Capítulo 36

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   Eu não queria ter que admitir isso, mas eu realmente estou deprimida pelo fato de saber que Nathan agora possivelmente está se divertindo em um encontro com uma garota linda, legal e interessante. Eu não queria estar sentindo esse arrependimento e tristeza que me agarram fortemente, e parece não haver solução para escapar disso.

— Tem certeza que está bem? — Ellie pergunta enquanto saímos de sua casa. Paramos na calçada.

— Sim, tenho certeza — digo, forçando um sorriso.

— Pois eu não acho. — Ellie cruza os braços.

— Eu vou... tentar ficar bem — digo e suspiro.

      Passei a tarde com Ellie assistindo a uma série que a mesma insistiu que eu deveria conhecer, mesmo tentando disfarçar, a garota conseguiu perceber meu desânimo, o que acarretou à várias perguntas feitas pela mesma e respostas incompletas de minha parte.

— Sentimentos e suas consequências — ela diz e revira os olhos entediada.

— Um dia você irá entender — digo e Ellie faz um expressão de desaprovação.

— Eu ainda acho que você devia dizer a ele o que sente.

— Não adianta, não mudará nada.

— Você já tentou?

— Chega, eu já disse que esse assunto morreu — digo e Ellie suspira impaciente.

— Você é impossível.

— Eu já vou. — Não quero ter que voltar a esse assunto. — Até segunda.

— Está bem. Até segunda — ela diz, se rendendo a minha decisão.

     Vou andando pela calçada em passos lentos, encarando o chão. Por que de tudo isso? Por que as coisas não podem ser simples? Por que eu tenho que ser tão medrosa?

    Em vez de pegar a rua em direção a minha casa, viro a esquerda e vou andando em direção a praça, ainda com os pensamentos longe. Já vai dar nove horas da noite, a praça não está tão movimentada hoje e agradeço por isso, um vento gelado sopra pelo meu rosto, fazendo meus cabelos balançarem de leve.

    Decido ir para uma área mais afastada, sento em um banco de madeira que fica embaixo de uma árvore e, mais ao longe, eu consigo ver o pequeno lago onde suas águas reluzem a luz da lua. Encaro o céu estrelado, tentando fazer com que ele me acalme e acalme o meu coração, os únicos sons que escuto agora é o canto baixo das cigarras e mais ao longe as vozes abafadas de algumas pessoas.

    Eu preciso e devo organizar os meus pensamentos, e encarar a realidade, sou uma boba adolescente não sabendo lidar com uma paixão. Isso me parece ridículo e me sinto uma idiota. Fecho os olhos, respiro fundo e solto o ar lentamente.

— Está uma noite bonita hoje — ouço alguém dizer atrás de mim e meu coração acelera. Sem hesitar, abro os olhos e me viro rapidamente sem me levantar do banco, e encontro aqueles olhos escuros e penetrantes, e um Nathan extremamente encantador  sobre a luz da noite.

— Nathan!? — exclamo e me repreendo por não conseguir disfarçar minha surpresa. Ele anda até mim, se sentando ao meu lado.

— Você está bem? — ele pergunta, encarando os seus pés. Eu ainda me encontro surpresa e com o olhar perdido, não acreditando que ele esteja aqui, agora, ao meu lado.

— Sim — respondo com a voz trêmula.

— É que você parecia bem distante. E exausta — Nathan diz e finalmente me encara, e eu o encaro. Estou feliz por tê-lo aqui agora.

— Não é nada demais.

— Certo.

    O silêncio preencheu o lugar, ambos voltando a encarar a paisagem a nossa frente, esfrego meus dedos uns nos outros em nervosismo e constrangimento. Como se por um passo de mágica, não conseguíssemos mais conversar, como se as palavras tivessem fugidas. Mas, independentemente de conversarmos ou não, eu quero preservar esse momento, sua companhia, o toque do seu joelho encostando no meu.

— Como foi seu encontro com Sophie? — pergunto quebrando o silêncio, mesmo não querendo saber nada sobre isso.

— Ah... foi agradável. Ela... — ele não termina de falar e me encara e mais uma vez nossos olhos estão conectados, os dele brilhando com a luz da lua, seus cabelos estão um pouco bagunçados e alguns fios caem sobre seu rosto.

— Ela? — indago para que ele continuasse a falar. Meu coração está apertado e sinto minha garganta travar.

— Sophie acabou se declarando para mim — Nathan diz indiferente, como se dizer aquilo fosse normal. Talvez seja para ele, mas para mim não, porque isso me fez ficar mais angustiada. Mesmo assim, pergunto:

— E o que... você disse para ela? — Mordo o lábio inferior, não conseguindo mais olhar para Nathan, porque talvez meus olhos possam entregar o meu descontentamento.

— Eu disse que não sentia o mesmo. — Nathan cruza os braços e  se ajeita de forma folgada no banco, olhando para o lago.

— Não sente? — pergunto confusa e surpresa. Ele não sente o mesmo por ela? Sinto uma onda de felicidade querer transbordar em meu coração. — Por quê?

— Por que eu gosto de você — Nathan diz sem rodeios e me encara com um sorriso de lado. — Gosto muito.

     Por um instante sinto tudo ao meu redor parar, minha respiração se torna descompassada e minhas mãos tremem, penso se não estou imaginado tudo isso, as suas palavras. Mas sei que é real, porque o seu olhar me transmite isso.

— Você... você... é. — Tento procurar as palavras.

— Eu sei que dizer isso assim foi repentino, mas eu precisava dizer, eu não sei como foi, mas, você se tornou alguém especial para mim, e pela primeira vez sinto coisas, por mim tão preciosas e ao mesmo tempo confusas — Nathan diz, como se fosse a última chance de jorrar aquelas palavras. — Chiara eu gosto de estar com você, gosto do seu sorriso, gosto quando passamos momentos juntos, e gosto ainda mais do fato de você nunca ter desistido de se aproximar de mim, mesmo com minhas objeções. Você me deixa confuso, e olhar para você torna tudo e cada dia valer a pena. E sei que meu sentimento vai muito além da amizade por você. — Nathan respira fundo e baixa o olhar para suas mãos. — E... mesmo que você não corresponda esse sentimento, eu precisava te dizer, por que...

    Sem terminar de falar, sou pega de surpresa assim que sinto os lábios de Nathan contra os meus, fico estática, duvidando se isso está realmente acontecendo, seus lábios são macios e aos poucos me permito fechar os olhos, sentindo a mão de Nathan em meu pescoço. Foi rápido, mas para mim significou muito mais.

   Nathan se afasta devagar, nossas respirações batendo uma contra a outra. Ainda confusa e assustada, eu o encaro, e as palavras fogem de minha boca, abro a boca para dizer algo, mas nada sai. Nathan avalia meu rosto por inteiro. Ele suspira.

— Me desculpe, eu não devia... ter feito isso — ele diz, desviando o olhar. E não consigo dizer nada assim que o mesmo se levanta e sai em passos rápidos de perto de mim, sumindo para longe.

   Por que não consegui dizer nada? Eu devia ter dito algo. Devia ter dito que também sinto o mesmo por ele. Estou surpresa, meu coração está acelerado e transborda em euforia. Meu corpo parece colado a esse banco, e não quer obedecer o meu cérebro. Por que não consigo me mexer?

    Tenho medo de que Nathan tenha interpretado de forma errada minha reação, meu silêncio. Não posso me acovardar agora. Não posso.



🌼🌼Aviso🌼🌼

* A história está em seus últimos capítulos*

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