Ele. Não. É. Meu. Dono! Kit foi repetindo esse mantra enquanto corria para seu quarto. Parou no corredor, esperando o coração se acalmar. Ainda estava com as pernas bambas! E a sensação de vazio por ter se afastado dele logo depois de compartilhar o melhor sexo da vida dela, a incomodava. Tinha se entregado de corpo e alma. E agora cada passo que dava na direção oposta, era como estivesse se distanciando dela mesma, partindo sua essência, perdendo sua identidade. Pois tudo o que ela sempre foi, era e seria, estavam atrelados a ele. Ela sentiu uma lágrima rolando. Por que tinha de ser tão complicado? Por que tinha que lutar contra o sentimento de posse que via nos olhos dele? E por que deveria permitir ser possuída por ele? Como separar a plenitude que sentiu nos braços dele, do pânico que sentiu com as palavras ditas por ele? Estava tudo misturado na alma dela. Onde estava a liberdade de escolha que ela sempre se gabou de ter conquistado? E como desfrutar dessa liberdade, se lhe faltaria um pedaço se ela perdesse Robert? Perguntas sem respostas. Precisava conversar com alguém. Alguém que a ouviria e não julgaria mal a confusão em que o coração dela se metera.
E de quebra, alguém que acabaria com aquele sorrisinho sedutor com um forte cruzado de direita.
Entrou no quarto, checou Ann no bercinho acoplado à cama, que mandara instalar. Ela dormia serenamente. Kit sempre se detinha nos detalhes humanos do rostinho dela. Antes lhe despertava medo de Ann não ser biologicamente dela. Agora, quando olhava as mudanças que tinham acontecido na face da filhote nessas duas semanas, via o seu narizinho arrebitado um pouquinho achatadinho nos cantos, seus malares altos e suas presinhas. Ela era sua!
Pegou o celular e se dirigiu a porta para falar sem correr o risco de acordar Ann. Se ela acordasse iria querer mamar e Kit precisava de um tempo só dela.
"Kit, tudo bem?"
Ela se culpou pelo alarme na voz dele. Desde que chegou, não ligou para o macho. Então ele concluiu que ela estava ligando por que precisava dele.
O que não deixava de ser verdade.
"Você poderia vir aqui e ficar um pouco?" Ele não tinha paciência para rodeios.
"Tenho que partir a cara dele de novo?" Kit sorriu, mas quando se lembrou do estado em que Robert ficou quando brigou com Vingeance, decidiu que deveria impedir que eles lutassem de novo.
"Você se lembra do vestido? Então, estou te cobrando o favor que te prestei aquele dia. Não importa o que aconteça, você não vai machucar Robert.
O macho rosnou.
"Amanhã?"
"Sim. Você pode pedir um helicóptero?"
"Slade arrumará para mim, ele me deve."
"Estarei esperando."
"Senti sua falta." Desligou. Ela sorriu. Porque não se apaixonou por ele? Seria muito mais fácil.
Todavia, saber que ele viria, já lhe transmitiu a calma que ela precisava. Deitou-se de olho em Ann e rapidamente adormeceu.
No dia seguinte, sábado, quando desceu para tomar o café na mesa da varanda, Robert lá estava lendo tranquilamente o jornal. Ele estava de costas para a porta, e Kit cogitou voltar, sem que ele a visse, mas ele sentiu a presença delas e se virou.
Ann logo fez barulhos com a boca e estendeu os braços, mas Kit não saiu do lugar. Ele deu um sorriso devastador e se aproximou. Não pegou Ann, apenas cheirou o pescoço dela, roçou o nariz, a fazendo rir. Kit já estava incomodada com o cheiro dele. A vontade de pedir que ele cheirasse seu pescoço também era considerável. Mas aguentou firme.
"Bom dia, meu amor!" O coração de Kit disparou. "Você vai tomar café com o papai, como uma mocinha?"
A voz baixa e grave estava fazendo com ela se molhasse toda, Droga!
"Disse alguma coisa, Kit?" Ele perguntou?
"Nada importante, só pensei alto." Ele acenou.
"Sei como é isso."
Sabia? Kit duvidava. Ele estava a imagem da educação. Falava com ela como se falasse com uma estranha, enquanto Kit se forçava a não olhar para a boca dele.
"Vingeance disse que vem hoje me ver." Ele fechou a cara, pegou Ann e se sentou. Ele pareceu não gostar. Ciúmes?
"Não acho aconselhável. Não estou a fim de passar o final de semana lutando com ele.
"Apanhando dele, você quer dizer." Ela adorou ver a face dele ruborizar. Homens!
" Eu estava bêbado. Seu amiguinho não foi nada honrado se aproveitando disso." Verdade. Mas ela não diria isso.
"Vocês podem lutar agora. Veríamos quem ganharia."
"Não tenho interesse em violência. E também não estou convencido de que ele não vai tentar tirar vocês daqui."
Ele falou com a voz dura, inflexível Os olhos azuis firmados nela, a desafiando a contrariá-lo.
"Decidimos criar Ann juntos, mas eu não vou ficar presa aqui, ou aceitar você barrar meus amigos de entrar aqui."
"Sim, mas não gosto nem confio nele. Você pode visitá-lo na Reserva quando quiser."
"E Ann?"
Ao ouvir seu nome a filhote sorriu mostrando as presas. E Robert deu um beijo na bochecha dela.
"Ann fica!"
Disse e se levantou com a filhote nos braços. Indo em direção ao jardim.
Ela o seguiu. Não ia deixar ele falar o que quisesse e sair. Não dessa vez.
"Nós nem mesmo conversamos direito sobre eu e Ann virmos pra cá. Não aceitarei você mandar em mim."
Ela falou alto e Ann a olhou assustada. Kit sorriu tranquilizando-a. E estendeu os braços para ela. A filhote não quis sair dos braços de Robert, que riu e disse:
"Quer ficar com o papai? Vamos nos divertir no jardim?" Novamente deu as costas para Kit, e saiu andando.
"Robert!" Ele se virou." Vingeance estará aqui hoje, ele virá de helicóptero. Se você não o quiser aqui vai ter de expulsá-lo." Ele a olhava com os olhos frios, mas ela não recuaria. " E se resolver expulsá-lo, eu e Ann iremos com ele." Pronto! Agora não havia volta.
"Não o deixe cruzar meu caminho. E a noite ele deverá ir." Voltou a caminhar em direção ao jardim conversando com Ann. A filhote já balbuciava alguns sons. Ele fingia que entendia o que ela estava dizendo, e respondia de volta. Ela segurou um sorriso. Era uma idiota por sentir ternura por aquele grande macho imbecil.
Viu surpresa Halfpint aparecer do nada, fazer um prato gigante e se sentar para comer.
"Dando um descanso para o jardineiro?" Fazia uns três dias que ela não via Halfpint, e mesmo assim quando a viu, foi quando apareceu no quarto para pegar algumas roupas.
"Ele é um doce, e como todo doce, enjoa." Ela balançou a mão, como se estivesse lançando o jardineiro longe. "Agora poderemos conversar sobre você e o senhor Crane." Halfpint sorriu e continuou comendo.
"Vingeance está vindo, e Robert não o quer aqui."
Halfpint sorriu.
"Ele virá sozinho?" Ela disse sem olhar para Kit, fingindo estar muito interessada na comida.
"Sim, por quê?" Kit já sabia o que ela diria.
"Bom, ele poderia trazer Harley com ele, aqui está meio sem graça."
"Posso falar com ele, mas você fica me devendo." Kit não sabia se ia precisar, mas não deixaria a oportunidade passar.
Halfpint abriu um imenso sorriso. Ela e Harley tinham uma história confusa, os dois compartilhavam sexo com outras pessoas, mas sempre que podiam estavam juntos.
Ligou para Vingeance:
"Estou indo pro heliporto. Desistiu? Ou o macho está com medo de mim?"
"Harley está por aí?" Kit imaginou a cara de Vingeance e sorriu. Ele não curtia muito a falação de Harley.
"Halfpint?" Não era muito difícil de supor, mas mesmo assim ela riu.
"Sim."
"Vou chamá-lo, ele estava meio calado, Brass disse que poderia ser saudade dela. Slade perguntou quantos dias vou ficar aí, por causa do helicóptero."
Ela hesitou. Se dissesse que ele estava vindo contra a vontade de Robert, ele poderia não vir, ou pior: vir e quebrar a cara de Robert.
"Não precisa ficar, pode ser só por hoje mesmo, você está ocupado?" Ele sempre estava fazendo coisas para alguém.
"O tempo que você quiser, kit." Ele disse e o coração dela balançou um pouquinho, estava com saudade da companhia silenciosa dele, um dia era tão pouco!
"Só hoje então." Desligou. Halfpint a olhava tentando disfarçar a ansiedade.
"Harley virá também." Ela sorriu e baixou os olhos, com certeza sonhando com o macho.
"Eles vão ficar só por hoje?" Perguntou.
Kit suspirou. Robert provavelmente não se importaria se Harley ficasse mais tempo desde que Vingeance fosse embora.
"Fale com Robert sobre Harley ficar mais tempo, aproveite e traga Ann. Está na hora de mamar."
As mamadas ainda eram doloridas, mas Ann, assim como John, aprendeu a não cravar as presas no seio dela.
Pensar em John a fez querer ligar para Sophia. O que ela fez, enquanto ia para o quarto, esperar Halfpint trazer Ann. Toda aquela conversa tirou a fome dela.
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KIT
FanfictionKit, a mais arrogante Nova Espécie, passou por maus momentos. E agora, tudo que ela quer é ter paz, longe de qualquer macho. Mas um acontecimento fantástico mudará a vida dela para sempre, e ela acabará descobrindo como é incrível amar e ser amada. ...