Nathanael
Os últimos dias foram bastante inusitados, o que me deixou atônito, porque 1) Agora eu faço parte do time de basquete; 2) Voltei a tocar; 3) Vou tocar no baile; 4) Chiara e eu estamos tão próximos que nem parece que antes nossa convivência era complicada — boa parte por minha culpa — e 5) Por incrível que pareça, consegui me aproximar de tantas pessoas que me pergunto como foi possível.
Depois da conversa com Chiara na calçada, foi como se, por um passo de mágica, toda a minha antiga vida e meu antigo eu estivessem de volta, e isso é assustador. É como se eu fosse um animal preso em uma jaula, sozinho, apenas observando as pessoas passarem por mim, às vezes falarem comigo e eu apenas as encarava ou avançava para elas sairem de perto, e aí misteriosamente a jaula foi aberta, fazendo eu me libertar para o mundo, para o meu mundo, fazendo eu deixar tudo o que não queria, dentro da jaula, e corresse o mais longe possível dela, e assim esquecê-la por completo.
O meu passado, o Nathan do passado, o sofrimento, a confusão, a culpa, o arrependimento, foi isso que eu deixei na minha jaula, aprisionados, pois agora estou recomeçando no meu novo mundo.
Suspiro e solto um sorriso.
— Aconteceu alguma coisa? — minha mãe pergunta. Estamos na mesa de jantar.
Lily come uma coxa de frango como se fosse um lobo feroz. Meu pai come calmamente tentando não repreender Lily pela quarta vez. Mas ele sabe que não adiantaria. Encaro minha mãe.
— Não, não aconteceu nada. Por quê?
— Você estava sorrindo — ela diz me olhando confusa.
— Ah, não é nada, é que... não sei se cheguei a comentar, mas, entrei pro time de basquete da escola — digo calmo, como se aquilo não fosse nada demais.
— Oh! Meus parabéns! — minha mãe exclama, sorrindo aberto. — Isso não é o máximo, Héctor? — ela pergunta e encara meu pai.
— É claro. Fico muito orgulhoso de você, filho — meu pai diz e solta um sorriso semelhante ao de minha mãe.
— Obrigado — digo, também sorrindo. De certa forma, vê-los assim me faz bem, e sei que para eles, ver eu seguindo em frente e voltando a fazer coisas antes por mim deixadas de lado, os fazem se tranquilizarem e os deixa felizes.
Levo uma garfada de um pedaço de frango até a boca, e quando eu estava prestes a engoli-lo, Lily diz de boca cheia:
— Mentira, ele sorriu porque estava pensando na Chiara.
Quando ela termina de falar, me engasgo com o pedaço de frango. Tusso até finalmente sentir minha garganta livre.
— Não seja idiota — digo tentando normalizar minha respiração. De onde ela tirou isso? Lily dá de ombros. Escuto meus pais rirem.
— Isso é verdade? — minha mãe pergunta com um sorrisinho de lado.
— N-Não, Lily está blefando. — Me sinto desconfortável.
— Está bem, então. — Minha mãe volta sua atenção para seu prato, mas antes vejo ela levar um olhar desconfiado para meu pai ainda sorrindo. Era só o que me faltava.
Olho irritado para Lily, ela apenas solta uma risada, daquelas que ela dá quando consegue o que quer. Durante o jantar, tomei o cuidado de não engasgar de novo pois ainda permaneci desconfortável.
No meu quarto, eu fui até a varanda da janela, dá para ver daqui pela lateral, um pouco da rua. Olho para o céu e respiro fundo. Mesmo contra todas as forças, meus pensamentos se voltam para Chiara.
Ela é uma garota incrível e acho que devo agradecer a ela por fazer eu conseguir voltar ao meu mundo, é agradável estar ao lado dela, e é surpreendente como conseguimos nos entender. Eu me sinto culpado pelas formas que eu a tratava, mas ela parece não ligar mais para aquilo.
Gosto de estar com ela, gosto de quando ela me faz rir, gosto de quando ela diz alguma coisa sem pensar, gosto de como ela sempre me motiva e acredita em mim, gosto do seu jeito atrapalhado, gosto quando conversamos.
Suspiro pesado e embaraço meus cabelos, de uma hora para outra um turbilhão de pensamentos e sentimentos me invadem. Por que Lily teve que dizer aquilo? Por que estou dando tanta importância para aquilo?
Minha atenção é presa quando vejo Chiara chegando perto de sua casa. Deve estar voltando do trabalho. Ela caminha calmamente e se abraça quando um vento forte e gelado surge. Sorrio. Quando ela desaparece de minha vista, penso em descer e ir até lá fora e torcer para que a mesma não tenha ainda entrado em casa, e a pararia nem que seja para perguntar como foi o trabalho. Mas apenas volto para dentro do quarto e me jogo na minha cama. Eu devo estar ficando maluco. Decido deixar esses pensamentos definitivamente de lado.
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Pelos Caminhos Do Seu Coração
Teen FictionChiara Wright é uma adolescente que nunca precisou se preocupar com as pessoas porque ela tenta ao máximo evitar qualquer tipo de desentendimento, sempre agindo educadamente, vivendo sua vida tranquilamente em São Francisco. Mas isso muda após...