It hurts to love you

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Tomamos o café da manhã tranquilamente. Como bem menos que o esperado, em visto que exagerei na noite anterior.
Eles passaram parte da manhã vendo desenhos animados que Marjorie implorou. A garotinha verificava a todo momento que a mãe estava ao seu lado. Eu não fiquei na sala. Não estava no clima.
Pouco antes do almoço pesquei um pouco com Rob e Charlie. Conversamos sobre casualidades, e acabei descobrindo que o pai de Lana está namorando. Ela é dois anos mais nova que ele e é dona de um salão de beleza bem famoso em Los Angeles. Lembro de ter passado na frente algumas vezes, mas nunca ter entrado por parecer antiquado demais pra mim. Fico feliz por ele. Lembro de não ter sido fácil quando a mãe de Lana simplesmente desapareceu. Em um dia parecia estar tudo bem, e no outro ela apenas foi embora deixando para trás todas as pessoas que a amavam, e uma carta. Desde então todos agem como se ela tivesse morrido. Chega ser mórbida a forma como ninguém nunca toca em seu nome. Uma vez mencionei o seu nome, anos atrás, e Lana só fingiu não me ouvir.

Tirando todo foco dos meus próprios pensamentos, ouço Charlie nos agraciar com uma nova notícia também. Um segredo. Iria pedir Taylor em casamento dali duas semanas e pediu ao pai um dos anéis que sua mãe deixou. Disfarço minha surpresa ao tocarem indiretamente no nome dela, mas logo paro de prestar atenção quando ele começa a falar sobre a festa de casamento que queria. Começo a pensar se um dia irei me casar. Tenho quase quarenta anos. Nunca fui o tipo de mulher que tem como objetivo de vida se casar e ter filhos. Na verdade, nunca pensei em ter filhos. Nem mesmo durante meu relacionamento com Lana na adolescência. Nunca me vi como mãe, apesar de amar crianças. E nunca pensei em casamento nos últimos dez anos. Pensei um pouco aos dezesseis. Me imaginava casando com Lana, às vezes. A ideia de viver uma vida toda ao seu lado não era ruim. Até hoje continuo com o mesmo pensamento, menos a parte do casamento. Depois de todo esse tempo e de tudo pelo o que passamos, não acho necessário. Nem ao menos é algo que eu acredito. Ter uma boa vida com ela é o suficiente. E se com isso significa ter que me adaptar a Marjorie, tudo bem. Eu aguento. Nossa relação pode até começar a dar certo com o passar do tempo. Nos conhecemos há três dias, ainda temos muito pela frente, mesmo que ela não goste de mim. E sinta ciúme, assim como eu. A diferença é que ela pode. Ela é uma criança. Já eu...

Logo depois do almoço, Lana começa a arrumar nossas coisas. Fiquei perto dos carros, dando uma olhada nas últimas notícias que os sites de fofocas fizeram. Há fotos nossas do dia que fomos ao bar. Há várias de Lana em alguns pontos da cidade. Há muitas especulações sobre quem é a nova melhor amiga de Lana del Rey. Após rolar mais alguns sites, descubro que já sabem que sou sua amiga de infância, e que nos reencontramos após muito tempo sem contato algum. Sou descrita como a ex de sua irmã, Carolina Grant. Não falam muito sobre mim, o que me conforta. Não gosto de holofotes, e ultimamente Lana parece pensar da mesma forma.

— Vocês já vão?

Chuck me faz apagar a tela do celular e abrir um sorriso.

— Sim, daqui a pouco.

— Foi divertido. Senti falta de passar um tempo com você.

— Eu também. Podemos marcar alguns almoços.

Ela abre um sorriso gentil e me abraça de lado.

— Você pode ir visitar sua antiga casa.

— Sinto falta de um quintal enorme para relaxar.

Rimos um pouco, antes de nos afastarmos ao vermos Lana se aproximando com as malas e algumas mochilas da filha. Ela mal olha para nós. Vai direto para o porta-malas. A garotinha vem logo atrás com o restante do pessoal.
Nos despedimos de todos e caímos na estrada. Marjorie dorme na cadeirinha, o que me dá passe livre para olhar para o seu rosto sem julgamentos. Ela é mais parecida com Barrie do que eu havia reparado.