— O quê? — Calum pensou ter entendido errado, era notável a dúvida em seu rosto.
— Sem mais, amanhã estaremos saindo. — Joy, sua mãe, respondeu de forma direta.
— Por quê? Não tem nenhuma festa obrigatória que faça com que eu deva ir na casa do vovô.
— Não precisa de coisas obrigatórias para ver família. Vamos visita-los.
— Durante uma semana? Eu não quero ir.
— Eu não vim te perguntar se queria ir, estou te avisando que nós vamos. — Tentou encerrar o assunto.
— Por quê? Odeia sair de casa comigo e agora vai me fazer ir, sendo que posso ficar em casa com a Mali.
— Nunca disse que odiava sair de casa com você. Não entendo porque começou a me questionar e me contrariar, você não era assim.
O moreno não respondeu, não adiantava tentar conversar com Joy quando ela estava decidida a fazer qualquer coisa, ela era irredutível e isso era uma verdade. Mais cedo ou mais tarde eu conseguiria o que quer.
— Sairemos logo cedo, a noite eu arrumo suas coisas. — Avisou, prestes a sair do quarto.
— Posso fazer isso sozinho. — Murmurou.
— O que você disse?
— Posso arrumar minhas coisas. Já fiz isso antes, posso fazer de novo.
— Como queira. — Deu de ombros e se retirou.
Calum não queria fazer nada além de chorar, não sabia ao certo o porquê, tinha consciência que não ajudaria mas a essa altura os olhos já estavam marejados e o peito afundado em tristeza.
Encarou o celular, decidindo se deveria ou não conversar com alguém naquele momento, optou por não falar com ninguém, deixou o celular sobre a cama, deitou-se no chão e ficou encarando o teto enquanto algumas lágrimas escapavam.
Antes não se incomodava o suficiente pra não querer ir, até porque ele continuaria se isolando, só tinha mais pessoas a serem ignoradas, mas dessa vez era diferente, tinha conseguido sentir-se bem na presença de outras pessoas e não queria ter de abrir mão logo agora que sentia que estava conseguindo sair do casulo.
Estava triste e seria mentira dizer que estava tudo bem em passar a semana fora, também não entendia essa vontade súbita de sua mãe, já que nem ela gostava de ficar fora por muito tempo, ela sempre achava que as coisas perdiam o controle e era uma dor de cabeça ter que organizar tudo de novo.
Não entendia o porquê de estar questionando as coisas ao invés de simplesmente fazer, era assim antes, mas algo o deixava inquieto e ele não tinha certeza do que isso era ou se era algo bom ou ruim, de qualquer forma, era inquietando. Sentia que tinha que fazer alguma coisa, mas não sabia o quê.
Como se uma luz tivesse surgido, soube o que tinha que fazer. Levantou e secou o rosto, afim de tirar qualquer vestígio de lágrimas, andou até o guarda roupa e alcançou a mochila, começou a separar algumas mudas de roupas. Colocaria o essencial na mochila, tinha tempo por isso faria tudo com calma.
— Cal, a mãe acabou de falar que vocês vão visitar o vovô e eu vou ter a casa só pra mim. — Mali comentou, parada do outro lado da porta. — Está aí?
— Pode entrar.
— Então... — Abriu a porta, andou até a cama do irmão, sentou na ponta e ficou o observando. — Animado?
O moreno ergueu a mochila como se isso fosse uma resposta. A garota o observou atentamente, fez sinal para que ele sentasse ali com ela, e assim ele fez.
— Ela que não gosta de surpresas, decidiu em cima da hora que queria viajar, por uma semana... É estranho, sabe?
— Você não quer ir, certo?
— E eu tenho escolha? — O mais novo retrucou.
— Acho que não. — Ela sorriu, um sorriso sem humor, mas queria transmitir algum conforto ao irmão. — É só uma viagem, vai dar tudo certo, quando perceber já estará voltando pra casa.
— Por que ela quer tanto que eu vá? Nem ela mesmo gosta disso, sempre reclama quando vamos.
— Sinceramente... Acho que tem haver com você não ter ido da última vez. Mas... Pode ser só por ela querer passar um tempo com você.
— Como se não fizéssemos isso aqui, desde sempre. — Suspirou impaciente, levantou da cama e voltou ao guarda roupa.
— Você vai sobreviver, seja paciente.
O moreno fingiu estar ocupado com suas roupas, não queria ter que falar sobre aquilo, estava frustrado e ansioso. Mali suspirou antes de dizer que ele poderia conversar com ela se quisesse e saiu do quarto.
O moreno se arrastou pelo quarto até ter tudo que precisava, arrumou a mochila e a deixou do lado da cama. Ainda tinha mais coisas a serem feitas, mas ele optou por ouvir música e tentar dormir um pouco. Se deixou levar pela música, tentando separar e isolar o som de cada instrumento, e isso foi o suficiente para fazê-lo adormecer.
Por volta das seis da noite foi desperto de um sonho no mínimo curioso, seu pai o estava convocando para jantar e apesar de não ser um pedido, ele recusou. Estava com fome mas não queria ir comer naquele momento.
As cenas ainda estavam frescas em sua cabeça, as luzes invadindo seus olhos, aqueles grandes faróis que lhe engoliram e trouxeram tanto desespero. Tinha duas crianças no banco de trás, ele estava no banco do passageiro e não conseguia ver quem dirigia o carro, mas a pessoa segurava sua mão com força na hora do impacto.
Aquele sonho lhe embrulhou o estômago.
Limpou a barra de notificações sem realmente prestar atenção, não estava com vontade de conversar ou disposição para saber o que estava acontecendo no mundo.
Arrumou o quarto, tomou banho e colocou uma roupa quente. Da forma mais silenciosa que conseguiu, seguiu para a cozinha em busca de algo para comer. Antes que pudesse fazer isso, a voz de Joy preencheu seus ouvidos.
— Arrumou as suas coisas, ou já posso fazer isso? — Questionou, inexpressiva.
— Minhas coisas estão prontas.
— Certo. Seu prato está logo ali, — apontou para o armário. — é só esquentar. Pode fazer isso?
Ele concordou. Logo colocando o prato no microondas para esquentar.
A mais velha saiu sem dizer qualquer coisa, sentindo-se desnecessária naquele cômodo.Calum jantou em silêncio antes de voltar ao seu quarto. Esperou a casa ficar silenciosa e escuro para pegar sua mochila e sair sorrateiramente. Tinha algo em mente, mas não podia afirmar se daria certo ou não, era um tiro no escuro, uma aposta valendo tudo ou nada.
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Rare || Cashton
FanfictionAparentemente era um trabalho simples, cuidar para que Calum ficasse bem, mas houve um "efeito colateral" não previsto para esta função.