CAPÍTULO 24

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Kit entrou no quarto como um furacão. Como eles ousavam? Céus! Como podiam ser tão idiotas? Ela iria embora dali! Aproveitaria o helicóptero, e voltaria para a Reserva. Não, não voltaria para a Reserva, mas sim para Homeland. Lá era sua casa afinal. Seu pequeno apartamento no prédio das mulheres ainda estava lá. Com seus móveis preferidos, suas roupas sensuais, sua maquiagem importada... Kit se sentou olhando pela janela. O enorme jardim da casa vicejava. O cheiro das flores e plantas já era familiar para ela. Assim como a piscina onde Ann logo estaria nadando pra lá e pra cá.
Ela se acostumou com o lugar. Gostou de fantasiar que era dona de tudo aquilo. Assim como gostou do tratamento dos funcionários, fazendo todas as suas mínimas vontades com um sorriso no rosto. A cozinheira aprendeu rapidamente como ela gostava da carne, e fazia várias sobremesas para Kit experimentar. O jardineiro que, quando não estava rolando na cama com Halfpint, sempre enchia a casa das flores que ela gostava. Ele também criou uma ala no jardim e plantou Tulipas, só porque Kit comentou que nunca tinha visto uma. Na próxima primavera, aquele canto estaria lindo!
E Robert. Ele era a coisa que tornava aquela casa especial. Desde o cuidado com os funcionários, com a educação e gentileza com que as tratava, mesmo com Halfpint compartilhando sexo com o jardineiro em todos os cômodos da mansão.
Ela estava cansada. Vingeance prometera resolver as coisas quando saiu do jardim, mas ele apostara algo relacionado à ela. Num jogo de sinuca!
"Kit! Você não vai acreditar no que Vingeance exigiu de Robert." Halfpint disse entrando correndo no quarto.
"Não quero saber, Pint, onde está Ann?" A filhote  devia estar com fome. Seus seios estavam vazando já.
"Kit, precisa me ouvir, é importante!" Fosse o que fosse fez Halfpint ficar desesperada e isso chamou a atenção de Kit.
"Fale de uma vez!"
"Vingeance exigiu de Robert que ele organize uma coletiva de imprensa, igual às que Justice faz as vezes, para anunciar que Ann é sua filha e dele."
"O quê?" Kit gritou. O que Vingeance estava pensando? " Onde aquele desgraçado está?"
"Acho que na cozinha, com Harley e Ann. Sabe, Kit, eu acho tão sexy quando ele fala o nome dela: Ann Sophie! Eu sei que ele nunca me deu bola, mas..." Kit ia correndo pra cozinha enquanto Halfpint falava essas baboseiras. Ia matar Vingeance!
Na cozinha Harley estava com Ann no colo e Ann destruía um copinho de iogurte com as presas.
E agora essa!
"O que está fazendo com minha filhote, seu imbecil?" Disse tomando Ann dos braços dele e tirando o resto do copinho da boca dela.
"Harley disse que ela rasgaria a tampa com as presas, e eu disse que ela destruiria o copo. Você me deve, Harley! De novo." Vingeance era a própria imagem da calma. Kit não sabia se matava ele, ou Harley.
Ann começou a chorar puxando a blusa dela, queria mamar. Kit respirou fundo, fuzilou-os com os olhos e se sentou na mesa, oferecendo o seio à filhote. A dor da mordida a fez fechar os olhos. Isso acontecia quando Ann estava ou esfomeada ou agitada. Os dois idiotas a fizeram ficar esfomeada e agitada! Droga!
"Kit." Vingeance se ajoelhou entre as pernas dela e a olhou com firmeza.
"Harley, suma daqui. Eu e vingeance temos muito a conversar." Ela nem sabia por onde começar, nunca imaginou que Vingeance pudesse colocar a filhote dela em perigo.
"Certo, só me deixe pegar isso, e isso, hum, que cheiro bom, vou pegar um pouco também. Isso é para o jantar? Posso pegar também?"
"Harley!" Dessa vez Vingeance olhou Harley com seu olhar ameaçador, mas incrivelmente o macho não teve medo.
"Tô indo, eu fico com fome quando tô nervoso." Harley saiu levando uma bandeja grande cheia de panelas equilibradas. O jantar já era.
"Eu perdi alguma coisa? Harley não tem mais medo de você?" Todos os machos tinham receio de brigar com Vingeance, evitavam ao máximo.
"Ele cismou que é meu amigo, vive me enchendo o saco, e fica horas falando nos meus ouvidos. E a culpa é sua."
Kit viu a raiva começar a se enfraquecer. Vingeance nunca fazia nada sem uma razão.
"Como assim, a culpa é minha?" O macho suspirou se levantou e sentou numa cadeira, olhando Ann mamar, e disse: "Quando você dormiu com o pai de Ann Sophie na minha cabana, eu dormi na casa de Harley. Como Moon está muito ocupado, cuidando de Lunna, e Brass dos gêmeos, Harley se voltou para mim. Agora ele passa horas na minha cabana." Vingeance disse como se lamentasse, mas no fundo, Kit tinha certeza, ele estava gostando de ter um amigo bem presente.
"Bom, agora me impeça de pegar um dos rifles de Robert e estourar sua cabeça. O que você pretende com essa coletiva? Não pensou no perigo que Ann correrá? Não pensou que essa não é uma decisão que apenas eu e Robert devemos tomar, mas todos os Novas Espécies? O que está passando pela sua cabeça, V.?"
Ele ficou calado. Por alguns segundos, só os sorvos de Ann eram ouvidos na cozinha. Ele poderia não falar e aí sim, Kit atiraria nele.
"Kit. Esse segredo tem de acabar. Eu já falei com os filhotes e até Simple e John, que são pequenos, concordam que gostariam de não terem que se esconder. Florest e Salvation querem muito ir a universidade. Já imaginou Florest em uma?  Eles têm o direito de não querer se esconder. E eles não querem. Existe toda uma gama de possibilidades que estão sendo negadas a eles, por não existirem no mundo exterior."
Kit não tinha pensado nisso. A Reserva e Homeland era um sonho deles, pois eles foram criados em cativeiro. Mas os filhotes que nasceram lá, talvez não vissem assim. Eles tinham acesso a internet e viam o mundo como um lugar cheio de desafios e oportunidades. Coisas que eram negadas a eles, pois não podiam sair daqueles muros. Florest e Salvation tinham aparência de adultos, mas os Novas Espécies foram contabilizados. Eles não poderiam entrar em uma universidade, por exemplo. Não haviam documentos para novos Novas Espécies. E agora como mãe, via tudo o que seria negado a Ann se ela fosse criada presa na Reserva, Homeland ou mesmo na forte segurança daquele condomínio.
A idéia tinha seus atrativos. Mas era algo que deviam ser discutido por todos.
"Eu sei que você está pensando nos outros, no direito deles de decidir. Mas você não estará tomando a decisão por eles, pois o nascimento de Ann Sophie foi diferente do deles, você pode dizer que foi o resultado dos testes do doutor. Seria verdade, e se resolvessem continuar com o segredo dos filhotes, continuariam."
Kit pensou nesse fato. Ann tinha sido feita através de um tratamento do monstro. Aconteceria o que ele planejou: o mundo saberia que ele era capaz de fazer qualquer mulher engravidar, segundo o que ele disse.
"Sei que está pensando que o doutor estaria conseguindo o que queria, mas veja bem, querida, você não gostaria de poder ver Ann Sophie livre para fazer todas as escolhas que quisesse?"
Ele estava jogando sujo, mas ela tinha que concordar que Ann seria muito mais feliz se pudesse ir e vir. Ainda teria que ser protegida, mas todo Nova Espécie andava com um alvo nas costas.
"Vou pensar, Vingeance, vou pensar." Era uma decisão importantíssima. Mas os argumentos de Vingeance tinham sua lógica. Ela adoraria levar Ann num parque, no shopping... Sem falar em todas as oportunidades que ela teria. Em contrapartida, haveriam as ameaças, o medo, a superproteção,as ofensas. Isso doía fundo no coração de Kit, mas ela criaria Ann para enfrentar tudo isso, ela seria tão guerreira como a mãe.
Encontrou o olhar azul cristalino de Vingeance e assentiu. Iria fazer. Não seria uma covarde.
"Kit?" Robert apareceu na cozinha e Vingeance saiu com Ann nos braços. Robert indicou a porta por onde saíram e daí foram parar no jardim.
"O que você acha, Kit? Por mais que eu seja honrado, se você não quiser, não faremos nenhuma coletiva."
Ela se sentou num banco, o cheiro do jardim a acalmava.
"Eu tomei minha decisão, Robert. Não vou criar minha filhote escondida do mundo. Porém vamos necessitar de todo o seu poder e influência para mantê-la segura. E você, o que acha de tudo isso?"
Ele olhava para o quadrado onde Ben, o jardineiro, havia plantado as mudas de tulipas.
"Sabe, quando vi Ben arrando e mudando a decoração do meu jardim, pensei que fosse para agradar Halfpint. Eu não ligo para essas coisas, mas achei um pouco abusado da parte dela. Aí quando perguntei, ele disse essas palavras exatas: 'São tulipas, para a patroa, ela disse que nunca viu uma.' E eu percebi o quanto você e Ann fazem parte desse lugar. E o quanto são importantes para mim, Kit. Eu acho que podemos fazer funcionar. Mas afirmo de novo: se não quiser, não faremos."
Ele disse, se virou para ela e foi aproximando o rosto, ela, sem hesitar, tomou a boca dele num beijo escaldante. Ele retribuiu invadindo a boca dela com a língua. Ficaram um tempo se saboreando, kit estava já tentando soltar a camiseta dele, quando Halfpint chegou e limpou a garganta.
"Kit, posso falar com você?"

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