CAPÍTULO 4

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Kit acordou em seu quarto, já era noite, e uma lua minguante flutuava pálida no céu escuro. Desde que ela saiu do hospital, depois que se recuperou, ela estava na cabana de Vingeance. E assim que ela acordou do desmaio, ela pediu pra descansar na cabana, pois ela não gostava de ficar no hospital. Trisha ligou e marcou uma visita a ela no dia seguinte. Não viu mais o congressista. Só sabia que ele foi embora quando Vingeance ameaçou arrancar a cabeça dele.
Ela tinha uma ótima visão noturna, então pôde ver claramente Vingeance dormindo na sua poltrona florida. Ela tinha decorado o quarto, quando decidiu ficar lá. Ele destoava totalmente com seu corpo gigante e as roupas escuras no ambiente delicado e feminino.
Seus cabelos escuros estavam bagunçados, cobrindo seu rosto. Era uma pena, mas ele acabaria cortando os cabelos, estavam já na altura dos ombros, cheios e sedosos. Ela esperava que ele não raspasse tudo.
"Vingeance! Se você se comportar, pode se deitar aqui comigo."
Ele abriu os lindos olhos azuis e deu um sorriso arrasador.
"Então a poltrona me parece ótima."
Ela balançou a cabeça. Homens!
Ele continuou olhando-a e ela percebeu que nunca tinha reparado em como os olhos dele eram diferentes.
Todos os Novas Espécies, tinham olhos incomuns, desde os escuros de Justice cheios de pintas azuis, até os avermelhados de Jericho. Isso sem falar na manada de olhos dourados de Valiant. Mas os olhos de Vingeance não eram como os dos outros. Quanto mais claros, mais frios e quanto mais frios, mais intensos, era até difícil de desvendar o mistério naqueles olhos. Se havia algo que ela havia aprendido sobre ele era que se os olhos estavam muito claros, como agora, ele estava percebendo alguma coisa que só ele podia saber.
Ele piscou. Ele era quase como túmulo. Quase nunca dividia com os outros suas percepções.
Ele veio se sentou na cama, pegou a mão dela e beijou o dorso.
"Promete que não vai ficar nervosa?" Ela balançou a cabeça."Sophia vai entrar em trabalho de parto e não será fácil. Eu não quero que você fique sozinha hoje, então vou ligar para Jericho, ok?"
Sim. Ela não conseguiria ficar bem até que os bebês de Sophia nascessem, saudáveis e fortes. E provavelmente Elisabeth e Jericho estariam com Brass e Sophia. Alguém teria que vigiar o vovô.
Ela se levantou. Estava de pijama de flanela, então só vestiu um roupão por cima. Quando ia amarrar o cinto, Vingeance a impediu e se ajoelhou em frente a barriga dela. Levantou a blusa do pijama, raspou o nariz de um lado a outro, inalando o cheiro dela. Quando se deu por satisfeito beijou o umbigo estufado dela, e se levantou.
Os olhos dele estavam tristes, mas Kit não abriria mão da felicidades deles, pois não se amavam. Só havia um profundo carinho. Embora da parte dele haver desejo também, de acordo com o volume nas calças.
Chegaram a casa de Jericho, e ele e Elisabeth já estavam na porta a espera deles.
"Kit, você não deveria estar de pé a essas horas. Eu poderia chamar Harley pra ficar com o vovô e John."
"Pra ter de chamar os bombeiros quando eles colocassem fogo na casa?" Jericho falou
"John está aqui?" O filhote de Brass era seu afilhado e Kit o amava muito.
"Madrinha!" Ele veio correndo. Ainda não tinha um ano, mas poderia facilmente ser confundido com uma criança de três anos. Ele já estava aprendendo a ler.
Ela o abraçou e ele tocou na barriga dela.
"Também tem neném aqui?" Ele perguntou.
"O que você sente?"
O faro dele era excepcional, mas ele não sabia identificar muitos dos cheiros que ele sentia.
" Neném humano, menina, como a tia Joy."
Ela achou melhor não comentar. Mas ela sempre quis ter uma filhotinha. A esperança e a alegria bateram forte.
"John, vai começar." A voz do vovô se ouviu na entrada. Eles deviam estar no quarto do velhinho.
"Alguma recomendação?"
Jericho suspirou e Elisabeth sorriu.
"Só não ouça as músicas dos desenhos, elas não saem da mente da gente depois."
"Jericho estava cantando "Son of man" no chuveiro hoje." Elisabeth disse.
Kit riu. "Vou tentar. Digam a Sophia que vai dar tudo certo, e que estarei orando ao Deus dela para que o parto seja da melhor forma possível."Sophia era muito religiosa. Kit não gostava muito de igreja e de todas as coisas relacionadas a isso, pois os Novas Espécies não eram aceitos como criaturas de Deus em várias igrejas e comunidades. Mas Sophia falou e falou diversas vezes num Deus que a amava e que cuidaria dela, e a tiraria daquela situação horrível. E o modo
como ela foi salva, e ainda por agora haver uma criança dentro dela, a fazia pelo menos considerar a existência de uma força superior.
E enquanto John e o vovô assistiam a um desenho qualquer e comiam uma tonelada de pipocas com refrigerante, ela teve tempo sozinha pra analisar a última maldade de Gabriel Marshall.
Ela se lembrava de um dia em que ele tinha sido particularmente mau. Ele batera no rosto dela várias vezes. Cada tapa queimando e doendo. Ele estava possesso esse dia.
Ele não fez nada das coisas humilhantes que ele fazia com ela. Mas a cortou toda e ficou vendo o sangue escorrer até que os cortes se fechassem. Ele cortou os mamilos dela fora e ficou olhando com aquela cara de anjo dele enquanto o sangue escorria e ela arregalava os olhos em agonia.
"Kit, Kit,Kit. Eu acho que você vai me fazer muito rico. Não que eu já não seja, mas eu finalmente consegui. Não era tão difícil, mas os médicos tem tanto medo de ultrapassar algumas linhas... Bom eu não tenho."
E riu.
"Veja bem Kit. Existe todo um setor para explorar e ganhar rios de dinheiro, se eu for capaz de fazer vocês engravidarem. Milhares de mulheres, ou estéreis, ou que já passaram da idade, loucas para ter filhos. Umas imbecis, eu sei, mas imbecis com dinheiro."
Ele virou e colocou diante do rosto dela vários tubos de ensaio etiquetados com datas.
"Bem vejamos, você tem alguma preferência? Loiro de olhos azuis? Negro de olhos castanhos? Ruivo de olhos verdes? Eu tenho uma gama de doadores. Todos grandes, fortes e bonitos."
Ele olhava os fraquinhos e ria, falando consigo mesmo.
"Vinte de agosto de sessenta e cinco. Esse foi o escolhido. Você vai gostar dele, Kit. Mas infelizmente, ele não ficaria com você nem se quisesse. Mas a criança? Eu adorarei ver ele tomar a criança de você. E ver essa criança nos jornais, na internet, nas revistas, nos noticiários. E todos saberiam que eu fiz acontecer. Durma, minha querida, e nunca, mas nunca se esqueça dessa data que é o dia do nascimento do pai do seu filho.
Ela se lembrava desse dia horrível. Nunca esqueceria. Ele se encarregou disso.














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