It hurts to love you

04

— Beijei Lana.

Eu pretendia omitir o que aconteceu. Não sabia como dizer, mas agora, olhando nos olhos da mulher que me ama, e que eu também amo, dói profundamente saber que estou causando tanta dor. De dor eu entendo. Grande parte de mim é formada por ela. 

Após o jantar, Robert quis tomar um pouco de uísque com Sean, Chuck e Lana na sala de estar.
O restante de nós dividimos uma garrafa de vinho enquanto jogávamos conversa fora, mas durante todo tempo eu não conseguia tirar os olhos de Lana. A maneira que seus lábios se uniam quando ela parava de sorrir. As mãos gesticulando o tempo todo. A risada alta o suficiente para ganhar a atenção de todos. Eu só conseguia olhar pra ela. E foi ai que percebi que Chuck não conseguia parar de olhar para mim. Ela percebeu que havia algo. Qualquer um perceberia, eu não fui muito discreta.
Foi nesse momento que eu não suportei mais. Eu tinha que contar. Ela precisava saber, então a chamei até o quintal e contei. As palavras simplesmente saíram.
Mas Chuck não ficou chocada. Ela não gritou. Não chorou. Não disse nada. Ela só balançou a cabeça como se aceitasse a derrota. Como se no fundo esperasse pelo pior.

Estou olhando para ela, pensando em como me desculpar.

— Eu só queria que ela fosse embora. Eu sabia que algo errado aconteceria se ela ficasse. Eu sinto muito – digo o mais verdadeiramente possível.

— Eu não sei como pude pensar que você realmente tivesse superado. Achei que todos esses anos sem ter contato com ela, fariam com que todos os seus sentimentos desaparecessem.

— Não é assim que funciona. Eu não funciono assim. Você estava lá quando começamos a namorar. Você estava lá quando ela me deixou, e ainda estava lá quando eu mais precisei. Você foi a maior amiga que eu poderia ter na vida. Mas com ela aqui, tudo volta, Chuck. Tudo volta, e eu percebi que nunca vou te amar como você merece. E eu sinto muito, porque qualquer pessoa teria a sorte grande de amar alguém como você.

Dizer o que eu sentia foi ainda mais difícil do que imaginei. Estou me segurando ao máximo para não chorar.
Chuck parece não ter ouvido nada, mas sei que ela ouviu. Sei que ela sabe que a partir de agora as coisas irão mudar. Por mais que eu não quisesse, não seria justo ficar ao lado de alguém por comodidade. Eu não quero mais ter que fingir. Ela não merece isso, ela merece mais. Pela primeira vez em dois anos, percebo que termos começado um relacionamento foi um grande erro. Chuck se apaixonou perdidamente por mim e eu não consegui recusar o seu amor. Eu me dispus a amá-la da mesma forma, mesmo que soubesse que não seria real.
Levei mais de quatro anos para me recuperar, e quando estava bem o suficiente para pensar em algo que não fosse Lana, me concentrei no piano. Dei tudo de mim. E como se não bastasse, depositei minha energia em mulheres. Me afundei na sensação dos seus corpos. Era como se eu buscasse o inalcançável.
Chuck se preocupou. Ela não gostava de me ver tão perdida e tão exausta. Ela disse que cuidaria de mim. Que eu poderia finalmente respirar. Foi nesse mesmo dia que ela confessou me amar.
Quando aceitei seu amor, e senti o sabor dos seus lábios, a segurança tomou conta do tormento. Ela me salvou.

— Eu sempre vou amar você – seu sorriso em meio as lágrimas parte o meu coração – eu entendo a minha irmã. Tudo bem, eu carrego o fardo de amar a mesma mulher que a ama. Eu que me meti nisso, não é? A culpa é minha. Eu vou ficar bem.

Meu corpo reage. A envolvo com tanta força que ela reclama, o que acaba nos fazendo rir. Chuck seca minhas lágrimas e depois segura meu rosto. Eu a beijo por uma última vez com todo carinho e gratidão que sinto.

— Desculpe atrapalhar, o papai está indo e queria falar com você – Lana aparece meio sem graça, seus olhos desviam de nós.

Chuck me solta dando um mínimo sorriso e passa por Lana.