre estão juntos, deve saber de alguma coisa — disse, vendo seu pai pensar sobre o assunto.
— Já demos o alerta que o Bambam sumiu, era para Mark estar aqui ajudando. Alguém o viu? — questionou, vendo os outros alfas negarem com a cabeça, — Ok, vocês dois vão até a casa dos Tuan, verifiquem se ele sabe de alguma coisa e o convoque para ajudar, o resto retorna para o plano de busca do meu filho.
Lalisa achou melhor deixar todos perdendo seu tempo, então saiu de casa, andando pelas ruas, pensando até quando seu pai iria ficar se enganando daquele jeito. Ele sabia que Bambam não queria ser um líder, e de resto era só juntar alguns pontos, mas sua mente fechada jamais permitiria algo do tipo.
Logo avistou Jisung descendo da montanha, acompanhado de Namjoon e Seokjin, que se aproximavam da alcateia do rio.
— Senhorita Manoban, bom dia. Como está? — declarou o senhor Kim, fazendo uma breve reverência, acompanhado de seus filhos.
— Bom dia, Senhor Kim, Seokjin, Namjoon — disse sorrindo fraco antes de retornar o olhar para o líder em sua frente. — Bem, na medida do possível, e o senhor?
Precisava disfarçar, afinal, para todos, seu irmão havia sido levado por uma alcateia rival, não era motivo para estar totalmente bem, então tinha que pensar sobre as respostas que daria daqui para frente.
— Igualmente. Pode nos dizer onde seu pai se encontra? Provavelmente muito abalado — comentou um pouco preocupado com o amigo de longa data.
— Ele está em nossa casa, se o senhor for rápido irá o encontrar, pois ele está muito agitado perante à situação, a qualquer momento pode sair à procura do meu irmão — disse calmamente.
— Compreendo, obrigado. Vamos! — falou, sendo acompanhado pelo seu filho mais velho, já Namjoon não quis acompanhar seu pai.
— Lisa, como você está? — perguntou preocupado, se aproximando da ômega.
— Acha que vai demorar muito para ele se tocar que o Bambam e o Mark fugiram juntos e não que foram levados por inimigos? — questionou, encarando o alfa.
— Eu não sei, mas uma coisa é certa: quando ele se tocar disso, vai vir atrás de você, e isso que me preocupa. Ele vai querer tirar informações suas — disse em um tom baixo, vendo a garota concordar brevemente com a cabeça. — Não deixa ele te abalar, Lisa, não vou sair de perto de você.
— Obrigada — agradeceu baixinho, abraçando o alfa, que se surpreendeu com o ato, mas correspondeu, ficando confortável com o contato que estava tendo.
Namjoon nunca foi um tipo de pessoa afetuosa, não queria se casar e muito menos se envolver com alguém, acreditava que poderia muito bem viver sozinho, e realmente podia, mas nem tudo saía como o planejado, já que a garota de respostas afiadas não saía de sua cabeça.
Quando o dia deu adeus e a noite retornou, Lalisa se preocupou ao perceber que seu pai já estava perdendo a paciência, e normalmente era ela que sofria a consequência.
—  Eu acho engraçado é que, de todos os nossos aliados, ninguém havia sequer visto uma movimentação suspeita ou coisa do tipo — comentou o alfa, sentado na mesa da cozinha, tendo sua filha na cadeira à sua frente. —  Normalmente, quando os inimigos atacam, eles deixam claros seus interesses, não sentimos cheiros de alfas estrangeiros em nosso território.
— O que quer dizer, pai? — questionou preocupada com o rumo que aquela conversa poderia ter.
— Eu quero dizer que espero que seu irmão não tenha simplesmente fugido com o amigo, para escapar das responsabilidades as quais estão destinadas a ele — disse em um tom mais sério.
— Acha que esse é o caso?
— Não se faça de idiota, Lalisa, se o seu irmão fugiu, você deve saber para onde ele foi — declarou encarando a ômega seriamente, vendo a mesma abaixar a cabeça um pouco intimidada pelo rumo da conversa. — Se você fez isso, Lisa, eu te expulso dessa alcateia!
— Acha que eu fiz o quê, pai? Incentivei meu irmão a fugir de algo que ele não queria para ocupar o lugar dele? — questionou, se levantando, apoiando suas mãos na mesa, encarando seu pai seriamente.
O homem, revoltado pelo tom de voz e postura da filha, se levantou, ficando na mesma posição que ela, não deixando ser intimidado.
— Lalisa, escuta o que eu estou te dizendo: se Bambam fugiu, isso não significa que eu deixarei você ser a líder desta alcateia tão facilmente só porque você é minha filha — disse em um tom alto, quase gritando. — Não te acho competente para essa função, então desista dela! Pois só por cima do meu cadáver você irá liderar a minha alcateia!
— O que vai fazer? Se casar de novo? Ter outro filho e torcer para não morrer antes dele completar vinte anos e poder governar a sua alcateia? — questionou de forma arrogante. — Se for fazer isso, eu espero que não  faça o outro fugir igual desgraçou a vida do meu irmão!
— Então realmente Bambam fugiu do título? — perguntou, em seu olhar era nítida a decepção que o inundava.
— Ele fugiu de você, pai! — gritou, encarando o  alfa em sua frente, que deixou seu corpo cair sobre a cadeira, totalmente desapontado. — O senhor foi incapaz de questionar se ele queria liderar, e se tivesse se preocupado em perguntar, saberia que a resposta era não! Mas ao invés disso, ficou empurrando casamentos a goela abaixo dele, atormentando seus dias com lições as quais ele não tinha um pingo de interesse, enquanto eu estive aqui na sua sombra, tentando adquirir o mínimo de conhecimento possível para cumprir o papel que sempre desejei, ao contrário do meu irmão!
O alfa passou as mãos pelos cabelos, enquanto as lágrimas dolorosas deslizavam pelo seu rosto, entristecido por ter perdido seu primogênito, seu filho favorito havia fugido de si, não querendo liderar aquilo a qual ele cuidava com a maior dedicação.
Ele havia ficado alguns minutos em silêncio, Lalisa jamais havia visto seu pai chorar e se perguntou se fosse ela a qual havia fugido, ele também choraria por ela. Mesmo já imaginando o que aconteceria, ele provavelmente não se importaria.
— Amanhã iremos selecionar alfas para serem treinados para a liderança de nossa alcateia — disse se levantando, enxugando suas lágrimas. — Não irei ficar sem um líder.
— Eu sou uma líder, eu sei tudo que preciso saber para cumprir as exigências do cargo com perfeição! — falou, encarando o mais velho, o seguindo pela casa.
— Você é fraca, Lalisa! E eu já disse que não, inferno! Meu dia já foi difícil, eu já perdi um filho, não me decepcione também — declarou, subindo para seu quarto, deixando a ômega totalmente cabisbaixa na sala.
Mas Lalisa daria um jeito de todos os alfas falharem em suas missões até que ela fosse a única escolha sábia de seu pai teimoso, ela não iria desistir tão facilmente daquilo que nasceu para fazer.
A noite na tribo da montanha ficou mais fria do que o normal, o que fez Youngjae se preocupar com Jaebeom novamente, pegando um cobertor um pouco mais quente para o estrangeiro.
— Por que você só aparece de noite? — questionou o ômega, um pouco sonolento, sentindo o alfa o cobrir.
— Você parece o tipo de ômega que tem a língua muito afiada, mais do que os normais, e eu sou o tipo de alfa um pouco mais sensível do que os outros. Cuidar de você dormindo me previne de levar patadas e assim continuar encantado por você — disse em um tom risonho, enquanto ajeitava o cobertor sobre o corpo do rapaz de cabelos pretos.
— Às vezes é necessário ser um pouco mais sério do que os outros esperam, mas eu estou sozinho e eu sinto que você é a única pessoa que não vai me deixar — sussurrou, encarando os olhos claros do alfa, que sorriu gentil com o comentário.
— Eu não sei porque, mas me sinto incapaz de te deixar sozinho, Jaebeom. Então não precisa ser tão áspero com todos, Jisung só quer te ajudar e te acolher, ele sente muito por tudo que vocês todos passaram — falou em um tom baixo, se sentando em uma cadeira bem próximo da cama do ômega, segurando sua mão para lhe passar afeto.
— Como o Jungkook veio parar aqui? — questionou baixinho.
— Ninguém sabe. O que sabemos é que ele estava praticamente morto, todo ferido e enterrado por um pouco de neve no começo da montanha. Taehyung, o filho de Jisung, que o encontrou e tentou trazer ele para cá, só que o Jungkook era muito pesado, então ele correu a montanha toda e chegou quase desmaiando de exaustão apenas para que pudessem ajudar o alfa que ele havia encontrado — disse, acariciando a mão do ômega. — Quando trouxeram ele, Taehy ficou cuidando de cada ferimento, e aos poucos foram se aproximando, mas de acordo com a Hyuna, outra filha do Kim, foi nítido o que aconteceria com eles desde a primeira troca de olhares. Ela disse que o Jungkook pareceu esquecer da dor que sentia quando abriu os olhos e viu o Taehy... seja lá o que eles possuem, é algo bem bonito.
— Você deseja ter isso com alguém? — questionou baixinho, vendo o alfa lhe lançar um sorriso tão lindo que o fez sorrir também.
— Eu não tenho pressa de esperar para acontecer no tempo certo — sussurrou, deixando um selar sobre a testa do ômega. — Deveria dormir um pouco, Jaebeom.
Antes de se levantar, o ômega segurou sua mão, o impedindo de se afastar, o que surpreendeu o alfa.
— Peça para o Jisung vir me ver amanhã de manhã, quero conversar com ele — disse, vendo o alfa novamente sorrir e concordar com a cabeça.
A manhã novamente chegou e Jisung recebeu o recado, achando melhor não comunicar Taehyung e o encher de esperanças. Se dirigiu sozinho para a ala de cuidados, se deparando com o ômega já sentado sobre a cama, tomando uma sopa quentinha e muito bem preparada  para ajudá-lo a recuperar seu peso.
— Bom dia, Jaebeom, como está? Soube que queria conversar comigo — questionou, se sentando próximo ao ômega, que concordou com a cabeça suavemente.
— Bom dia, senhor Jisung. Eu estou melhorando e queria esclarecer algumas coisas, para libertar todos de um passado horrendo — disse em um tom calmo.
— Pois então, pode dizer, estou ansioso para ouvir o que você tem para me contar — declarou.
— Jungkook e eu nunca tivemos um relacionamento, nada físico, sequer nos abraçamos. Minha família e a dele eram bem próximas e parecia uma boa aliança para a minha, eu me casar com o futuro líder. Eu era apaixonado por um alfa a qual cresci brincando com ele; infelizmente, em uma das caçadas, ele acabou se ferindo gravemente e não resistindo — disse abaixando a cabeça.
— Eu sinto muito, Jaebeom — sussurrou.
— Ninguém sabia do que nós tínhamos, mas eu jurei para ele que não seguiria em frente e realmente nunca quis seguir, por isso reneguei Jungkook de todas as maneiras que pude. Ele sempre foi extremamente respeitoso, mas focado em suas missões como futuro líder, teria sido um ótimo para nossa alcateia se tudo aquilo não tivesse acontecido — declarou, suspirando pesado. — Quando nosso lar foi atacado, nós dois iríamos nos casar e eu já estava planejando fugir do casamento, só que com o ataque isso não foi preciso.
— Você nunca teve nenhum afeto pelo Jungkook? — questionou Jisung.
— Nunca, o único sentimento que tive por ele era raiva, pois ele adorava imitar os outros para irritá-los, e eu não gostava nem um pouco disso — disse, rindo fraco. — Mas meus pais o adoravam e confiavam muito que ele iria cuidar de mim. Por isso que, quando o ataque aconteceu e meu pai foi levado, minha mãe me pediu para procurar Jungkook e não sair do lado dele, pois ele iria cuidar de mim e não deixar que nada de mal me acontecesse.
— Por isso que, quando chegou, estava chamando por ele? — perguntou, vendo o ômega concordar com a cabeça.
— Não era por motivos amorosos e sim de proteção. Eu ainda estou com muito medo de ser jogado para morrer na mata novamente, mas o senhor me parece uma boa pessoa que não irá fazer isso, mesmo eu sendo ex-noivo do provável noivo do seu filho — disse baixinho, o que fez Jisung rir.
— Você será um de nós, Jaebeom, não precisa se preocupar quanto a isso, será muito bem cuidado e poderá viver conosco, se assim desejar — falou, tentando tranquilizar o ômega.
— Obrigado. Na nossa antiga alcateia, quando um dos parceiros queria desfazer o compromisso que tinha, deveria falar três vezes: "Eu o renego, eu o renego, eu o renego", para o nosso líder. Eu jamais pude fazer isso, pois o líder era meu sogro — disse, se aproximando um pouco mais de Jisung. — Mas agora eu posso. Eu o renego, eu o renego, eu o renego — declarou, abaixando a cabeça e depois a levantando. — Isso significa que Jungkook não tem mais nenhum laço comigo e está livre para viver o amor que tem com o seu filho.
— Agradeço, Jaebeom, terá toda a proteção necessária em nossa alcateia. Sou grato por deixar meu filho viver ao lado de quem ele escolheu — disse, se aproximando e abraçando brevemente o ômega. — Iremos tratar da sua dor, Jae.
— Eu sei, e eu já sinto isso, Jisung — declarou, sorrindo aliviado por ter se libertado do passado.

SNOW  ( Taekook/ Vkook  ABO) Onde histórias criam vida. Descubra agora