Cap. 24 - Vernissage

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Pov Camila Cabello

– Você está mesmo linda. Não consigo tirar os olhos de você. O meu amigo vai ficar ofendido de eu não olhar para os quadros dele.

Eu tinha feito o maior esforço me arrumando para o encontro com Marcus. Depois de uma noite melancólica após a partida de Lauren, decidi que, se estivesse me sentindo bonita, talvez tivesse algum desejo pelo Marcus. Infelizmente, o método não estava funcionando.

– Obrigada. – Forcei um sorriso.

Marcus e eu passamos para a próxima obra de arte, e dessa vez tive vontade de sorrir de verdade. O amigo dele era um pintor talentoso. A maioria dos quadros era surrealista, com o foco em algum objeto exagerado que ele tirava de filmes clássicos. As caixas dos DVDs dos filmes que o haviam inspirado estavam sobre uma prateleira, sob cada quadro.

Essa pintura, em particular, era baseada no clássico de terror "Os pássaros". Na capa
do DVD, os pássaros estavam atacando a atriz apavorada. Mas a pintura mostrava várias casinhas de passarinho caindo aos pedaços, com pregos apontando para fora por todos os lados e, em vez de uma mulher apavorada,
era um homem com os cortes dos pregos no rosto.

– Tenho uma amiga que gostaria desse quadro. Será que o artista se importa se eu tirar uma foto?

– Não, de jeito nenhum. Tem uma placa na porta dizendo que o pintor gosta de compartilhamentos.

Peguei o celular na bolsa e tirei algumas fotos, com a intenção de mandar para Lauren depois. Não me dei conta de que sorri o tempo todo enquanto fazia isso. Foi Marcus quem me trouxe de volta à realidade.

– O seu sorriso é contagiante. Do que esse quadro fez você se lembrar?

– Da minha amiga L... – consegui parar antes de pronunciar o nome da Lauren, lembrando que o Marcus já tinha observado que falei dela nos nossos dois primeiros encontros.

Completei: – De uma amiga que teve uma má
experiência com uma casinha de passarinho.

Depois disso, fiquei entediada pelo resto da exposição. Precisava terminar com o Marcus. Nenhum esforço da minha parte faria com que me sentisse atraída por ele. Um certo alguém tinha acabado com essa possibilidade. Além
disso, ele era um cara legal demais, eu não podia desrespeitá-lo. Então esperei a gente sair do vernissage. Ele se ofereceu para me levar para casa, sabendo que eu tinha o jantar na casa da minha mãe mais tarde.

– Você é muito legal, Marcus – comecei.

O sorriso dele murchou.

– Oh-oh. Parece um elogio, mas nunca é uma boa coisa para se ouvir em um encontro.

Eu me senti mal, mas era o melhor a fazer.

– Sinto muito. Sinto mesmo. Você é um cara muito legal e merece uma mulher que queira estar com você e que queira namorar.

– E essa mulher não é você?

Balancei a cabeça.

– Não. Desculpe.

– Tem outra pessoa?

Ao menos não tive que mentir. Pelo menos não no sentido físico.

– Não.

Marcus passou a mão na cabeça.

– Tá. – Ele olhou para o chão. – Amigos, então?

– Sim, eu gostaria disso.

Nós nos abraçamos e nos despedimos. Como estava um dia lindo, decidi ir caminhando para casa a fim de esfriar a cabeça. Eu estava sem sexo havia quase dois anos e tinha acabado de terminar com um provável parceiro, porque sabia que ele estava interessado em mais do que sexo. E tinha afastado Lauren, que também era uma provável parceira, porque eu tinha medo de não conseguir fazer só sexo, sem amor. Em suma, eu tinha recusado duas chances de satisfazer a minha libido por medo de relacionamentos. A essa altura, era melhor ir para um bar, pegar um estranho bonitão e conversar o mínimo possível para não estragar o que realmente interessava.

Minha mãe era incansável quando encontrava alguém que poderia lhe proporcionar mais netos. Mas, quando ela e as minhas irmãs se juntavam, ficava insuportável. Escapei para o quintal sozinha depois do jantar de domingo e sentei no balanço. Minha mãe me seguir não foi surpresa.

– Ei, você está estranha hoje.

– Bom, vocês não são fáceis, né?

– Só queremos o melhor para você.

Respirei fundo e disse:

– Eu sei, mãe.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que ela falou de novo. A voz estava mais calma do que em geral quando começou.

– Eu me arrependo de nunca ter me casado de novo.

Ela me pegou de surpresa.

– Se arrepende?

Ela assentiu.

– Então por que não se casou?

– Não consegui confiar em mais ninguém. Sabe quando uma coisa é óbvia, mas a gente não percebe?

– Sim.

– Bom, não era óbvio para mim. Por anos procurei na minha relação com o seu pai os sinais que eu não tinha visto. Mas realmente não vi nenhum sinal. A mesma coisa vale para a minha amizade com a Margie. Até hoje, não sei como aquela mulher tinha coragem de olhar na minha cara sem dar nenhum sinal de que estava dormindo com o meu marido. Acho que, se tivesse conseguido localizar os sinais, mesmo depois do acontecimento em si, seria
mais fácil confiar em outras pessoas. Eu poderia ter me culpado por não ter visto os sinais. Mas, sabendo que nem sempre a gente é capaz de ver, fiquei com medo de ser enganada de novo.

Entendi o que ela quis dizer. Também procurei milhões de vezes na minha relação com Garrett prenúncios de que ele não era confiável – e, no caso da relação dos meus pais, também não vi nenhum indício.

– É difícil superar um erro quando não sabemos como identificá-lo.

Minha mãe balançou a cabeça.

– O primeiro passo é não pensar que foi um erro seu, Camila. Levei anos para parar de pensar coisas como "se eu fosse mais magra", "se me arrumasse mais para quando ele chegasse em casa à noite" ou até "se eu tivesse sido mais animada no quarto, ele não teria me traído". Mas quer saber de uma coisa?

– O quê?

– Nada disso teria mudado uma vírgula sequer. Porque não fui eu. Foi ele... Ele é quem tinha problemas e precisava provar algo para si mesmo. Eu fui uma boa esposa.

O meu peito de repente ficou pesado.

– Sinto muito que ele tenha feito aquilo com você, mãe.

Ela sorriu com tristeza.

– Idem. Odeio o que o Garrett fez com você. Mas o maior presente que uma mãe pode dar são os ensinamentos. Quero que você aprenda com os meus erros, querida. Bola pra frente. É por isso que quero tanto que se envolva com uma nova pessoa. Quando se passa tempo demais no passado, tentando entender por que determinada situação deu errado, perdemos a
chance de seguir em frente.

– Por enquanto, é melhor eu me concentrar na minha carreira e na Izzy, mãe.

Ela sorriu.

– Sim, querida. Eu entendo. Embora ache que essas áreas da sua vida estejam indo muito bem.

Minhas irmãs se juntaram a nós pela porta dos fundos, pondo um fim à nossa conversa. Mas minha mãe tinha me dado muito em que pensar.

Ela estava certa: eu também passava tempo demais procurando os sinais que eu teria deixado passar, de que o meu marido não era o homem que eu pensava que fosse. Talvez tivesse chegado a hora de focar em fazer as pazes com a ideia de quem ele realmente era e seguir em frente.

Mas era mais fácil admitir que eu me mantinha afastada de relacionamentos porque tinha medo de ser magoada de novo, do que admitir que, na verdade, eu só estava com medo de sofrer.

CAMREN: Amigas Com Benefícios (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora