XIV - (In)consequências

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A sensação de impotência quando tudo está desabando diante dos seus olhos é tão sufocante quanto passar quase 4 horas na sala de espera de um hospital. Cada minuto parecia uma hora e uma facada no âmago em desespero. 

Depois que a ambulância chegou, Yangyang foi quem o acompanhou e o primeiro a chegar. Ten, Kun e eu chegamos depois, após supostamente, repito, supostamente, roubarmos o carro de Johnny enquanto este estava distraído. 

Tivemos que nos identificar antes de ir de fato ao encontro do taiwanês, este que estava andando de um lado para o outro na frente de uma porta, onde certamente Xiaojun estava.

Não se passava nada na minha cabeça além das mensagens, por mais que lutasse para não trazer isso agora à mente. 

Fomos dispensados para a sala de espera quando a primeira médica saiu da sala dizendo que ninguém podia ficar no corredor e que logo teríamos notícias.

Ninguém nos disse que o "logo" se tornariam 2 horas de espera com um Ten nervoso e inquieto e um Johnny que não parava de ligar, mesmo que tenhamos mandado mensagem dizendo que voltaríamos logo. Fiz o meu máximo para ser caloroso com Yangyang e o confortar durante esse tempo, ainda mais na ausência de Kun que saiu para comprar algo para bebermos.

Pouco mais de duas horas e meia, um dos enfermeiros da recepção chamou o mais novo de nós e o informou da situação relutantemente.

"Ele vai precisar de descanso. Fraturou o rádio direito e está repleto de hematomas nas pernas, costas e abdômen. Não teve nenhuma grande lesão na cabeça, mas chegou apagado e ficará assim por mais algum tempo. O braço ficará imobilizado por algumas semanas e as lesões vão ser tratadas com pomadas e remédios. Pode ser que ele sinta muitas dores, então façam com que ele tome os medicamentos na hora certa para evitar isso" - Yang repassou o que foi informado e voltou a se sentar menos tenso do que antes.

- Perguntaram se não queremos fazer um boletim de ocorrência. Está nítido que ele foi agredido. - Kun volta com alguns papeis em mãos, receita médica e uma sacola com alguns dos pertences de Xiaojun apoiado no braço. 

- E quem acusaremos? Não temos ideia de quem fez isso e muito menos do que pode acontecer se falarmos algo para alguma autoridade... - Yangyang, que esteve quieto até agora, tomou a fala. - Tenho medo de mais alguém se machucar, ou até coisa pior.

Os olhos brilhantes de lágrimas que se recusavam a aparecer ainda mais entregavam exatamente o que pensava, e sendo sincero, também estava com medo, entretanto não por mim e sim pelos meus amigos e pessoas próximas.

Eu não sou alguém corajoso ou um típico personagem que encara tudo de frente sem medo e sem arrependimentos. Eu sinto as coisas fortemente, sinto medo, penso demais em inúmeras possibilidades e isso me confunde.

Estava tão acostumado a receber informações pessoais e guardá-las para mim, que nunca aprendi de fato a lidar com estas ou tentar usá-las para algo. Minha função era apenas aliviar um fardo e não usar esse fardo como arma.

E nesse momento, estava recebendo informações incompletas que pouco faziam sentido na minha cabeça e ainda assim estava sendo forçado pela situação a lidar com isso e usar tudo o que eu tenho.

 Talvez esse seja um dos meus pontos fracos.

- E agora? - Ten questionou.

Além de sério, estava pensativo. Apesar de não falar, era nítido o carinho que ele desenvolveu pelo Dejun. 

- Só saio daqui quando o Dejun sair. - Afirmei com os olhos fixos no mais novo de nós, este que demonstrou alívio com a afirmação.

Nessas condições, mais uma hora se passou até que visitas fossem permitidas e como apenas um de nós poderia entrar, a lógica foi óbvia: Yangyang seria essa pessoa. 

The Church 》 Nakamoto YutaOnde histórias criam vida. Descubra agora