Não troquei muitas palavras com Marjorie.
A garotinha não parece muito empolgada com a minha presença. Passa a maior parte do tempo no colo do avô, de risadinhas com Taylor e Chuck ou dando cambalhotas para o tio ver. Algo me diz que ela não gosta muito de mim. Me lançou olhares de julgamento quando repeti o almoço pela segunda vez. Ela não come muito, talvez seja por isso. De qualquer forma, não levei a sério.Sentada em uma das cadeiras de pesca, próxima ao lago, observo a família que parece ter saído de um verdadeiro comercial de margarina. Até os peixes estão contemplando as boas vindas a Marjorie. Mar. Peguei três de uma vez, e mais cedo Rob comentou que pescou cinco para assarmos no jantar.
A sobremesa de Taylor ainda não ficou pronta, e faz quarenta minutos que almoçamos. Confesso que após dois pratos e um pouco de vinho branco, ainda estou pensando na torta de pêssego com chantilly. Que Marjorie provavelmente irá julgar também.Estou sozinha à beira lago. Apenas curtindo a brisa fresca de um belo dia de sol, enquanto pesco e observo todos os outros na maior solidão. Eu precisava de um tempo longe deles. Só o suficiente para pensar com clareza. Lana ainda está brava comigo. Me passou a salada durante o almoço de má vontade. Acho que ninguém percebeu, estavam entretidos demais com Mar recitando um poema em alemão. Ah sim, descobri que ela fala além de inglês, alemão e espanhol. Pelo o que entendi, irá aprender francês no colégio. Fico feliz em não ser a professora de música do ensino fundamental. Por alguma razão a ideia de ensiná-la me aborrece. Não a odeio ou a detesto. Nem a conheço. Ela é só uma criança, e gostaria muito que gostasse de mim, mas não senti nenhum tipo de vínculo. Sua mãe bem que poderia me ajudar, se não estivesse tão zangada. Preciso amansar minha namorada contra a minha vontade, só para chegar em sua cria. Será que é assim que funciona a natureza?
Afundo a vara na terra e vou até os demais.
Lana está sentada em um dos bancos, que fica próximo a um balanço enorme que vivíamos caindo quando éramos crianças. Parando para analisar, não penso sobre nossa infância há tempo demais. Parece que Lana levou com ela para Londres todas as minhas memórias. Os outros se mantêm por perto, próximos a nós.— Oi – levo as mãos em seus ombros, massageando devagar. Tento ser o mais carinhosa possível.
— Oi – ela soa indiferente, diferente de mim.
— E essa sobremesa, não sai?
— Sei lá. Bem que eu queria um pedaço.
— Meu chantilly ficou gostoso. Bem firme.
Lana adora meu chantilly. Ou pelo menos adorava.
— O que você quer?
— Não posso conversar com a minha namorada?
— Você nunca me fez uma massagem nos ombros.
— Nunca é uma palavra muito forte. Eu já fiz. Só faz muito tempo.
Ela chacoalha os ombros e interrompe meu toque. Me contenho para não revirar os olhos. Me dou por vencida e me sento ao seu lado, observando a garotinha ir em direção ao balanço. Ela se senta com dificuldade, quase cai, e Lana não move um músculo, apenas a observa, assim como eu. Marjorie se acomoda e começa a balançar.
— Devagar filha – Lana adverte. Seu tom soa como o de uma verdadeira mãe. É tão estranho vê-la nesse papel.
— Ela é uma gracinha.
— É.
— Mas acho que me detesta. – Digo baixo o suficiente para a garota não ouvir.
Lana me olha no mesmo instante.
— Por que? Ela disse alguma coisa ruim?
— Não. Na verdade, não disse nada.
— Ela não te detesta. Mal te conhece.
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It hurts to love you
Storie d'amoreLana e Marina se conhecem desde crianças. Cresceram dentro dos braços uma da outra, até que uma delas, Lana, decidiu seguir seu coração. Decidiu seguir a música. Anos após sua partida, Marina se reergueu, conseguiu construir uma vida feliz ao lado d...