Pelos Caminhos Do Seu Coração

Capítulo 2

    Não era assim que eu imaginava passar minha tarde de domingo, estou vestida com meu estilo de roupa básico, uma camiseta branca por dentro da calça jeans escura, um cinto fino de cor marrom claro, usando por cima da camiseta um cardigan listrado, alternando as cores entre um azul turquesa e branco, calçando um sapatilha simples da mesma cor do cinto. Deixo meus cabelos pretos e ondulados, soltos, batendo na altura do ombro. Estou pronta para ir em um pequeno almoço, no qual minha mãe e eu fomos convidadas pelos novos vizinhos, mas especificamente pela Sra. Callen.

    Ao chegarmos em casa, depois de sairmos da casa dos novos vizinhos, soube através de minha mãe que a mulher dos cabelos ondulados se chama Gracie Callen, segundo ela, a Sra. Callen trabalha na área da pediatria, e o motivo de terem se mudado foi justamente porque ela e seu marido, que descobri se chamar Hector Callen, ganharam uma grande oportunidade de trabalho aqui em São Francisco. A Sra. Callen conseguiu comprar um imóvel para abrir seu próprio consultório, já seu marido, conseguiu o emprego de editor-chefe na editora de jornalismo da cidade.

     Terminando de descer as escadas, na sala vejo minha mãe a todo momento tentando ajeitar seus cabelos e seu vestido evasê branco florido. Seus cabelos loiros e lisos, quase de mesmo tamanho que os meus, com uma das mechas presa por um grampo dourado, usando um brilho labial que destaca bem seus lábios redondos, deixa sua beleza ainda mais evidente.

— Ainda bem que já está pronta — diz ela virando-se e olhando para a escada que eu acabara de descer. — Estamos quase atrasadas. — Ela pega sua bolsa que está em cima do sofá.

— Está cedo ainda, e até agora não entendo por que temos de ir nesse almoço — falo indo para a cozinha, abro a geladeira e pego uma garrafa d'água.

— Eu já disse, Gracie nos convidou para almoçar em sua casa, ela ficou muito feliz por termos ido até lá ontem, ela é uma mulher bastante simpática e quer nos agradecer pela hospitalidade — ela diz um pouco alto por estar na sala. — E além do mais, eles agora são nossos vizinhos, então devemos pelo menos tentar uma amizade — completou agora já entrando na cozinha. Guardo a garrafa na geladeira.

— Ok, está bem — digo dando um pequeno suspiro. — Vamos então. — Acompanho minha mãe até a sala, logo saímos de nossa casa.

    Eu não me importo de almoçar na casa da Sra. Callen, Lily se demonstrou uma ótima companhia, apesar de ser uma garotinha de apenas nove anos, pelo menos ela é simpática e com ela há assunto, diferente de seu irmão, que pareceu não ir muito bem com a minha cara, e demonstrou não ter nem um pingo de simpatia.

     Mesmo não tendo bastante amizades, eu me considero uma pessoa...tolerável, são raras as vezes em que eu trato alguém com ignorância, sempre tentei ser gentil com todos, e isso me faz ouvir de Ellie — minha amiga que conheci na escola quando eu estava no primeiro ano do ensino médio —, que sou uma pessoa muito boba e às vezes paciente de mais, totalmente o oposto dela.

    Mas em certos momentos eu realmente me segurava para não ser rude, como agora. Já na sala da Sra. Callen — que nos recebeu com um sorriso que a deixa parecida como aquelas modelos em uma passarela, só que no seu caso, seu sorriso é espontâneo —, vejo Nathanael, que está sentando em um dos sofás perto da janela, direcionar seu olhar para nós assim que percebe nossa presença, ele retribui o cumprimento de minha mãe com um leve aceno de cabeça, e ao olhar para mim, me encara sério como se minha presença acabou de estragar o seu dia.

    Eu realmente não entendo, não entendo o porquê desse comportamento comigo, e isso me intriga, eu não fiz nada que o pudesse deixar bravo — já que nos conhecemos ontem —, e  mesmo que talvez esse seja o jeito dele, ele não devia me tratar dessa maneira sem ao menos me conhecer direito. Eu sempre tento conhecer as pessoas antes de querer julgá-las, mas no seu caso está sendo difícil.