the trouble bus that was a few years late

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Pessoas mais velhas costumavam gostar de mim, adultos cujo a sensação de silêncio começa a soar como música entre seus 30 em diante. Porque eu era sempre educada, falava baixo e conseguia ser engraçada de modo tranquilizador. Talvez exatamente por isso outras pessoas da minha idade não quisessem contato comigo, porque me achariam um saco. Parece uma boa explicação para o que aconteceu com Jennie Kim, ela só demorou um pouco para perceber.

E havia outra coisa crescendo em meu âmago além de ansiedade. É algo que primeiro formiga, depois começa a inchar, dilatar e explode no final. Deve ser uma reação comum a respeito de quando finalmente percebemos que estamos migrando da infância para a adolescência. Então fiz minhas pesquisas e soube que temos dentro de nós uma coisa chamada libido, e soube também que (de um modo técnico diretamente explicativo) a minha libido parece ter tido seu desenvolvimento retardado por diversos fatores químicos e neurobiológicos, o que fez com que ela se manifestasse em meu corpo de modo mais tardio que o normal. Isso foi um grande problema. Vontades e pensamentos estranhos me atacam nessa parte da história.

Eu já sabia que estava ferrada quando toda garota tinha sentimentos irreparáveis e profundos por Kevin Bacon em Footloose, enquanto eu era quem secretamente não tirava os olhos de Lori Singer. Mas ainda não é aqui, com Singer, que as coisas acontecem. Iniciou, na verdade, num dia caótico de sexta-feira onde Chaeyoung mandou um recado através de uma de suas súditas não-tão-fiéis dizendo para encontrá-la no vestiário feminino após minha última aula. E eu fui.

Entrei naquele gigante retângulo branco e rosa cheio de vapor, fui caminhando pelo piso brilhante de mármore em busca de Park, mas as garotas me faziam esquecer o motivo de eu estar ali a cada segundo, algumas em hidromassagens bebendo martinis e vivendo melhor que eu. Secadores de cabelo estavam ligados e elásticos de calcinhas eram esticados e disparados contra as peles das cinturas (Splash). A diversidade de erotismo estava me deixando meio bêbada, pois Santo Deus, poderia ser uma arte exibida no vaticano. Com cabelos úmidos e enrolada numa toalha, Chou Tzuyu tinha erguido o pé sobre um banco de descanso e massageava as panturrilhas com hidratante, ela me percebe no ambiente e sorri. Eu entro em pânico — porque estava quente e desconhecia a sensação inquietante que abraçava o meu corpo no momento — mas engulo em seco antes de acenar e resolver sair correndo, literalmente. Parti nervosamente em direção à uma porta negra de puxadores elegantes e espelhados no final do vestiário: percebi com um estalo agitado que se fosse para Park Chaeyoung realmente estar ali, sem dúvidas seria atrás daquela porta. Em estado de choque e inebriada com o cheiro morno de loções pós banho e garotas seminuas, empurrei a porta e adentrei, percebendo que tinha acabado de fugir de um quadro de nudismo renascentista porque estava suando e tendo palpitações esquisitas que desencadeavam em mim um fluxo incompreensível de energia, apoio as mãos nos joelhos e respiro de cabeça baixa, sentindo-me segura agora, um soldado livre da guerra.

(Eu não deveria ter tal reação, não há nada de incomum, eu conhecia todas as partes biológicas do corpo feminino e não havia nada para fazer um grande rebuliço, eram só corpos, eram só garotas, com corpos de garotas e cheiro entorpecente de garota... que tinham me afetado loucamente e feito florescer dentro de mim uma onda fodida de calor. Que péssima e constrangedora sensação. Eu estava sendo tão antiética e indecente ao sentir essas coisas.)

— Lisa? — A voz de Chaeyoung vinha de um cubículo esfumaçado coberto por cortinas escuras onde um chuveiro jorrava.

— E-Estou aqui.

Recupero o fôlego. Haviam sofás redondos de cotelê e prateleiras de sais de banho, duchas de metal dourado e uma coleção de roupões ao lado de um closet exclusivo. Básico.

the j of my question zOnde histórias criam vida. Descubra agora