No dia seguinte, no domingo, combino com Nathan de irmos ao parque, ele leva o Charlie e eu o Tobby, decidimos sentar no gramado perto de um lago, Tobby sai em disparada, sumindo entre as pessoas, já Charlie permanece deitado ao lado de Nathan, o cachorro não está familiarizado com o local.— É lindo aqui — Nathan diz olhando para o lago.
— É sim, gosto de vir aqui. O que costumava fazer em San Diego? —pergunto também encarando o lago.
— Eu não saía muito, algumas vezes andava de skate ou saía para lanchar com meus amigos.
— Skate? Interessante. Mais um de seus talentos. — Sorrio e encaro Nathan. Ele sorri também.
— E você? Quais são os seus hobbies?
— Hum... assistir séries, passear com Tobby, sair com a Ellie, acho que só. Não tenho muitos passatempos.
— Que vida emocionante a nossa. — Rimos. — Na verdade, a maioria das vezes em que eu fazia algo diferente era por causa do meu irmão, ele sempre arrumava algo para fazer, lugares para ir.
— Algumas vezes minha mãe e eu saímos aos finais de semana, meu pai sempre planejava para onde íamos.
— É estranho fazer algo que você costumava fazer por causa de alguém, e agora é como se faltasse alguma coisa — Nathan diz e deita na grama.
— É estranho. — Deito também. — Talvez essa sensação nunca mude, mas isso não deve nos limitar. — Encaro o céu, coberto pelas nuvens.
— Eu fui um babaca depois da morte de meu irmão. — Nathan também encara o céu.
— É normal, tipo... você estava sofrendo, sua cabeça era só confusão. Nesses momentos a gente tenta afastar as pessoas, não há sentido em mais nada. Então não se culpe, há sentimentos e atitudes que não conseguimos evitar, e muitas vezes nem sabemos ao certo por que sentimos ou agimos de uma forma.
— Eu queria ter feito diferente — ele diz e suspira.
— Mas você pode começar a fazer diferente agora — digo e viro meu rosto para ele. — Comece a ser você, fazer o que gosta, fazer novos amigos, essas coisas. Pode até arrumar coisas novas para se fazer.
— É, talvez. — Ele me encara.
— Você poderia começar tocando no baile — digo sorrindo. Nathan levanta e fica sentado na grama.
— De novo isso? — ele diz com uma cara de tédio. Fico sentada também.
— Vai ser legal.
— Eu não consigo.
— Você nunca vai saber se não tentar.
— É uma péssima ideia. — Ele abraça seus joelhos.
— Que nada — digo com confiança cruzando os braços e sorrio.
Nathan me encara e depois desvia seu olhar para o lago, ele suspira pesado.
— Está bem, eu posso tentar, mas se for um desastre a culpa vai ser sua.
— Mas não vai ser um desastre.
— Às vezes acho você mais parecida com ele.
— Seu irmão?
— Sim.
— Então ele deve estar me agradecendo agora, já que consegui convencer essa sua cabeça dura.
— Ele deve estar mesmo. — Sorrimos.
Levanto do chão e limpo minha calça.
— Vamos, é hora do Charlie começar a se enturmar — digo e Nathan também levanta. — E eu preciso achar o Tobby.
— Certo.
No parque, eu brincava com Tobby enquanto Nathan tentava ensinar Charlie a buscar a bolinha de tênis que ele trouxe. Rio quando Charlie corre e derruba Nathan.
Em casa, não encontro minha mãe na sala, nesse horário ela costuma assistir a algum filme, sinto um cheiro agradável saindo da cozinha, vou até lá. Está cedo para o almoço.
Na cozinha vejo minha mãe animada cantarolando uma música desconhecida. Ela está de costas para mim.
— Mãe? — digo e ela se vira assustada.
— Que susto, menina! — ela diz colocando a mão do lado do coração.
— Qual a causa da animação? — pergunto. Ela sorri aberto e pega algo atrás de si.
Vejo em suas mãos um prato, e meus olhos brilham ao ver que ela fez o macarrão à bolonhesa que meu pai tanto fazia.
— Depois de muito sacrifício e tentativas falhas, finalmente consegui. — Ela coloca o prato na bancada e estende para mim. — Está cedo para o almoço, mas eu não sabia quanto tempo eu levaria para acertar.
— Não há problema — digo sorrindo.
— Vamos arrumar a mesa.
Com a mesa já arrumada, sentamos e minha mãe me encara com expectativa. Dou a primeira garfada no macarrão, logo o experimentando.
— Como está? — ela pergunta apreensiva.
Fico alguns segundos em silêncio, saboreando o gosto tão nostálgico e acolhedor daquela comida.
— Está ótimo — respondo animada com os olhos quase lacrimejando. Minha mãe esbanja um sorriso aberto.
— Não está exatamente igual ao que seu pai fazia, mas já é um bom começo.
— Ele certamente ficaria magoado se a senhora acertasse igualmente.
— Ele sentia muito orgulho dessa receita. Sempre se esbanjou por isso. — Sorrimos nos lembrando de meu pai de gabando por ser bom na cozinha.
— Tenho certeza de que agora ele faria uma cara emburrada e ficaria a evitando por uma semana — digo.
— Às vezes ele parecia uma criança.
Passamos o restante do almoço recordando os momentos mais engraçados e especias de meu pai. Apesar de ainda sentirmos um vazio, conseguimos conversar sobre meu pai de maneira agradável. Consigo ouvir ele dizendo" Eu ainda sou o melhor na cozinha, sua mãe apenas teve sorte".
— Gracie me contou que Nathan está se sentindo melhor aqui — minha mãe fala enquanto retiramos os pratos da mesa.
— Creio que sim.
— Ela me contou o que aconteceu com seu filho mais velho. Foi uma morte trágica — ela diz e por um segundo me pergunto: Que tipo de morte não é trágica?
— Sim, Nathan me contou.
— Percebi que vocês estão mais próximos ultimamente.
— Ele é uma pessoa legal. — Paro na pia e começo a lavar a louça.
Depois da nossa conversa e do desabafo de Nathan na calçada, ele tem se demonstrado bem diferente do que esperava, mais humorado, conversando abertamente, algumas vezes ele é carrancudo, mas não tanto como antes. Gosto de sua companhia e de conversar com ele, isso é estranho pois nos conhecemos à um mês e em uma semana construímos uma relação de amizade agradável. É esquisito como as coisas podem acontecer de forma inesperada e confusa. Sorrio negando com a cabeça, voltando minha atenção a louça.
— Você está gostando dele? — minha mãe pergunta e me viro assustada. Ela está escorada no balcão.
— O que? Por que está perguntando isso? — pergunto nervosa. De onde ela tirou isso? Será que foi por que sorri?
— Por nada, só que é difícil ver você próxima de alguém. E acho que eu aprovo o Nathan — ela diz naturalmente e me lança um sorriso divertido, logo saindo da cozinha.
— Mãe! — exclamo alto, incrédula com o que ela disse.
Penso na hipótese de Nathan e eu, mas balanço a cabeça freneticamente em um não com o pensamento.
— Não, não Chiara, isso é totalmente ridículo, sem cabimento e...impossível — digo para mim mesma.
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Pelos Caminhos Do Seu Coração
Teen FictionChiara Wright é uma adolescente que nunca precisou se preocupar com as pessoas porque ela tenta ao máximo evitar qualquer tipo de desentendimento, sempre agindo educadamente, vivendo sua vida tranquilamente em São Francisco. Mas isso muda após...