Capítulo 3 - A garotinha Penny

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                Seguro o caderno no colo e olho para o céu. Limpo e com o crepúsculo a dar-se em sua extensão. Os turnos de aulas normalmente ocorrem até as seis da noite, e como eu possuía um horário livre nas Sextas, preferia ficar naquele jardim cercado de muros e com a pequena fonte no centro. Era curiosa a imagem de um pequeno anjinho no topo do monumento. Geralmente se vê imagens de Deuses ou coisas que signifiquem algo para o proprietário de determinado lugar, aquele anjo, era portanto algo vago. Ou pelo menos era assim que eu ainda pensava. Mais uma vez eu me perco em meio às equações e expressões algébricas, de maneira que, eu nem ao menos veja quando alguns alunos saem da sala.

            O Instituto St. Church é como um pequeno condomínio. Temos tudo aqui, e na certa é para que não precisemos sair e ter contato direto com todo o “mundo”, em todas as horas. Quando aqui cheguei, achei que não aguentaria passar nem mesmo uma semana. Eu estava mais frágil do que agora, ainda sofria pelo fato de ter sido mandado embora da minha casa. Era óbvio que eu estranharia tudo, desde as pessoas às práticas e maneiras de lecionar. A forma muito forma com a qual todos pareciam lidar com os alunos. Este Jardim ao qual me encontro, é o lugar ao qual eu achei nas primeiras semanas e logo peguei para me interior. Sou do tipo de pessoa que marca e precisa em sua maioria de cosias simples. Preciso de um lugar só meu, e curioso é que ele tenha se manifestado na forma de um lugar tão público mas, ainda assim, calmo.

            Fazem cinco meses. Cinco meses desde que Seattle se tornara um borrão na minha vida. Achei que nunca me adaptaria a isso, mas aqui estou eu. Confiante, forte, respirando. Se me perguntassem hoje acerca de algo que amo, eu diria a mim mesmo. Eu não entendo como pessoas tentam amar outras coisas, quando na verdade nem amam a si próprias. Isso não é egoísta, isso é racional. E uma cota boa que tomei aqui, nesta cidade, foi de racionalidade. Eu tenho um coração falho, e ele está guardado em algum lugar do fundo da minha alma. Imagine a caixa de brinquedos do Andy, aquela que já não mais o fazia sentido manter ao desenrolar de Toy Story 3, assim é a caixa escondida por debaixo da minha pele.

            Anoto a resolução da última equação da lista e estalo os dedos das mãos. O meu uniforme está um pouco amassado por conta do tempo passado ali na grama. Começo a juntar meus cadernos e livros. Após cada expediente, vamos ao refeitório localizado no segundo andar da construção. Provavelmente eu sou o mais velho da minha turma, o único a já possuir completos dezoito. O que me permite sair normalmente do Instituto e dar pequenas voltas pela cidade. Não que eu goste, mas é bom as vezes sentir a brisa gélida que corta pelas ruas.

            Com a mochila no ombro, dirijo-me na direção dos portões centrais.

            - Boa noite, Sr. Frank. Eu vou apenas dar uma breve caminhada. – Digo educadamente.

            Senhor Frank era um dos funcionários mais velhos de St. Church. Era um senhor de idade, tendo por volta de seus cinquenta e oito anos. Me dava bem com ele, na verdade, me dava bem com todos, todavia ele me dizia que eu era muito educado. E que isso o lembrava de alunos muito antigos, da outra geração.

            - Claro, Sr. Grey. – Ele destrancou a trava.

            - Sem o Senhor, apenas Theodore. Teddy, se achar melhor.

            Ele me abre o portão, e com um aceno breve da cabeça, sorri. Me entrego as ruas de Nova York e ponho as mãos nos bolsos laterais da calça. O clima estava diferente da noite passada, quando uma chuva caíra por algumas horas. As caminhadas me faziam relaxar um pouco, livrar-me daquela tensão que o colégio me trazia. Não que eu seja um aluno ruim, mas é como se cada passo dado agora fosse mecânico. Eu odeio me sentir um robô. Ver as pessoas correndo pelas ruas, os carros, os letreiros coloridos da Times, me deixa um pouco mais animado. Avisto um Starbucks na esquina e me encaminho para ele. Após comprar uma generosa dosagem de cafeína, prossigo com o passeio sem rumo. É irônico pensar nele como sem rumo, uma vez que, minha vida se associaria muito bem à esta característica tão corriqueira.

A Cor VibranteOnde histórias criam vida. Descubra agora