Nathanael
Não sei como foi, mas quando percebi, já havia retirado meu violão do closet e o deixado em cima da cama, encarava o instrumente procurando o motivo do qual eu quis trazê-lo novamente para meu campo de vista, quis vê-lo, me certificar de que realmente estava ali, mas agora, me encontro perdido em minhas ações.
Escuto a soar da campainha, desperto dos meus pensamentos, por um momento havia me esquecido do jantar, havia me esquecido que novamente aquela garota estará aqui em casa, ultimamente não sei o que está acontecendo comigo, reforcei para mim mesmo que deveria me manter distante de Chiara, mas a garota faz questão de estar sempre por perto, e isso me incomoda. Se eu me afastei das pessoas foi por alguma razão, e acho que não estou pronto ou com vontade de me aproximar das pessoas novamente.
Meus sentimentos nas últimas semanas estão confusos, acho que sou orgulhoso demais a ponto de não admitir que a companhia de Chiara de certa forma me faz bem, talvez a causa disso deve ser porque ela foi a única pessoa que não se afastou de mim depois de eu a tratar com arrogância, e perceber que alguém está próximo de você depois de tanto tempo afastado das pessoas, traz um turbilhão de pensamentos e sentimentos, os quais desconheço.
Assim que escuto vozes no andar de baixo, me retiro do meu quarto a fim de respirar um pouco, fechando a porta ao sair. Passo pela sala despercebido, enquanto os demais estão ocupados se cumprimentando, saio pela porta dos fundos dando a volta pela casa, chegando na calçada da frente. Encaro o céu estrelado e com poucas nuvens, hoje a lua está escondida, parecendo não querer encarar o estado no qual me encontro agora. Por um momento, é como se, tudo o que fiz, e a forma com que lidei com a situação desde o início, depois do que aconteceu com Ben, foi errada e de maneira precipitada, mas ao mesmo tempo é como se eu tivesse feito o certo também.
Respiro fundo, e tento deixar tudo isso de lado. Decido entrar em casa assim que sinto o vento gelado bater contra meu rosto. Fico confuso ao perceber que não há ninguém na sala e nem na cozinha, chegando no corredor do andar de cima, estranho ao ver a porta de meu quarto aberta.
— Por que você está aqui? — pergunto assustado assim que vejo a figura da garota, que por alguma razão desconhecida, está dentro do meu quarto.
— Eu... — ela começa a falar e se vira para mim. Noto que a mesma está nervosa.
— Não mexa nisso. — Vou até ela que se afasta do violão, assustada e perdida.
— Me desculpe, eu...
— Você realmente é uma inconveniente.
— V-Você que deixa a porta de seu quarto aberta — ela diz e cruza os braços querendo não transparecer nervosismo.
— E isso lhe dá o direito de entrar? Eu me lembro muito bem de ter fechado a porta.
— Mas não fechou, ela estava escorada, eu vim pois sua mãe mandou chamar para jantar, como você não me respondeu quando chamei, eu abri a porta — ela diz de forma rápida desviando o olhar pelos cantos do quarto.
— E o que isso tem a ver sobre você estar dentro do meu quarto?
— Eu apenas... — Chiara leva seu olhar para o violão em minha cama e depois para meu rosto —, achei o violão bonito e quis ver de perto.
— Agora que já viu, pode se retirar — digo e pego o instrumento e o guardo em seu devido lugar.
— Você toca? — escuto Chiara perguntar e me assusto pelo fato dela ainda estar aqui. Me viro para a mesma e vejo que ela está sentada em minha cama.
— Isso não é da sua conta. E eu já pedi para você sair.
— Segunda já começa o teste para o time. Já está se preparando? — Ela não está me escutando, ou está se fingindo de idiota?
Mas acabo pensando no que ela disse, o teste para o time de basquete, não sei como fui parar nisso, só sei que a culpa é dessa garota, eu poderia simplesmente não fazer o teste pois não quero isso, mas o fato de que Chiara poderá se achar o centro da razão, faz meu ego impedir de eu voltar atrás.
— Por que? Está ensaiando de que maneira você poderá dizer que estava certa? — pergunto já sem paciência.
— Talvez — ela responde e eu solto uma risada soprada sem humor.
Chiara se levanta e vai até a mesa da cabeceira. Assim que a vejo tocar no porta-retratos, me aproximo rapidamente a fim de impedir que a mesma começasse a inspecionar meu quarto.
Quando toco em sua mão para que soltasse o porta-retratos, Chiara se vira assustada, e quando percebe que estou próximo dela, dá um pequeno passo para trás parando ao encostar na mesa da cabeceira. Noto que a distância entre nós não é a das mais favoráveis. Chiara me encara e retribuo seu olhar, uma sensação estranha percorre pelo meu corpo, seus olhos estão levemente arregalados e sua boca está entre aberta, me permito olhar cada parte de seu rosto, olhando atentamente, percebo que a mesma tem uma pequena manchinha embaixo do olho esquerdo, e me repreendo por achar aquilo adorável. Seria uma tremenda mentira eu dizer que Chiara não é uma garota bonita.
Aos poucos, vejo seu rosto ruborizar. Ela está envergonhada? Começo a ficar desconfortável e saio rapidamente de perto da garota.
— Eu... tenho que chamar Lily — Chiara diz rápido e sai em passos largos do quarto.
Solto o ar e controlo minha respiração, que notei só agora estar descompassada. Ajeito o porta-retratos no seu devido lugar. A fotografia de Ben e eu quando fomos para Nova York nas férias de verão retrasadas.
Durante o jantar tento ao máximo não encarar a garota, e torci aos céus para que a mesma não inventasse de puxar assunto, mas parece que ela está na mesma situação que eu. Até agora ela se manteve quieta.
— Chiara querida, está gostando do jantar? — escuto minha mãe perguntar, e finalmente levo meu olhar para a garota.
— Sim — ela responde soltando um sorriso atrapalhado.
— E como estão as coisas na escola? Nathanael está se saindo bem? — desta vez é meu pai quem pergunta e fico confuso por virar o assunto da conversa.
— Sim, ele está indo super bem, segunda-feira ele tentará entrar pro time de basquete. Não é? — Chiara finaliza de falar olhando para mim com um sorriso divertido nos lábios, e logo percebo sua intensão.
— Você não nos disse sobre isso — minha mãe diz e me encara com um sorriso largo.
— Porque não é certeza — digo e sirvo mais macarrão em meu prato.
— Não se preocupe, você se saíra bem, vou torcer por você — Chiara diz, e não consigo distinguir se ela está falando sério, ou se está tirando uma com a minha cara, independente dos dois, me senti novamente incomodado.
— Que bom que está conseguindo se dar bem por aqui — diz minha mãe, e consigo perceber que seus olhos estão brilhando. Eu apenas concordo com a cabeça na intensão de não prolongar esse assunto.
Levo uma última vez meu olhar para Chiara, que apenas sorri fechado voltando a atenção para o prato a sua frente. Também volto a comer, mas estranhamente, estou me sentindo mais leve e confortável.
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Pelos Caminhos Do Seu Coração
Teen FictionChiara Wright é uma adolescente que nunca precisou se preocupar com as pessoas porque ela tenta ao máximo evitar qualquer tipo de desentendimento, sempre agindo educadamente, vivendo sua vida tranquilamente em São Francisco. Mas isso muda após...