Duelo

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Senti minha mão doer quando atingi o rosto do outro Eros, eu odiava tudo sobre ele, sua voz, sua atitude, seu jeito. Será que eu era assim? Encarei seus olhos verdes desafiadores e sua postura orgulhosa, o sangue coagulado em seu nariz o deixou com uma terrível mancha roxa, e eu queria apenas o acertar novamente. Era estranho, quase como um conflito interno, mas para mim era claro como o dia que ele não era eu. Eu não tinha essa postura rígida ou essas falas arrogantes. Ou tinha? Minha cabeça deu um nó, como eu saberia se estava sendo eu o suficiente? Como eu provaria para Nyx que eu era o certo? Eu precisava me focar em ser o mais eu mesmo possível, mas como eu faria isso se o meu instinto dizia para eu fazer qualquer coisa para sobreviver? Era como se os meus nervos fossem os fios soltos de um cabo, tentando se agarrar à qualquer coisa que fizesse sentido, minha mente estava totalmente vazia depois dos repetidos traumas, e eu só conseguia seguir em frente apático.

Quem eu era? Tentei me lembrar de Nyx, ela era a coisa mais próxima que eu tinha de mim mesmo para começar. Ela dizia que eu não tinha jeito, que eu era orgulhoso, debochado e apaixonado. Mas como ser essas coisas? Como ser o que ela precisava? Ela dizia que eu era impulsivo demais e eu precisava melhorar, mas talvez esse não seja o momento para uma grande mudança de personalidade. Encarei o outro Eros, o outro eu, e ele mantinha sua postura desafiadora mas não parecia capaz de revidar.

— Nyx! — Eu falei não esperando resposta. — Eu vou matar o outro Eros.

— Você é louco! — Ele respondeu. — Você quer matar ela de preocupação?

— Querer eu não quero. — Estalei meus dedos. — Mas eu preciso.

— Você realmente quer resolver isso assim? — Ele perguntou. — Nós somos iguais, essa luta pode durar a vida inteira.

— É aí que você se engana. — Eu sorri de forma dramática. — Nós não somos iguais.

As duas me encararam com seus olhos escuros, como se estivessem lutando para falar algo, tentando dizer que eu era um idiota e que iria morrer no processo. Mas eu tinha um plano, queria saber se a outra Nyx iria começar a agir diferente da Nyx verdadeira, e precisava pensar em alguma forma de resolver à situação. Ela nunca me deixaria resolver isso sozinha, ela tentaria de alguma forma me parar ou pensar em algo enquanto eu faço besteira. Eu olhava para as duas uma depois da outra aguardando uma reação, mas elas apenas se mantinham imóveis. Eu precisava fazer algo que arrancasse uma reação dela, algo que a deixasse irritada o suficiente para sair do chão.

— Sabe Nyx, esse momento está sendo muito especial para mim. — Eu respirei fundo. — Já que eu finalmente posso dizer o que penso sem você poder reclamar.

— Você é um idiota. — O outro Eros acertou minhas costelas. — Você acha isso engraçado? Sua cópia malfeita.

— Eu acho isso hilário. — Eu cuspi no chão. — Você não?

Levei mais um soco nas costelas e consegui me esquivar de um chute que deixou meu oponente cansado. Seus olhos vermelhos e seu nariz inchado me perseguiam como uma fera raivosa, cada vez ele se parecia menos comigo e se tornava um monstro irritado. Talvez a cópia fosse capaz de sentir dor e estivesse irritada com a situação. E se a cópia fosse o que eu pensava, então ele não poderia me matar. Eu tinha motivos fortes para acreditar que as duas cópias eram na verdade habitantes desse mundo assim como Haan, e se eles fossem submissos às mesmas leis e ordens, eles não poderiam nos causar nenhum dano irreversível.

Seus socos continuavam, um atrás do outro de forma treinada e contínua, como se ele tivesse sido treinado para ser um policial que nem eu. Mas será que ele era perfeito demais? Se ele fosse igual à mim em tudo, ele teria uma ferida antiga na perna esquerda que o tornava vulnerável a chutes, o motivo pelo qual eu aprendi a ter um soco tão forte. Acertei seu ombro direito e enquanto ele se preparava para revidar eu acertei sua perna com um chute certeiro, ele caiu no chão ofegante e seu rosto se contorceu de raiva. No canto, as duas Nyx pareciam expressar sentimentos conflitantes, uma delas levantou a sobrancelha irritada enquanto a outra parecia assustada e em pânico, estava ficando fácil demais saber qual delas era a minha Nyx.

A cópia pareceu entender o que eu havia feito e me arrastou para o chão, continuamos rolando até esbarrar na cama, o baque da madeira acertou minhas costas e fez eu ficar sem ar, eu tentei me agarrar ao que eu podia mas apenas encontrei cobertores e almofadas que só serviram para distrair meu oponente. Eu precisava pensar rápido, e enquanto eu era acertado repetidamente na barriga, pensei em como eu deveria parecer um idiota nesse momento, levando uma surra de mim mesmo. Deve ter algo poético nisso em algum lugar, talvez um exercício de humildade? Eu certamente pensaria duas vezes agora antes de falar que minhas atitudes não eram arrogantes.

Meus olhos se fecharam e algo acertou meu queixo de uma forma diferente, abri os olhos para ver Nyx, enfurecida me acertando, o que apenas foi capaz de retirar um sorriso de meus lábios. Depois de parecer feliz com a minha reação, ela se focou no outro Eros, pisou na sua barriga com força e deu um chute que o deixou inconsciente. A outra Nyx ainda tremia em pânico. Seria essa a resolução que Haan queria? Foi um espetáculo e tanto, eu certamente iria rir disso pelo resto da minha vida, seja ela longa ou curta. Antes que pudesse pensar em me levantar, uma força brutal me pressionou no chão, Nyx se sentou no meu tronco e acertou meu olho com força, suas mãos ainda manchadas de sangue. Acho que era uma espécie de vingança.

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