Capítulo 15

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Nathanael

Não sei como foi, mas quando percebi, já havia retirado meu violão do closet e o deixado em cima da cama, encarava o instrumente procurando o motivo do qual eu quis trazê-lo novamente para meu campo de vista, quis vê-lo, me certificar de que realmente estava ali, mas agora, me encontro perdido em minhas ações.

Escuto a soar da campainha, desperto dos meus pensamentos, por um momento havia me esquecido do jantar, havia me esquecido que novamente aquela garota estará aqui em casa, ultimamente não sei o que está acontecendo comigo, reforcei para mim mesmo que deveria me manter distante de Chiara, mas a garota faz questão de estar sempre por perto, e isso me incomoda. Se eu me afastei das pessoas foi por alguma razão, e acho que não estou pronto ou com vontade de me aproximar das pessoas novamente.

Meus sentimentos nas últimas semanas estão confusos, acho que sou orgulhoso demais a ponto de não admitir que a companhia de Chiara de certa forma me faz bem, talvez a causa disso deve ser porque ela foi a única pessoa que não se afastou de mim depois de eu a tratar com arrogância, e perceber que alguém está próximo de você depois de tanto tempo afastado das pessoas, traz um turbilhão de pensamentos e sentimentos, os quais desconheço.

Assim que escuto vozes no andar de baixo, me retiro do meu quarto a fim de respirar um pouco, fechando a porta ao sair. Passo pela sala despercebido, enquanto os demais estão ocupados se cumprimentando, saio pela porta dos fundos dando a volta pela casa, chegando na calçada da frente. Encaro o céu estrelado e com poucas nuvens, hoje a lua está escondida, parecendo não querer encarar o estado no qual me encontro agora. Por um momento, é como se, tudo o que fiz, e a forma com que lidei com a situação desde o início, depois do que aconteceu com Ben, foi errada e de maneira precipitada, mas ao mesmo tempo é como se eu tivesse feito o certo também.

Respiro fundo, e tento deixar tudo isso de lado. Decido entrar em casa assim que sinto o vento gelado bater contra meu rosto. Fico confuso ao perceber que não há ninguém na sala e nem na cozinha, chegando no corredor do andar de cima, estranho ao ver a porta de meu quarto aberta.

— Por que você está aqui? — pergunto assustado assim que vejo a figura da garota, que por alguma razão desconhecida, está dentro do meu quarto.

— Eu... — ela começa a falar e se vira para mim. Noto que a mesma está nervosa.

— Não mexa nisso. — Vou até ela que se afasta do violão, assustada e perdida.

— Me desculpe, eu...

— Você realmente é uma inconveniente.

— V-Você que deixa a porta de seu quarto aberta — ela diz e cruza os braços querendo não transparecer nervosismo.

— E isso lhe dá o direito de entrar? Eu me lembro muito bem de ter fechado a porta.

— Mas não fechou, ela estava escorada, eu vim pois sua mãe mandou chamar para jantar, como você não me respondeu quando chamei, eu abri a porta — ela diz de forma rápida desviando o olhar pelos cantos do quarto.

— E o que isso tem a ver sobre você estar dentro do meu quarto?

— Eu apenas... — Chiara leva seu olhar para o violão em minha cama e depois para meu rosto —, achei o violão bonito e quis ver de perto.

— Agora que já viu, pode se retirar — digo e pego o instrumento e o guardo em seu devido lugar.

— Você toca? — escuto Chiara perguntar e me assusto pelo fato dela ainda estar aqui. Me viro para a mesma e vejo que ela está sentada em minha cama.

— Isso não é da sua conta. E eu já pedi para você sair.

— Segunda já começa o teste para o time. Já está se preparando? — Ela não está me escutando, ou está se fingindo de idiota?

Mas acabo pensando no que ela disse, o teste para o time de basquete, não sei como fui parar nisso, só sei que a culpa é dessa garota, eu poderia simplesmente não fazer o teste pois não quero isso, mas o fato de que Chiara poderá se achar o centro da razão, faz meu ego impedir de eu voltar atrás.

— Por que? Está ensaiando de que maneira você poderá dizer que estava certa? — pergunto já sem paciência.

— Talvez — ela responde e eu solto uma risada soprada sem humor.

Chiara se levanta e vai até a mesa da cabeceira. Assim que a vejo tocar no porta-retratos, me aproximo rapidamente a fim de impedir que a mesma começasse a inspecionar meu quarto.

Quando toco em sua mão para que soltasse o porta-retratos, Chiara se vira assustada, e quando percebe que estou próximo dela, dá um pequeno passo para trás parando ao encostar na mesa da cabeceira. Noto que a distância entre nós não é a das mais favoráveis. Chiara me encara e retribuo seu olhar, uma sensação estranha percorre pelo meu corpo, seus olhos estão levemente arregalados e sua boca está entre aberta, me permito olhar cada parte de seu rosto, olhando atentamente, percebo que a mesma tem uma pequena manchinha embaixo do olho esquerdo, e me repreendo por achar aquilo adorável. Seria uma tremenda mentira eu dizer que Chiara não é uma garota bonita.

Aos poucos, vejo seu rosto ruborizar. Ela está envergonhada? Começo a ficar desconfortável e saio rapidamente de perto da garota.

— Eu... tenho que chamar Lily — Chiara diz rápido e sai em passos largos do quarto.

Solto o ar e controlo minha respiração, que notei só agora estar descompassada. Ajeito o porta-retratos no seu devido lugar. A fotografia de Ben e eu quando fomos para Nova York nas férias de verão retrasadas.

Durante o jantar tento ao máximo não encarar a garota, e torci aos céus para que a mesma não inventasse de puxar assunto, mas parece que ela está na mesma situação que eu. Até agora ela se manteve quieta.

— Chiara querida, está gostando do jantar? — escuto minha mãe perguntar, e finalmente levo meu olhar para a garota.

— Sim — ela responde soltando um sorriso atrapalhado.

— E como estão as coisas na escola? Nathanael está se saindo bem? — desta vez é meu pai quem pergunta e fico confuso por virar o assunto da conversa.

— Sim, ele está indo super bem, segunda-feira ele tentará entrar pro time de basquete. Não é? — Chiara finaliza de falar olhando para mim com um sorriso divertido nos lábios, e logo percebo sua intensão.

— Você não nos disse sobre isso — minha mãe diz e me encara com um sorriso largo.

— Porque não é certeza — digo e sirvo mais macarrão em meu prato.

— Não se preocupe, você se saíra bem, vou torcer por você — Chiara diz, e não consigo distinguir se ela está falando sério, ou se está tirando uma com a minha cara, independente dos dois, me senti novamente incomodado.

— Que bom que está conseguindo se dar bem por aqui — diz minha mãe, e consigo perceber que seus olhos estão brilhando. Eu apenas concordo com a cabeça na intensão de não prolongar esse assunto.

Levo uma última vez meu olhar para Chiara, que apenas sorri fechado voltando a atenção para o prato a sua frente. Também volto a comer, mas estranhamente, estou me sentindo mais leve e confortável.

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