Os grunhidos de Marte fizeram Ashton desviar a atenção do livro e observa-lo, o filhote estava fazendo cabo de guerra com os lençóis da cama de Irwin.
— Marte! Pare com isso agora! — Repreendeu o filhote, que o olhou por breves segundos e voltou a puxar os lençóis.
O loiro foi até o filhote, tirando o tecido de sua boca e colocando em cima da cama onde Marte não alcançaria. Aproveitou para pegar o celular que estava entre os lençóis, assustou-se com a notificação de quatro chamadas perdidas de Mali-Koa.
Enviou-lhe uma mensagem se desculpando por não ter visto as ligações. Logo a tela brilhou, indicando que Mali estava ligando, atendeu rapidamente.— Eu não tinha visto as li-
“ O Calum está com você? Ele não atende o celular ” — A voz tremeu, era nítido a preocupação.
— Não? O Calum não está comigo. O que aconteceu?
“ Sério? Ele não está mesmo na sua casa? Não é que eu não confie em você, mas posso falar com a sua mãe? ”
— Até pode, mas poderia me falar o que aconteceu? Você não sabe onde o Calum está, é isso?
“ Ele tinha um compromisso agora pela manhã, mas não está em casa e não falou para onde ia, eu só... Posso falar com a Anne? ”
— Certo. — Levantou e começou a andar pela casa em busca da mãe. — O Calum sumiu?
“ Nós estamos ligando para as pessoas que ele conhece para saber sobre isso, porque não sabemos onde ele está, mas... ”
— Mali?
“ Não sabemos, de verdade. Se ele te procurar, me avisa, OK? ”
— Faça o mesmo por mim. Vou passar para a minha mãe...
Ashton ficou inquieto enquanto ouviu a mãe dar respostas curtas e alguns segundos depois devolver o aparelho para o loiro.
— O quê? Ela desligou? Mas... Certo, eu vou lá. — Avisou enquanto se afastava, seguindo até a porta. Seus pensamentos pareciam um lugar repleto de nevoeiro sem ter nada visível, não conseguia nem distinguir o que sentia.
Enquanto isso, Mali tentava lembrar de mais alguém que Calum tivesse contato, não tinha obtido sucesso ao ligar para Ashton e muito menos com Ben, não sabia o que pensar sobre o sumiço do irmão.
Joy parecia irritada, andando de um lado para o outro enquanto culpava qualquer pessoa que viesse a mente, por estarem naquela situação.
Com a chegada de Ashton, o humor piorou drasticamente.David até levou a esposa para outra sala no intuito de acalma-la, pois notou como a mulher pareceu mais irritada com a presença de Irwin.
— Querida...
— Não. Nem vem, David, eu não tenho direito de estar inquieta, não peça para que eu me acalme.
— Joy. Você estava prestes a descontar o seu estresse em outra pessoa. Vai te aliviar agora, mas e depois?
— Ele mereceria. Depois que o Calum conheceu esse daí, começou a fazer as coisas por impulso e ele não era assim. E isso vai piorar se eles continuarem se vendo. Não percebe?
— Você está fora de si. Não pode sair falando essas coisas, mesmo estando preocupada; todos nós estamos.
— Eu estou fora de mim? Depois que o Calum ficou sozinho com Ashton, ele começou a sair, não só isso mas sair sem avisar, começou a querer fazer coisas, vai saber o que o nosso filho está fazendo por aí. Você acha que isso é natural?
— Sabe quantos anos o Calum tem? Não são seis, nem oito, ele tem dezesseis. Nessa idade, você se parecia com ele? Se fechava para o mundo e não queria saber de nada além de ficar no quarto? Joy, o Calum sempre foi um bom menino, mas também nunca viveu como deveria. Não estou falando que fugir é certo, porque sabemos que não é, mas, poxa, ele não pode viver em uma prisão para sempre. Entende?
— Você... está passando a mão na cabeça dele? Logo agora? Você é inacreditável.
— Não estou passando a mão na cabeça de ninguém, sou estou dizendo que você não pode manter ele como uma criança indefesa pra sempre, ele não vai ficar na barra da sua saia a vida inteira.
— Agora eu que sou a vilã? Ele fugiu de casa e a errada sou eu?
— Joy-
— Não! Isso não vai nos levar a lugar nenhum, mas, fazer o Ashton nos falar onde o nosso filho está, isso sim vai dar resultados. E quando tudo isso acabar, Calum estará de castigo e proibido de ver esse garoto. — Dito isso, girou nos calcanhares e sumiu pela porta, determinada a fazer o que achava certo.
David a seguiu, chegando na sala o silêncio foi absoluto. Mali fazia sinal de silêncio aos pais enquanto ficava ao lado de Ashton que mantinha o celular no ouvido, mordia o lábio antes de falar qualquer coisa. Era como se o tempo tivesse parado, mas na verdade tudo foi muito rápido.
— Era o Calum. — A garota de cabelos descoloridos informou aos pais, com um tom de voz baixo. — O que ele disse? — Dessa vez se direcionou a Irwin.
— Estava na casa de um amigo, mas não disse qual. Queria ver a você e eu, às duas da tarde, na praça... Irá confirmar o endereço pelo seu celular.
— E é isso? — Joy nem tentou disfarçar a insatisfação. — vamos fingir que isso não foi irresponsável e ninguém está dando a devida importância? Vamos só fazer o que ele quer e ignorar o fato de ele ter preocupado todo mundo?
— Mãe, o importante é que ele está bem, vou ver ele e conversar, tentar trazer ele de volta.
— Tentar? — A mais velha riu de forma forçada. — Vocês precisam parar de agir como se ele pudesse fazer tudo o que quer e só na hora até quer.
— Não é hora pra isso. Apenas se acalme. — David pediu, impaciente.
— E quando vai ser hora pra isso?
— Quando você perceber que acabou de inverter os papéis, talvez... — Dito isto, o homem se retirou.
O ambiente ficou em um silêncio desconfortável.
Ashton se despediu de forma breve e não demorou a sair, visivelmente desconfortável.
Mali sorriu para a mãe enquanto dizia que as coisas ficaram bem e logo em seguida deixou a sala.
Joy ficou naquele silêncio ensurdecedor, sentindo seu corpo tremer - talvez de nervosismo ou estresse -, se deixou afundar no sofá. A cabeça latejava, os pés doíam de ter andado de um lado para o outro durante horas com aquela sandália desconfortável. Passou as mãos pelos cabelos, respirou fundo. Não queria mais esperar, iria começar tendo uma conversa com o marido, não gostava da forma que foi tratada e queria no mínimo um pedido de desculpas. Só queria que o tempo passasse rápido o suficiente para poder encontrar com o filho e questiona-lo sobre aquela atitude irresponsável.

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Rare || Cashton
FanfictionAparentemente era um trabalho simples, cuidar para que Calum ficasse bem, mas houve um "efeito colateral" não previsto para esta função.