XV. I - Indução

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"A moral consiste em fazer prevalecer os instintos simpáticos sobre os impulsos egoístas."

Auguste Comte

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O silêncio que preenchia o espaço anteriormente ocupado pelo caos deveria ter sido o motivo de uma noite de sono maravilhosa. A madrugada inteira se passou assim, tranquila e aconchegante, principalmente para a visita que repousava no sofá com tanto conforto. 

Visita essa que não me permitiu dormir em paz.

Devo ter levantado umas três vezes na madrugada para olhar a sala e ver se ele ainda estava lá. Foi uma decisão involuntária e idiota até o fim, porque este continuava em um sono imperturbável. A única inocente mudança foi a presença de um copo de água em cima da mesinha no meio da noite e apenas isso.

Me senti um tolo por ter desconfiado tanto e quando acordei, o cansaço de uma noite mal dormida já havia me consumindo. Olhar no espelho foi suficiente para ver seus efeitos: os olhos vermelhos, a feição abatida e uma imensa vontade de bocejar de 5 em 5 segundos.

O pior das sensações foi voltar para a sala e não encontrar ninguém. Suspirei alto e baguncei meu cabelos com raiva. Ele realmente foi embora?! E a parte de me ajudar?!

A porta da frente foi aberta antes que tivesse tempo de ligar o celular, revelando uma figura alta de casaco longo, guarda-chuva em mãos e algumas sacolas.

- Johnny? - Larguei o celular deixando para mandar mensagem depois.

Sua surpresa de me ver acordado àquela hora era pateticamente exagerada, nem escondeu a risada ao largar as sacolas na bancada da cozinha.

- Caiu da cama, foi? Normalmente é uma novela te acordar.

- Virou minha mãe agora? - Fui em direção as sacolas verificar o conteúdo dos agrados que exalavam um delicioso cheiro de café.

- Já passamos dessa fase, não acha que estou mais pra um marido? - Falou brincalhão com uma expressão de glória a si mesmo. 

Fiz uma careta e peguei um dos cafés, colocando o canudo e sentando na cadeira da bancada.

- Já me basta ser seu melhor amigo, Deus não castiga duas vezes. - O café foi tomado de minhas mãos antes que eu tomasse o conteúdo. - Ei!

- Esse é do Chittaphon, o seu deve chegar daqui a pouco. - Tombei a cabeça para o lado, confuso - Inclusive é sobre isso que queria te perguntar, por que caralhos o Taeyong dormiu aqui? Estou começando a achar que nossa suposição é real. - Minha boca abria e fechava várias vezes sem dar uma resposta, ao mesmo tempo que assimilava as informações.

Além de acordar cansado, acordei lerdo.

- Primeiro, não tenho interesse no Taeyong então exclua essas suposições por favor. Segundo, ele dormiu aqui porque não queria voltar pra casa sozinho e muito menos atrapalhar o Doyoung que estava com a Rina.

- E você simplesmente deixou ele ficar? Pensei que a pura existência dele te perturbasse. - Odiava como Johnny me conhecia tão bem, ao mesmo tempo que amava, pois era mil vezes mais simples explicar as coisas para ele.

- Isso te choca mais do que o Doyoung e a Rina estarem juntos?! - Perguntei tentando desviar a atenção.

- Conhecendo o histórico do Doyoung, isso não me surpreende. Agora, você sim. - Cruzou os braços.

- É só pensar na situação que estamos, fiquei pensando em evitar o pior e por isso o deixei ficar. E sim, a presença dele me perturba tanto que nem dormir direito eu consegui.

The Church 》 Nakamoto YutaOnde histórias criam vida. Descubra agora