Capítulo 9 - Cruzando a linha amarela

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            Após todo aquele alvoroço da apresentação, é bem justo toda esta recepção especial nos bastidores. Ao sair do estúdio de gravação, somos conduzidos pelo mesmo corredor, na verdade, já conseguimos caminhar por ali e achar os mais variados lugares. Ashley passa o braço no meu e deita a cabeça em meu ombro ao caminhar:

            - Estou apaixonada. Como proceder?

            - Caindo na real. – Gargalho.

            Sinceramente, eu adoro jeito como Ashley consegue ser engraçada e me faz sentir alegria. Paul caminha ao nosso lado e parece responder algumas mensagens no celular. O camarim já estava bem à nossa frente e a entrada já não parecia mais com a qual deixamos ao sair. Haviam no mínimo umas cinco pessoas ali. Chegando mais perto, eu constato que não são apenas pessoas, são repórteres. Ashley desgruda de meu braço e mantém a postura ereta. Quando ouvi falar de uma recepção, deveria ter ligado os pontos e deveria ter imaginado que se tratava de algo assim. Chegando na porta, ficamos atrás de todos eles e observo Robert acuado e respondendo um imenso questionário. Cruzo meus braços e o encaro falar:

            - Os Works vão ocorrer em duas semanas. Tudo já está planejado. Devo dizer que nunca viram algo como este musical, nem mesmo algo meu.

            - E como achou o Theodore? Ele me parece muito bom. – Um repórter baixinho e com o gravador, pergunta.

            - Bem, ele apareceu no meu teatro, assim como, qualquer outro. E da vontade de soca-lo, veio a surpresa de uma voz absolutamente esmagadora. – E então ele me nota atrás dos repórteres. – É uma voz que eu sabia que se eu perdesse ali, certamente ia achar abrigo num dos muitos teatros dessa Broadway. Meu melhor negócio. – Ele olha-me fixamente, até que uma repórter se vira. Já era.

            Dou um passo para trás ao ver todos aqueles apetrechos jornalísticos me cercarem rapidamente. São como formigas diante do doce.

            - Sr. Grey, Theodore, uma palavra para o Times. – As várias vozes se misturam em meio ao lugar.

            Não sei muito bem o que dizer, mesmo que ainda exiba um sorriso em meio ao susto. Junto as mãos e digo:

            - Claro, mas falem devagar.

            - Você tem um jeito tão aparentemente meigo, Sr. Grey. Como acha que foi selecionado para o papel? – Um repórter loiro pergunta.

            - A vida é um desafio, ou talvez dois, mas eu aceito três. Estou só esperando o que vem por aí. – Digo animado.

            Um microfone quase causa uma batida em meu rosto, quando assim viro para a direita:

            - Theodore, pode nos revelar mais algo do enredo? – O homem baixinho quem pergunta.

            - Posso revelar que me batem se eu contar. – Não sei ao certo, no entanto, olho para Robert ao responder isso. Parado da porta, ele apenas expressa algo que não sei decifrar. – Mas sendo sério agora, é um bom encontro do antigo e do novo.

            Cruzo os braços e tento absorver toda a situação. Como isso é novo. Nunca acostumei a estar no meio de tantas pessoas, mesmo quando meus pais davam aquelas festas enormes e cheias de classe. Não era surpresa achar-me em meio aos livros da biblioteca. Agora eu estava do outro lado do espelho, como Alice esteve em seu conto. Recebo mais uma pergunta:

            - O que diria para os seus pais, digo, o que diria sobre o que eles devem esperar?

            Parece que tudo agora cairá nessa parte, sinto que não tem escapatória e que por mais que eu queira afastá-los das coisas, nada vai mudar. Vou precisar aprender a lidar até mesmo com o que me faz mal, inclusive as lembranças. Com a maior naturalidade, viro-me e digo ao repórter:

A Cor VibranteOnde histórias criam vida. Descubra agora