XVII - (Mal) Caminho

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A presença de aspas (") no início de um parágrafo indica a continuação de uma fala e ela só termina quando fecha, então prestem atenção nisso

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Não queríamos enrolar muito com as histórias, ainda mais que o clima não estava dos mais agradáveis. Haechan tremia as pernas, mas não de nervoso e sim se mostrando impaciente. Assim, ele questionou:

- O Johnny era o próximo, certo? - O recém citado confirmou com a cabeça, endireitando a postura.

Sua expressão era um tanto relaxada, no entanto pensativa.

- Não sei se o que tenho para falar é muito pertinente, muito menos tão importante. O que Xiaojun disse condiz exatamente com o tempo em que ele chegou lá em casa, então logicamente quando se mudou, ele partiu direto para os Estados Unidos.

Johnny olhou para baixo durante um tempo antes de continuar. Parecia receoso e arrependido.

- Ele chegou lá sem saber falar inglês muito bem, apenas o básico e suficiente para sobreviver e manter um diálogo decente conosco. 

"Pelo que soube, a mãe dele, que era amiga da minha, pouco ficava em casa e não faço ideia sobre o pai dele, então a semana toda ele ficava lá em casa e algumas vezes até nos finais de semana.

Minha mãe recebia mensalmente um bom dinheiro para cuidar dele. No começo ele dormia apenas algumas vezes lá, mas gradativamente passou a ficar mais tempo e voltar menos para casa... Foi nessa época que corremos atrás para regularizar um nome americano pra ele, Lucas.

Temos uma diferença de 4 anos de idade, então enquanto o Lucas estava na quarta grade da escola elementar* eu já estava na oitava grade, quase indo pro high school e na minha cabeça idiota de "adolescente" ele era muito criança então eu não queria brincar com ele e pouco nos falávamos.

Essa situação ficou assim por mais ou menos um ano, e não nos aproximamos. Claro que com um ano de convivência eu acabei conhecendo ele, o que gostava, o que odiava, suas comidas favoritas, seus medos... Mas não sua personalidade, ou como ele era com algum amigo. 

Isso porque eu simplesmente não lembro de o ver com amigos, não levava ninguém em casa, não ia pra casa de ninguém, vivia sempre a mesma rotina monótona de acordar, ir para a escola, ir para a aula de inglês, estudar mais em casa, brincar sozinho no quintal e ajudar meus pais em casa.

Por mais que me envergonhe dizer, naquela época eu era tão idiota que o Yukhei parecia mais filho da minha mãe do que eu, dava mais atenção para ela, sempre disposto a ajudar e valorizava cada coisa que ela fazia. Talvez porque a mãe dele não estava lá para fazer isso por ele e eu... Eu que tinha aquilo não dava valor, e sequer pensava nisso naquele momento. Hoje sim eu me arrependo.

Enfim, eu não sabia suas feridas e nem o que ele sentia, então vivia minha vida normalmente e até ignorava a existência dele algumas vezes. 

Na minha cabeça ele não era nada meu e o fato dele morar comigo não mudava nada, eu só tinha que conviver com ele e o acompanhar de casa para o colégio e do colégio pra casa.

Eu vivia sempre ocupado pensando no meu próprio umbigo para reparar o que estava acontecendo com ele e quando entrei no high school foi pior ainda. Já tínhamos um ano de convivência e nada acontecia entre nós, mas foi perceptível quando ele começou a mudar.

Ele começou a sorrir menos, se esconder mais, começou a ter problemas para comer principalmente a janta, quando todos estavam juntos na mesa. Eu imaginei o que estava acontecendo mas fui egoísta o suficiente pra ignorar e fechar os olhos para aquilo.

The Church 》 Nakamoto YutaOnde histórias criam vida. Descubra agora