Sentada em frente ao computador pelo o que parecem horas me perco deliciosamente em melodias e letras que estão guardadas na memória há alguns anos. São músicas que me lembram a infância. Que remetem uma época que eu gostaria de voltar. Pouco antes de todo o tormento da adolescência, quando éramos crianças e não tínhamos o peso de um sentimento tão grande para a idade. Quando éramos corpos pequenos com grandes corações e um futuro fantasioso, incerto. São íntimos demais. Doces demais. Intensos demais. Tenho me sentido estranha ultimamente, e esse sentimento tem nome.
Elizabeth.
Só paro quando meus olhos estão marejados, meus dedos cansados e minha mente vazia.
Tomo um longo e demorado banho. Em seguida escolho meu vestido violeta com flores pretas e saltos não muito altos. Checo o celular duas vezes antes de pegar a chave do carro e ir ao encontro de Halsey. Cometi o erro de permitir que Lana fosse. Digo erro, porque não avisei ninguém. Halsey não disse nada sobre levar um acompanhante, mas espero que não se importe. A voz melosa de Lana ao telefone martelou repetidamente em minha cabeça nas últimas horas. Não consegui rejeitá-la.Chego ao endereço em mais ou menos quarenta minutos. Ficava mais longe do que eu imaginava. Ao sair do carro, avisto o local e me pergunto que espelunca é aquela. A tinta da parede é de um azul escuro desgastado com uma placa com letras brilhantes escrita: Joe's bar pong. Espero que por dentro seja melhor do que por fora. Há vários adesivos nas janelas assim como na porta de entrada. Não achei que os professores de um colégio particular chique frequentassem esse tipo de local. Me sinto bem vestida demais. Talvez eu devesse ter colocado jeans e uma regatinha. Tênis e não saltos.
Olho ao redor em busca de Lana. Ela disse que me esperaria na frente, mas não encontro ninguém. Essa rua não tem movimento algum a não ser por um mercadinho na esquina.
Olho pacientemente para um lado e depois para o outro antes de atravessar. Do outro lado da calçada, dentro de um carro, há um homem com boné e uma câmera nas mãos. Ele parece distraído ao mexer no aparelho, mas assim que me nota captura várias imagens. Fico atordoada. Confusa. E então me dou conta da mulher que acabou de parar ao meu lado. Lana. Ele tira várias fotos. Não sendo suficiente, sai do carro e caminha até o meio da rua descaradamente. Lana revira os olhos e me puxa para dentro do estabelecimento antes que ele venha.
Ao entrarmos, o cheiro forte de cigarro e cerveja embriaga todo meu corpo. O carpete bege, limpo, me surpreende. Assim como as duas mesas de ping-pong e sinuca.
Há uma espécie de fliperama também em um dos cantos. No meio do local há o bar em si dois barmans e alguns bancos ao redor do balcão. É bem iluminado e bonito. Não faz jus à fachada.
Pessoas estão espalhadas pelo local sentadas em mesas, jogando e até mesmo dançando a música animada e meio alta que preenche todo o ambiente.— Que lugar legal – ela comenta tão surpresa quanto eu. Parece ter esquecido do cara lá fora que tirou várias fotos nossas. Talvez não se importe.
— É melhor do que por fora. – Finalmente tiro toda minha atenção do lugar para olhar para ela. Realmente olho. Reparo em todos os detalhes do seu rosto e do seu corpo. Lana está vestida a caráter. Usa jeans e uma camiseta curta que mostra uma fresta da barriga. Um coturno nos pés completa o visual. Seu cabelo está solto com ondas naturais. Adoro quando ela não alisa ou usa babyliss. Também há um pouco de maquiagem nos olhos.
— O quê? – Ao ser pega no flagra tento disfarçar, mas não funciona. Ela sabe o que eu estava fazendo e parece gostar. Faz o mesmo comigo e depois abre um sorriso enorme.
— Vamos procurar o pessoal.
Saio na frente em busca de Halsey, em visto que não tenho ideia de quais colegas de trabalho estão aqui. A reconheço pelo cabelo curto e sigo até sua mesa. Há outras quatro pessoas. Reconheço duas das professoras, mas não faço ideia de quem seja o cara. Não a princípio. Preciso olhar para ele mais um pouco para me lembrar de que se trata do professor substituto de Artes cênicas. Se cruzei três vezes no colégio com ele foi muito.

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It hurts to love you
RomanceLana e Marina se conhecem desde crianças. Cresceram dentro dos braços uma da outra, até que uma delas, Lana, decidiu seguir seu coração. Decidiu seguir a música. Anos após sua partida, Marina se reergueu, conseguiu construir uma vida feliz ao lado d...