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A canastra se arrastou por mais tempo do que eu gostaria, o que atrasou a saída do jantar, mas nenhuma dessas circunstâncias me aborreceu tanto quanto a ideia do que viria após o jantar. O karaokê.
Todos estavam de banhos tomados e barrigas cheias, quando Lana começou a instalar o microfone. Marjorie parecia animada para cantar. Ficou saltitando pela sala dando pequenos gritinhos. Até sorriu pra mim por uns dois segundos.

— Tudo pronto. Teste, teste, testando – Ela bate três vezes no microfone e um som estridente ressoa pela sala, causando uma careta em todo mundo.

— Meu Deus, que idéia infeliz. – Chuck resmunga do meu lado. Ela se sensibiliza comigo, mesmo gostando um pouco de tudo isso.

Estou surpresa que Carolina se manteve estável toda noite. Nem desviou os olhos quando Lana me beijou em sua frente. É como se aos poucos, com o passar do tempo, se acostumasse com nós duas juntas. Mas após o acontecido no quarto, percebi que ela sabe que tem uma parte minha que Lana nunca vai ter. Ela tem todos os anos que Lana me deixou, e isso parece bastar.

— Também acho – respondo.

— Você odeia isso, né? Eu também odiaria depois da última vez. – Tenta disfarçar a vontade imensa de rir da minha cara.

— Eu jamais serviria para ser cantora.

— Sua voz é linda, você só não tem presença de palco – Ela me dá três tapinhas no joelho.

— Eu tenho presença de palco – Charlie se intromete.

— Tem uma ova. – Chuck empurra sua cabeça de leve, tendo que se esticar sobre meu corpo para alcançá-lo.

— Quanta agressividade. – Ele acaricia o local nocauteado.

— É incrível como irmãos nunca crescem, independente da idade – Taylor comenta. Não de uma forma crítica, apenas como uma observação em voz alta.

— Ok, vamos lá. Vou cantar uma das minhas músicas – Lana ganha nossa atenção.

— Que humildade – Charlie comenta.

— Cala a boca – ela retruca e volta ao foco. Liga a TV, seleciona a música, configura a caixa de som e a melodia toma conta do ambiente.

Love – Ela abre um sorriso enorme – I said real love. – E canta olhando diretamente pra mim. Dentro dos meus olhos. – Is like feelin' no fear. When you're standin' in the face of danger.
'Cause you just want it so much.

A cada frase cantada, uma nova parte do meu corpo se arrepia. Não é só sensual. É mais do que íntimo. Ter a certeza de que Lana escreveu essa música para mim, faz todo chão desaparecer sob os meus pés. Eu quero abraça-la. Quero tomar o microfone de sua mão, joga-lo no chão e beijá-la nesse exato momento. Na frente de todo mundo. Quero deitar em cima do carpete e fazer amor com ela tão intensamente a ponto de que ela saiba, a cada maldito toque, a cada maldito beijo, que a amo. Que a desejo. Que sei que ela também me deseja. Quero que ela saiba, que porra! Ela é minha. Só minha.

Mas não faço nada disso. Fico sentada no sofá, embabascada, enquanto a vejo performar a música mais gostosa que meus ouvidos já escutaram. No final, todos aplaudem e dizem que tem uma criança na sala. Marjorie não se importa com a performance da mãe. Ela gosta. Canta junto, mesmo sem compreender direito o que a letra significa. E depois toma o microfone da mãe, e começa a cantar Shake It Off.

Quando me certifico de que todas as atenções estão voltadas a Mar, puxo Lana para a cozinha e a pressiono contra a geladeira.
Não espero que ela diga nada, apenas a beijo de súbito. De uma vez. Tão alvoroçada que preciso separar nossos lábios para conseguir respirar.

It hurts to love youOnde histórias criam vida. Descubra agora