Capítulo 22

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    No dia seguinte, no domingo, combino com Nathan de irmos ao parque, ele leva o Charlie e eu o Tobby, decidimos sentar no gramado perto de um lago, Tobby sai em disparada, sumindo entre as pessoas, já Charlie permanece deitado ao lado de Nathan, o cachorro não está familiarizado com o local.

— É lindo aqui — Nathan diz olhando para o lago.

— É sim, gosto de vir aqui. O que costumava fazer em San Diego? —pergunto também encarando o lago.

— Eu não saía muito, algumas vezes andava de skate ou saía para lanchar com meus amigos.

— Skate? Interessante. Mais um de seus talentos. — Sorrio e encaro Nathan. Ele sorri também.

— E você? Quais são os seus hobbies?

— Hum... assistir séries, passear com Tobby, sair com a Ellie, acho que só. Não tenho muitos passatempos.

— Que vida emocionante a nossa. — Rimos. — Na verdade, a maioria das vezes em que eu fazia algo diferente era por causa do meu irmão, ele sempre arrumava algo para fazer, lugares para ir.

— Algumas vezes minha mãe e eu saímos aos finais de semana, meu pai sempre planejava para onde íamos.

— É estranho fazer algo que você costumava fazer por causa de alguém, e agora é como se faltasse alguma coisa — Nathan diz e deita na grama.

— É estranho. — Deito também. — Talvez essa sensação nunca mude, mas isso não deve nos limitar. — Encaro o céu, coberto pelas nuvens.

— Eu fui um babaca depois da morte de meu irmão. — Nathan também encara o céu.

— É normal, tipo... você estava sofrendo, sua cabeça era só confusão. Nesses momentos a gente tenta afastar as pessoas, não há sentido em mais nada. Então não se culpe, há sentimentos e atitudes que não conseguimos evitar, e muitas vezes nem sabemos ao certo por que sentimos ou agimos de uma forma.

— Eu queria ter feito diferente — ele diz e suspira.

— Mas você pode começar a fazer diferente agora — digo e viro meu rosto para ele. — Comece a ser você, fazer o que gosta, fazer novos amigos, essas coisas. Pode até arrumar coisas novas para se fazer.

— É, talvez. — Ele me encara.

— Você poderia começar tocando no baile — digo sorrindo. Nathan levanta e fica sentado na grama.

— De novo isso? — ele diz com uma cara de tédio. Fico sentada também.

— Vai ser legal.

— Eu não consigo.

— Você nunca vai saber se não tentar.

— É uma péssima ideia. — Ele abraça seus joelhos.

— Que nada — digo com confiança cruzando os braços e sorrio.

    Nathan me encara e depois desvia seu olhar para o lago, ele suspira pesado.

— Está bem, eu posso tentar, mas se for um desastre a culpa vai ser sua.

— Mas não vai ser um desastre.

— Às vezes acho você mais parecida com ele.

— Seu irmão?

— Sim.

— Então ele deve estar me agradecendo agora, já que consegui convencer essa sua cabeça dura.

— Ele deve estar mesmo. — Sorrimos.

    Levanto do chão e limpo minha calça.

— Vamos, é hora do Charlie começar a se enturmar — digo e Nathan também levanta. — E eu preciso achar o Tobby.

— Certo.

     No parque, eu brincava com Tobby enquanto Nathan tentava ensinar Charlie a buscar a bolinha de tênis que ele trouxe. Rio quando Charlie corre e derruba Nathan.



    Em casa, não encontro minha mãe na sala, nesse horário ela costuma assistir a algum filme, sinto um cheiro agradável saindo da cozinha, vou até lá. Está cedo para o almoço.

     Na cozinha vejo minha mãe animada cantarolando uma música desconhecida. Ela está de costas para mim.

— Mãe? — digo e ela se vira assustada.

— Que susto, menina! — ela diz colocando a mão do lado do coração.

— Qual a causa da animação? — pergunto. Ela sorri aberto e pega algo atrás de si.

     Vejo em suas mãos um prato, e meus olhos brilham ao ver que ela fez o macarrão à bolonhesa que meu pai tanto fazia.

— Depois de muito sacrifício e tentativas falhas, finalmente consegui. — Ela coloca o prato na bancada e estende para mim. — Está cedo para o almoço, mas eu não sabia quanto tempo eu levaria para acertar.

— Não há problema — digo sorrindo.

— Vamos arrumar a mesa.

      Com a mesa já arrumada, sentamos e minha mãe me encara com expectativa. Dou a primeira garfada no macarrão, logo o experimentando.

— Como está? — ela pergunta apreensiva.

     Fico alguns segundos em silêncio, saboreando o gosto tão nostálgico e acolhedor daquela comida.

— Está ótimo — respondo animada com os olhos quase lacrimejando. Minha mãe esbanja um sorriso aberto.

— Não está exatamente igual ao que seu pai fazia, mas já é um bom começo.

— Ele certamente ficaria magoado se a senhora acertasse igualmente.

— Ele sentia muito orgulho dessa receita. Sempre se esbanjou por isso. — Sorrimos nos lembrando de meu pai de gabando por ser bom na cozinha.

— Tenho certeza de que agora ele faria uma cara emburrada e ficaria a evitando por uma semana — digo.

— Às vezes ele parecia uma criança.

      Passamos o restante do almoço recordando os momentos mais engraçados e especias de meu pai. Apesar de ainda sentirmos um vazio, conseguimos conversar sobre meu pai de maneira agradável. Consigo ouvir ele dizendo" Eu ainda sou o melhor na cozinha, sua mãe apenas teve sorte".

— Gracie me contou que Nathan está se sentindo melhor aqui — minha mãe fala enquanto retiramos os pratos da mesa.

— Creio que sim.

— Ela me contou o que aconteceu com seu filho mais velho. Foi uma morte trágica — ela diz e por um segundo me pergunto: Que tipo de morte não é trágica?

— Sim, Nathan me contou.

— Percebi que vocês estão mais próximos ultimamente.

— Ele é uma pessoa legal. — Paro na pia e começo a lavar a louça.

     Depois da nossa conversa e do desabafo de Nathan na calçada, ele tem se demonstrado bem diferente do que esperava, mais humorado, conversando abertamente, algumas vezes ele é carrancudo, mas não tanto como antes. Gosto de sua companhia e de conversar com ele, isso é estranho pois nos conhecemos à um mês e em uma semana construímos uma relação de amizade agradável. É esquisito como as coisas podem acontecer de forma inesperada e confusa. Sorrio negando com a cabeça, voltando minha atenção a louça.

— Você está gostando dele? — minha mãe pergunta e me viro assustada. Ela está escorada no balcão.

— O que? Por que está perguntando isso? — pergunto nervosa. De onde ela tirou isso? Será que foi por que sorri?

— Por nada, só que é difícil ver você próxima de alguém. E acho que eu aprovo o Nathan — ela diz naturalmente e me lança um sorriso divertido, logo saindo da cozinha.

— Mãe! — exclamo alto, incrédula com o que ela disse.

     Penso na hipótese de Nathan e eu, mas balanço a cabeça freneticamente em um não com o pensamento.

— Não, não Chiara, isso é totalmente ridículo, sem cabimento e...impossível — digo para mim mesma.

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