Domingo de manhã. Encaro o teto do meu quarto indecisa se me levanto ou não. Aos poucos, lembranças da noite de ontem surgem em minha mente o que faz eu querer permanecer em minha cama por mais algumas horas, ou até dias.
Apesar de eu não ser uma apreciadora de bailes ou qualquer coisa que envolve música e muitas pessoas, ontem foi um tanto agradável e me senti confortável — tirando alguns acontecimentos inusitados —, e acho até que me fez bem sair um pouco da minha vida monótona. Decido por finalmente me levantar de minha cama e me dirijo até o banheiro e opto por tomar um banho gelado. Minha cabeça ainda está o maior rebuliço.
Descendo as escadas, estranho ao ouvir vozes no andar de baixo, reconheço a risada de minha mãe. Chegando na cozinha, meu corpo paralisa ao ver Nathan em um dos bancos da bancada enquanto toma o que reconheci ser a vitamina de frutas que minha mãe faz quando tenta agradar alguém. Eu nem sei como ele consegue tomar aquilo, nada contra vitaminas de frutas, mas a que a minha mãe faz parece carregar meio kilo de açúcar, eu já avisei à ela sobre isso, mas a mesma parece não se importar. Mas é claro que ela não se importa, porque ela parece mais uma formiga, fanática por doces.
Ao perceber minha presença, minha mãe olha para mim.
— Bom dia, querida — ela diz enquanto guarda um prato no armário.
— Bom dia — digo ainda estática na entrada da cozinha, aflita pela presença de Nathan. O que ele está fazendo aqui?
— Oi — ele diz assim que se vira para mim. Pisco algumas vezes, voltando a realidade.
— Oi. — Me aproximo do mesmo. — Por que você está aqui? — pergunto sentando no banco ao seu lado, tentando ao máximo espantar o nervosismo.
— Sua mãe meio que me trouxe — ele responde e sorri, me permitindo admirar a sua covinha solitária na bochecha. Franzi o cenho por sua resposta. — Eu estava no quintal com Charlie, aí ela apareceu e me convidou para tomar uma vitamina — acrescenta.
— Deixa eu adivinhar. Ela disse que essa vitamina é a especialidade dela? — digo apontando para o copo a sua frente.
Nathan faz que sim com a cabeça e toma um gole da bebida. Seguro uma risada quando o mesmo faz uma leve careta ao tomar a bebida, mas ele logo disfarça.
— Está boa? — pergunto sorrindo de lado.
— Sim — ele diz com a voz falha e limpa a garganta.
— Seja sincero, isso está puro açúcar.
— Ei! Minha vitamina é muito boa, mocinha, você que tem essas frescuras de não gostar de nada — minha mãe diz aborrecida.
— Isso é muito açucarado. Vai que Nathan é diabético — digo cruzando os braços.
— Se ele fosse, ele falaria. — Ela termina de guardar a última louça. — E ele gostou da vitamina. Não gostou? — ela pergunta para Nathan.
— Gostei sim — Nathan diz apreensivo, dando um sorriso forçado. Falso.
— Está bem. Eu vou ficar com meu bom e totalmente equilibrado café — digo e pego a cafeteira em cima do balcão e uma xícara.
Minha mãe sai da cozinha e vai para seu escritório, apesar de ela folgar aos domingos, mesmo assim ela decide resolver alguns assuntos do trabalho em casa. Olho para Nathan que faz outra careta ao bebericar a vitamina. Sorrio negando com a cabeça, pego um copo e vou até a geladeira, servindo água no mesmo. Sento novamente no banco e deposito o copo na frente de Nathan. Ele me encara franzindo o cenho.
— Só achei que você quisesse um pouco de água. Se não, não vai conseguir apreciar mais essa bebida na qual você adorou tanto — digo ironicamente e o mesmo sorri.
— Obrigado. — Ele pega o copo e bebe toda a água sem intervalos.
— Você não gostou, né? — pergunto. Nathan olha ao redor para certificar se minha mãe não estava por perto, e diz em voz baixa.
— Nem um pouquinho. Não gosto de vitaminas.
— Então por que aceitou? — Bebo um gole do meu café e pego alguns cookies em uma tijela. Nathan agora encara o copo de água vazio.
— Por... porque sua mãe disse que era a sua vitamina favorita, então eu tive curiosidade em experimentar. Achei que fosse um tipo de vitamina diferente — ele diz tudo sem me encarar.
— Bom, é uma vitamina diferente, de fato, mas essa não é a minha vitamina favorita. Acho que nem tenho uma — digo e demos risadas. Estendo a tijela de cookies para Nathan. Ele nega com a cabeça.
— Acho que vou ficar longe de coisas açucaradas por um bom tempo.
— É porque não experimentou o pudim de chocolate que ela faz. Aí sim, você iria ter aversão a doces, por quase um ano — digo de boca cheia e Nathan sorri.
Durante um minuto, um silêncio tomou conta da cozinha. Eu gostaria de falar com ele sobre a nossa dança, gostaria de saber se ele gostou tanto quanto eu. Gostaria de perguntar por que o seu coração estava batendo tão acelerado. Gostaria de perguntar se ele teve as mesmas sensações que eu. Sensações essas que eu tento a todo custo ignorar.
É nítido para mim que Nathan me carrega para um turbilhão de sentimentos, sentimentos esses que pareceram surgir de uma hora para outra. E a falta da minha compreensão com relação a esses sentimentos, faz me questionar sobre tudo. Por que agora a sua presença de certa forma me deixa desconcertada? Por que quando conversamos e sorrimos juntos, me sinto tão calma como se eu pudesse passar o dia inteiro em sua companhia? Por que tudo ao mesmo tempo parece complicado e simples demais? Por que esse garoto tem que estar em quase todas as coisas que eu penso?
— Como você e Sophie fizeram aquela surpresa para o baile? — Nathan quebra o silêncio. Nos encaramos.
— Usamos alguns projetores holográfico.
— Isso é bem legal. Ficou muito bonito no baile. Era como se estivéssemos no Espaço.
— Essa era a intenção.
— Chiara, você... — Nathan começa a dizer, mas não completa, e endireita a postura.
— O que? — pergunto para que o mesmo continuasse. Ele suspira.
— Nada, não é nada demais. — Nathan se levanta do banco. — Eu vou para minha casa — ele diz cabisbaixo, dando um sorriso mínimo. Aconteceu alguma coisa? Me levanto também do banco e paro em sua frente.
— Você está bem? — pergunto me aproximando mais de Nathan. Ele me encara, e eu o encaro, seus olhos percorrendo o meu rosto.
Nathan se aproxima mais de mim, fazendo-nos ficar a poucos centímetros de distância, nossos corpos quase colados. Sua boca está entreaberta e por um momento penso que ele vai me beijar, e por um momento desejo que ele me beije. Por um momento desejo quebrar a distância entre nós. Minha respiração começa a se tornar descompassada e minhas mãos tremem. Mas ele apenas balança de leve a cabeça em negação apertando os olhos com certa força.
— Estou bem. — Ele se afasta. — Só tenho que ajudar meu pai em uma coisa.
— Ah... sim — digo atordoada. — Eu o acompanho até a porta. — Nathan apenas concorda com a cabeça, sem me encarar.
Abro a porta, Nathan para quando já estava saindo, na escada da entrada, ele se vira para mim, abre a boca parecendo querer dizer algo, mas a fecha e sorri forçado.
— Tchau — é a única coisa que ele diz antes de voltar para sua casa.
— Tchau — digo e respiro fundo.
![](https://img.wattpad.com/cover/256984605-288-k539344.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pelos Caminhos Do Seu Coração
Teen FictionChiara Wright é uma adolescente que nunca precisou se preocupar com as pessoas porque ela tenta ao máximo evitar qualquer tipo de desentendimento, sempre agindo educadamente, vivendo sua vida tranquilamente em São Francisco. Mas isso muda após...