KIT

CAPÍTULO 2

Ele se afastou de repente a soltando e Slade rapidamente a amparou.
"Você está grávida? Mas Novas Espécies não podem se reproduzir! Pelo menos essa é a mentira que vocês contam para nós. Vocês dependem do governo, como podem mentir tão descaradamente? E o que mais vocês escondem?"
"Calma, senhor Crane. Ela não está grávida, nossas fêmeas não podem engravidar" Slade disse. Ela avistou Vingeance a distância. Ele estava vindo, ela suspirou aliviada.
"Você acha que eu sou algum idiota? Eu senti o bebê se mexer. Eu, antes de entrar para o congresso, era veterinário."
"Você está dizendo que eu sou alguma vaca, por acaso?" Kit sentiu o temperamento esquentar. Ele estava nervoso, mas isso não lhe dava o direito de ofendê-la.
"Olha, vamos nos acalmar. Kit não está grávida, e o senhor veio aqui para ver o terreno e discutir nossas ideias. Vamos continuar." Slade fez sinal que ele fosse em direção a grande mesa que haviam montado para o almoço.
"Eu não tenho nada para discutir com você, ainda mais por continuar mentindo, achando que sou algum idiota. Vou falar é com Justice."
Slade deu um soco potente bem no olho direito do humano e este caiu pra trás com um barulho. Brass, Jericho e Vingeance que já estavam perto correram até eles.
"A cara desse filho da puta é dura!" Disse Slade sacudindo a mão.
"Ele não é um político? Pensei que desse problemas bater num desses."
Disse Vingeance olhando o macho caído.
"Ninguém me chama de mentiroso! E eu resolvo os problemas nessa porra de Reserva. Não preciso de Justice!" Slade estava puto.
"Vamos, querida. Você não deveria estar no meio de uma briga dessas. Se ela tivesse sido atingida, quem estaria no chão agora seria você, seu idiota! Vingeance deu-lhe o braço, mas ela estava com as pernas bambas. Então ele a pegou no colo.
"Você está bem pesadinha." Disse sorrindo. Ele ficava tão bonito, quando sorria. Ela tirou uma mecha do cabelo dele do olho.
"E o que eu faço com esse humano gigante?" Slade estava começando a entender o tamanho da besteira que fez.
Brass e Jericho pegaram cada um em um braço do macho e o levantaram.
"Tem certeza que esse cara é só humano? Ele é maior que Valiant!"
Eles o colocaram no jipe e Kit viu que havia sangue na têmpora dele. Pediu que Vingeance a colocasse no chão e se aproximou. Tocou a face dele e viu que ele estava com o supercílio cortado.
"Slade, leve-o ao Hospital. Ele pode ter batido a cabeça, vai precisar fazer alguns exames."
Brass apertou o ombro de Slade.
"Acho que você terá sim de ligar para Justice."
"Kit, você está grávida?" Slade estava sério. Bom, hora de contar. Ela sabia que não poderia esconder por muito tempo mesmo.
"Sim, Slade. O doutor conseguiu. Foi por isso que ele me manteve todo aquele tempo. Ele me usou como cobaia dos testes dele."
Falar nisso ainda doía. E os olhos dela marejaram.
Vingeance rosnou.
"Vamos, Kit."
"Vingeance, eu acho melhor estar presente quando ele acordar. Vou conversar com ele."
"Parabéns, então, Kit. "O tom de Slade era amargo. "Vejo que todos vocês sabiam, só o idiota aqui que não!"
Ela não tinha contado para ninguém, mas tirando Slade, Brass e Jericho não estavam surpresos.
"Sophia desconfiou. Mas ela só falou comigo." Disse Brass.
"Elisabeth também. Mas pode contar com nosso silêncio, Kit.
Vingeance apenas sorriu.
"Não preciso que me contem as coisas, Slade, você, mais do que todos, deveria saber disso.
Eles eram tão maravilhosos! Meu Deus e pensar em todas as vezes que ela desdenhou deles.
"Eu não queria contar, pois eu não sei como me sentir com isso ainda. Vocês fazem sempre um show quando alguma fêmea engravida, e eu quero sossego, além do fato de que serei a primeira mãe solteira da Reserva. Eu preciso de paz."
"Você será mãe solteira porque quer."
Vingeance disse baixinho. Mas eles já tinham conversado, ela não queria mais tocar nesse assunto.
Ela estava com as pernas doendo, e entrou no jipe do lado do humano desmaiado. Ela o olhou e ele abriu os olhos. Ele se endireitou no banco e falou:
"Pra onde estão me levando?" Perguntou, já não tão agitado, o soco de Slade esfriou o nervosismo dele.
"Pro Hospital. Você bateu a cabeça, e é melhor fazer alguns exames."
A sensação inquietante voltou. Ele tinha um cheiro bom. Usava desodorante neutro e uma colônia cítrica.
"Não preciso de hospital. Eu agradeço a preocupação, mas eu preciso estar em uma reunião importante amanhã bem cedo."
O jipe parou em frente ao hospital, ele desceu e os outros também.
"Senhor Crane, Poderíamos conversar?" Ele não poderia sair dali, sem prometer segredo sobre a condição dela.
Ele balançou a cabeça, ela então foi entrando no hospital. Destiny veio e a saudou com  beijo na bochecha.
"Destiny, houve um acidente e o senhor Crane precisa de uns pontos na testa."
O grande Nova Espécie primata sorriu educadamente para o humano e lhes indicou uma enfermaria. O homem entrou atrás de Destiny, ela também, mas quando Vingeance e Slade fizeram menção de entrar também, ela os barrou.
"Destiny estará comigo o tempo todo."
Vingeance olhou o humano com toda a perversidade que era capaz e disse:
"Fale a mínima coisa que possa ser confundida com uma ofensa a ela, e sua política, seu dinheiro, nem esses seus dois metros vão me impedir de acabar com você." Disse e se sentou calmamente na sala de espera.
Slade já tinha feito merda, então só acenou com a cabeça e também se sentou.
"Vingeance acha que engana alguém. Todo mundo sabe que ele tem o maior coração de manteiga da Reserva." Disse Destiny baixinho e Kit riu.
"Ele pareceu estar falando muito sério pra mim." Ela se surpreendeu dele ter ouvido, eles geralmente falavam naquele tom com humanos por perto, e nenhum humano nunca conseguiu ouvir.
"Bom, senhor Crane, vamos olhar esse supercílio." Destiny se aproximou dele, com uma gase úmida para limpar o ferimento.
"Espere, você é Nova Espécie? Não há nenhum médico aqui?"
Destiny respirou fundo.
"Hoje é domingo, senhor. Os médicos também tem vida, e se houver alguma emergência " real", eles prontamente virão ao hospital. A menos que queira que algum médico interrompa seu descanso merecido para vir aqui costurar seu supercílio."
Destiny tinha muita experiência com humanos. A antiga Kit o mandaria se foder.
"Enquanto ele te costura, podemos conversar?"
Ele ficou meio desconfortável com o que Destiny dissera. Mas disse:
"Se for pela mentira que vocês estão nos fazendo acreditar durante todos esses anos, preciso pensar." Disse e se calou olhando a paisagem que se via na janela, perto de onde ele estava sentado.
"Você fala como se tivéssemos escolha. Vocês do governo nos ajudam financeiramente, pois têm culpa por terem financiado os monstros que nos criaram. Sem falar que nós somos quase que autosufientes."
"O governo ainda envia milhões anualmente para Homeland e a Reserva. Fora todas as isenções fiscais a que vocês têm direito. Eu inclusive votei para que conseguissem a última. Manter tudo isso custa dinheiro querida. Não que eu espere que você entenda."
Ele estava implacável agora. Os olhos se tornaram duros e Kit, que deveria querer enfiar as garras naquele rosto perfeito e petulante, se sentiu excitada. Ele era tudo que as fêmeas Novas Espécies adoravam: grande, forte, bonito, teimoso, viril...
Kit forçou seus pensamentos para outra direção, pois Destiny já estava olhando estranho para ela.
"Você me chamou de vaca e agora está me chamando de burra? Talvez eu deva deixar Vingeance vir conversar com você então."
"Estranho, sempre pensei que vocês mulheres Novas Espécies eram duronas. Vai mandar seu namorado me bater, só porque não caí de Amores por você?"
"Veja bem, senhor Crane." Destiny se intrometeu enquanto dava o último ponto e cortava a linha" Vingeance é o Nova Espécie mais cruel que temos na Reserva. Ele inclusive, tem a melhor audição de todos nós. Eu sei que o senhor se acha grande, mas eu não recomendaria uma briga com ele. Então que tal vocês conversarem sobre o assunto que vieram conversar? Kit vou sair por aquela porta, eles não vão me ver, mas você não terá muito tempo."
Kit gostava muito de Destiny. Ele era um ótimo confidente, e um bom amigo também. Ele saiu depois de tocar o rosto dela com o nó dos dedos. Isso era uma coisa que só os primatas faziam. Ela adorava.
"Outro apaixonado? Existe alguém nesse lugar que não babe por você?"
Ele pareceu enciumado, será que também se sentia atraído por ela como ela estava por ele? Ela esperava que não.
"Vamos ao que interessa senhor Crane" Ela começou a ordenar os pensamentos, quando ele a interrompeu:
"Robert. Até porque eu não poderia chamá-la de outra coisa que não fosse Kit. Combina muito com você." Disse sorrindo de lado, com os olhos queimando de desejo. Estava cada vez mais difícil se concentrar. A boca dele parecia deliciosa.
Ela limpou a garganta e continuou:
"Senhor Crane," Ela frisou o Crane, não o chamaria de Robert nunca." A
quase três anos atrás, admitimos um médico chamado Gabriel Marshall. Ele veio recomendado pela nossa doutora Trisha North, pois ele tinha se especializado em medicina genética, e gostaria de estudar a nossa espécie, ou coisa parecida, sou uma fêmea burra, como você mesmo disse. Ele nos estudou, fez milhares de exames, desenvolveu várias drogas, e testou muitas delas em nós."
"Eu o conheço, foi ele que entrou em contato comigo a algum tempo sobre o projeto do Zoológico."