Capítulo 5 - Marianne Kendall

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                A ficha ainda não caiu, mesmo tendo este roteiro em mãos. Deitado em minha cama observo o teto e seguro o grande bloco de folhas com as mãos. Passaram-se quarenta e duas horas desde toda aquela reviravolta. Por mais que eu tenha acostumado com toda solidão, sinto a falta de alguém a que pudesse contar ou partilhar todo este momento, ao menos. Não é a única coisa que penso, já que saber que eu daria vida a quase todo aquele musical era tenebroso. Como dito por Robert, ele não fazia musicais comportados, e eu estou tendo a prova disso com base nos roteiros e cenas fortes lidas.

            O musical em grande parte, mostra cenas que se apresentam com cunho forte, porém muito bem desenvolvidas e isto fica claro, a partir da leitura de determinados diálogos. Apesar de ter um grande material para avaliar, seguro o celular nas mãos e tenho a vontade estranha de ligar ao menos para minha avó, me retraio. Não posso, nenhuma relação, é assim que deve ser. Começo a passar a longa lista de contatos do celular e neste movimento posso ver a quantidade reduzida de números que eu agora possuía. Uns eu apagara por conta própria, outros a vida apagou. Em meio as muitas vezes nas quais retorno ao início da lista, eis que um nome faz questão de destacar-se ali. Conrad.

            Um nome é capaz de abrir ou fechar todas as lembranças, por mais individuais que elas possam ser. Eu e Conrado temos algo inacabado, nunca finalizamos nada, e eu duvido que tenhamos de fato começado. Passo tranquilamente o dedo pela tela, seleciono a opção ligar. O telefone chama três vezes sem que alguém atenda, e querendo desligar e esquecer aquilo, logo sou impedido ao chamar da quarta vez, quando uma voz atende:

            - Alô!?

            - Conrad? – Pergunto, estranhando a voz.

            - Ah não, não é ele. Ele está na cozinha preparando o jantar. – Diz a voz que reconheço como masculina.

            - Sai, palhaço. Não era para ter atendido. – A voz muda, dando-me sinal que agora era quem eu procurava. – Alô!?

            - Hey... É o Teddy. – Digo de maneira calma.

            - Teddy? Nossa, estava sumido, hein? – O tom dele é de surpresa.

            - É, eu sei disso. Na verdade sei que tenho estado afastado, mas não foi só com você. Não falo com minha família também, e você precisa saber de uma coisa que aconteceu. Vai achar louco e... – Em meio a forma entusiasmada que eu agora tomava ao dizer aquelas palavras, senti um pigarreio do outro lado da linha.

            - É, Teddy... Eu estou um pouco ocupado agora. Será que poderia me ligar mais tarde?

            Neste momento escuto uma voz ao longe:

            - Ei, Com, vem logo. Estou abrindo outra garrafa de vinho, e cama fria não serve.

            - Oh, Conrad. Me desculpe, não queria atrapalhar. – Minha voz muda totalmente, indo de um entusiasmo até uma serenidade diferente.

            - Mas e aí, vai me ligar mesmo mais tarde? – Ele pergunta, talvez na tentativa de sentir-se melhor.

            - Eu não sei, mas me desculpe. Desculpe mesmo. – Desligo antes que ele possa dizer algo.

            Ao desligar o telefone, seguro o mesmo em minhas mãos a olhar para a grande janela que encontra-se fronte à minha cama na qual estou. Minha cabeça gira um pouco e tento processor tudo aquilo. É difícil conseguir concluir e tirar a pior conclusão do que acabara de acontecer. No entanto eu sei o que houve, da mesma forma que sei o que significava. É como se você tivesse uma única moeda no cassino, aquela que você deixa sobrar ao perder todas as outras. E agora percebe que ela também foi perdida.

A Cor VibranteOnde histórias criam vida. Descubra agora