Os fones de ouvido foram conectados ao celular, e a música passou a abafar as vozes que vinham do cômodo de fora. Ele não queria ouvir mais nada que sua mãe falava.
Calum se deixou levar pela música, se permitiu fechar os olhos e construir uma história em cima da letra, imaginar emoções através das batidas. Deixou sua mente vagar para longe.
— Cal? — Mali lhe tirou de seus devaneios após tirar um lado só fone e chama-lo.
Ele não disse nada, apenas parou a música e retirou o outro lado do fone. Evitando encarar a irmã.
— Eu sei que está chateado, e tudo bem, mas você entende que não teria como ser de outra forma?
Ele discordava, mas nem isso lhe fez falar qualquer coisa. Encarava o globo de neve como se pudesse obter uma resposta através desse simples ato.
— Você não quer falar, entendi. Mas ainda assim eu vou te falar o que julgo ser necessário. Desde que você nasceu, todas as atenções foram voltadas pra você. Esta casa gira em torno de você. Desde então, você foi tudo que a mamãe sempre quis: obediente, caseiro, afetuoso, educado e gentil. Você nunca passou por cima das ordens dela, nunca chegou bêbado, nunca a ofendeu, nem se quer fez algo que ela não aprovasse. Como espera que ela entenda que você não é mais assim? Tudo bem que você está apenas passando algumas horas fora de casa, mas ela não vê dessa forma.
Ele pegou o globo de neve, o agitou para ver os pequenos flocos brancos misturados ao glitter voando e recaindo por cima da única rosa ali presente. Devolveu ao lugar e continuou o observando.
— Por Deus, fala alguma coisa! Eu estava tentando te ajudar ali fora, sabia? Estava tentando fazer a mamãe não ver maldade no Ashton, muito menos em você. Eu não sou a pessoa favorita dele nesse instante, e aparentemente nem sou a sua agora, mas...
— Te agradeço, mas não precisava falar com a Joy, o David disse que posso sair com o Ashton desde que eu não chegue tarde e nem use drogas, sem excessão para bebidas alcoólicas.
— Então é assim?
O garoto deu de ombros. Estava irritado por sempre ter todas essas restrições em relação a ele, sendo que a irmã poderia fazer qualquer coisa.
— Se a mamãe te pega se referindo a ela usando o primeiro nome... Quero nem pensar.
Calum agitou mais uns vez o globo, sorriu ao pensar que Ashton havia lhe dado de presente, algo tão delicado, tão singelo, tão precioso. Lembrava da história que ele havia contado sobre a rosa que tinha como companhia a neve e o brilho;
"Você sabe por que a flor tem espinhos?" o loiro perguntou, deixando o olhar sobre o globo.
"Proteção. É a única forma que ele tem para se proteger no caso de chegarem perto demais, perto o suficiente para lhe machucarem." Sorriu para a delicada rosa que se encontrava entre a neve.
"E ninguém acredita que ela é tão forte... Talvez por sua delicadeza,ela é subestimada, mas pode aguentar o maior dos invernos se conseguir manter a magia que emana." Seus olhos saíram do globo e pousaram sobre o garoto de olhos escuros e brilhantes. "Vê? Envolta de neve e magia. Mostrando se pode tudo, basta acreditar."— Já que estou atrapalhando seus devaneios, vou saindo. — A garota anunciou, mais uma vez despertando o moreno.
— Posso ir com você? Só vou ver o Ashton mais tarde, estou entediado.
Mentiu. Ele não estava entediado, ele só tinha medo de continuar pensando em Ashton o tempo todo, aquilo fazia o seu coração bater de forma acelerada, não sabia explicar, mas era uma sensação estranha.
— Eu tô indo pra biblioteca. — Fez uma cara sem graça.
— Entendo. Pode deixar, eu espero o Ashton poder vir me buscar.
Esperou a irmã sair de seu quarto, pegou o celular e enviou uma mensagem à Ashton, lhe informando que estaria na pracinha secreta.
Já faziam uma semana que Irwin havia lhe levado para o pracinha, e nesse semana eles haviam saído todos os dias e o loiro lhe ajudou a aprender algumas funções do celular, dentre elas mandar mensagem. Eles também tinham se conhecido bastante, sabiam mais sobre o outro.
Calum se preocupava com o fato de a cada dia estar mais viciado na presença do outro, e por mais que se vissem todos os dias, ainda sentia saudades. Aquilo era algo que o assustava, assim como todas as coisas que sentia e não conseguir explicar.
O celular começou a vibrar em suas mãos, atendeu antes que começava a tocar em volume alto.
"Como assim você está indo pra pracinha? Eu passo na sua casa em vinte minutos, deixa eu só sair daqui..."
— Não se preocupe, eu vou andando, acho que-
"Você não vai sozinho de jeito nenhum, me espera, por favor"
— Eu vou com a Mali até o ponto de ônibus, depois que todo mundo embarcar, eu pego o caminho para a pracinha.
"Tem certeza? Se você vir qualquer pessoa estranha enquanto estiver sozinho, entra em uma loja qualquer e me liga, Ok?"
— Ok. Mas eu já disse, vou com a Mali.
"Promete?"
— Prometo!
"Te vejo na pracinha daqui à pouco, se cuida."
Calum encerrou a ligação, sorrindo como sempre fazia toda vez que falava com Ashton ao telefone. Pegou seu fone, jaqueta e saiu na esperança de que a irmã ainda estivesse em casa.
Do contrário, teria que quebrar a promessa e ir sozinho, já que não queria ter que ouvir sua mãe falando como era perigoso ele sair todos os dias, como ele estava se tornando alguém diferente. Estava tudo uma bagunça em relação a seus sentimentos e Joy não ajudava muito ao deixa-lo mais confuso ainda.Por sorte viu a irmã em pé ao lado da porta de saída, ele correu para alcança-la. Sabia que seria estranho dizer a Mali que a acompanharia ao ponto de ônibus mas não chegaria a entrar no veículo, sabia também que ela não iria querer deixa-lo sozinho ali, mas não queria pensar nisso, por hora só queria andar ao lado da irmã na rua e se sentir o mais normal possível, mesmo que essa sensação não pudesse durar por muito tempo, já era mais que suficiente.
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Rare || Cashton
FanfictionAparentemente era um trabalho simples, cuidar para que Calum ficasse bem, mas houve um "efeito colateral" não previsto para esta função.