Capítulo 28 - Depressão

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  Eu não sei se são horas, dias, meses. Me puseram numa cama, num quarto. A enfermeira me falou que não doeria, quando colocou aquela agulha cravada em mim. O soro. Não como, não consigo o fazer. Procuro de onde vem as lágrimas, porque elas não cessam, elas não param. Eu só sinto que gostaria de não existir mais, está doendo tanto. Não, não a agulha, o coração. Encolho-me na cama e fito o vazio. Não mais uso a roupa de médico, do contrário, uma de paciente. Devem ter trocado. Eu desmaiei? Não lembro.

            Estou imerso num mundo paralelo dentro da minha mente. Tudo que sei e que consigo é chorar. Penny não, ela era minha família. Quando seu pequeno coração parou de bater, lembro de ter corrido, gritado por ajuda. Eu estava em meu pior estado. Eles me injetaram algo, o sono veio depois.

            Tantas vezes entram em meu quarto com bandejas de comigo, nada faz efeito. O pouco que como, não é o suficiente para ficar em meu estômago e é posto para fora. Levaram o seu corpinho, não me deixaram dizer adeus. E eu preciso ver ela, porque ela vai acordar. É apenas eu chamar.

            Observo o nada, enquanto olho fixo para um ponto na porta e me encolho na cama enquanto as lágrimas se vão. A mesma se abre lentamente e vejo um vulto entrar por ela. Robert senta-se de frente minha cama e fita meus olhos, está tão triste quanto eu. Ele dá um beijinho na palma da minha mão:

            - Você precisa reagir disso, meu amor. Precisa levantar por ela.

            Pisco uma ou duas vezes e não digo nada. O silêncio tornou-se a minha resposta para o mundo nesse momento. Não é um luto, é a certeza da perda de uma parte minha, por ventura, a mais importante dela. Ele continua a me afagar as mãos:

            - Precisa comer um pouco. Teddy, meu amor, fala algo para mim. — Ele parece implorar. Sempre quis saber a minha música favorita, e ela é o som da sua voz. Não importa o que você cante.

            Nem mesmo aquilo amolece algo em mim, porque a expressão de dor continua no rosto. Catatônico, paralisado, é assim que fico. Encolho-me mais na cama, e Robert levanta da cadeira. Com cuidado ele ergue o cobertor e coloca-o a me cobrir todo, tendo cuidado para não machucar o soro.

            - Eu mesmo cuidei do memorial dela. Os médicos não quiseram que demorasse, não queria que tudo fosse mais doloroso. A doutora Rose me permitiu. Ela teve uma partida linda.

            Minha cabeça fica contra o travesseiro e ouço as palavras de Robert. Aperto o objeto estofado ao máximo que posso e meus lábios tremem quando o choro fica mais forte ao ouvir sobre partida, sobre memorial. Estão me dizendo que ela realmente se foi. Começo a soluçar. Trêmulo seguro o cobertor e Robert fica me observando. Ele ainda fala seus encorajamentos, porém não os ouço.

            - Eu preciso da minha Rainha. — Digo fracamente.

            Balanço corpo para a frente e para trás, sinto-me um pouco sem ar.

            - Me dói tanto ver você assim. — Robert deita na cama. — Foda-se as regras desse hospital.

            Ele me abraça por trás.

            - Ela estava feliz, Teddy. Tenha certeza disso. Há algum tempo eu tento entender a essência das coisas, e Penny é a confirmação do que eu sempre pensei sobre a vida. Uma estrela precisa morrer para que outra possa brilhar mais forte. Você. — Ele beija meus cabelos.

            - Ele não vai mais voltar, nunca mais. — Digo com choro na voz e ainda olhando para o além, sentindo os braços fortes de Robert.

A Cor VibranteOnde histórias criam vida. Descubra agora