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Juntos contra mim, o despertador e o sol quente me expulsam da cama. Além de ter que me arrumar e preparar o material que deveria ter preparado na noite anterior para as aulas de hoje, tenho que lidar com Chuck semi-nua na minha cama. Oh sim, ela fez questão de tirar as calças no meio da noite. Graças a Deus não passou disso.
Na correria entre terminar o café da manhã e reler algumas partituras, agradeci pela sua presença e pelos doces. Ela foi embora ao mesmo tempo que eu saia para ir ao colégio. Nos despedimos com um longo abraço. Não vi tristeza em seu olhar. Chuck parece melhor do que antes. Ou sabe fingir bem.

Não tive muito tempo para pensar em Lana ou Barrie. Foquei nos alunos. Na música. No trabalho.
A sala estava menos cheia que de costume devido aos treinos para o campeonato de futebol. Muitos alunos matam aula descaradamente para assistir e outros estão no time.

A primeira aula correu bem. Izabel, uma de minhas alunas ficou dando risadinhas a aula toda com sua colega. Percebi que às vezes olhavam pra mim. Por um segundo me senti uma adolescente de novo com medo do que as outras garotas poderiam estar falando.
Durante o intervalo estava tentando adiantar as aulas de amanhã e dos próximos dias até Izabel aparecer.
Não havia mais ninguém na sala além de mim, dois pianos, várias cadeiras e diversos outros instrumentos.

— Com licença, posso entrar? – Diz a garota que já está dentro da sala.

— Sim.

— Eu não quero te atrapalhar, eu só queria entender melhor uma coisa – Ela se aproxima da minha mesa com uma das cópias que dei a eles no fim da aula.

— Quais são suas dúvidas?

— Essa parte aqui – ela se coloca ao meu lado e aponta para a primeira linha. Sinto seu cabelo contra o meu braço. Izabel está inclinada, próxima demais – Sei que você precisa passar a parte teórica da música. As histórias são importantes, mas tão chatas – ao olhar para mim sua atenção vai para o minúsculo decote da blusa escura que escolhi essa manhã. Percebendo o que fez, suas bochechas ficam vermelhas.

— Acho melhor falarmos sobre isso na próxima aula. Dei o papel no final para vocês lerem em casa e discutirmos amanhã – Minhas palavras soam mais rispidas do que eu gostaria. Eu não sei como lidar com essa situação. Estou tão envergonhada quanto ela.

— Tudo bem, desculpe te incomodar durante seu intervalo – Izabel se afasta depressa e abre a porta, mas antes de sair, se vira de volta – Professora?

— Sim?

— É verdade que você é lésbica?

Me pergunto como ela soube. Pelo visto as fofocas da sala dos professores voam tanto quanto as dos corredores.

— Sim, por quê?

— Só queria confirmar se era verdade ou só mais um boato.

— Faz alguma diferença?

— Não – Izabel da um sorriso tímido e finalmente sai.

Respiro fundo, aliviada, e volto minha atenção para o computador. É exatamente do que eu preciso na minha vida agora: uma adolescente interessada em mim.
Meu Deus, me pergunto se algum dia terei paz. Na verdade eu tive um pouco antes de Lana voltar. Será que com ela vem toda bagagem do universo disposto a me foder?

— Falando no diabo – comento ao ver seu nome da tela do celular.

Oi Marina.

Oi.

Está trabalhando?

— Estou no intervalo.

Posso te pegar hoje? Que horas você sai?

It hurts to love youOnde histórias criam vida. Descubra agora