Adeus, é sempre inevitável. É da natureza de tudo que existe que haja o momento de nascimento e a ida, há uma porção de coisas no mundo a que temos de dizer adeus. É uma palavra triste, embora às vezes a felicidade esteja extremamente próxima a ela. Veja, já tive algumas amizades em Edimburgo e nem lembro os nomes deles, lembro que eu disse adeus em nosso último encontro e desde então tenho essa sensação melancólica de que estou expulsando alguém do meu peito toda vez que digo. Veja, não estou dizendo para arrancarem o Adeus do vocabulário, as pessoas eventualmente se afastam e isso é natural. Piada, eu não conseguiria botar Jennie para fora do peito nem se eu quisesse, mas gostava tanto dela que nutri medo por isso. Porque não lembrava da cor do cabelo daqueles amigos da Escócia, não lembrava se eram dois ou três, da cor do cheiro ou até do som de seus movimentos, e com isso sempre suspeitei que essa certa desvalorização inconsciente a eles na minha cabeça tenha se dado por causa desse Adeus.
(Você lê a primeira palavra de um parágrafo e sem se medir já lhe dá adeus quando segue em frente. Você dá também adeus ao fim do parágrafo porque precisa viajar e ler o próximo. Como você abandona ele sempre tão fácil, fiz o parágrafo — coitado, tão abandonado o tempo inteiro — ao menos uma vez retribuir o seu adeus no começo e no fim.)
Perceba, estou falando do Adeus, porque "Até Logo" é ainda pior = é camuflado, ninguém nunca sabe se dentro dele tem um Adeus ou um lembrete de reencontro breve. É duro, mas ainda é melhor o cortante Adeus, Até Logo dá um baita mal estar.
Meu coração idiota, Jennie passou por ele uma vez usando echarpe e acidentalmente a ponta acariciou as paredes pulsantes. Ele se empolgou, nunca sentiu aquilo, ficou curioso. Agora não consigo deixá-la ir.
Demorou cerca de meia hora até que Jennie largasse o tapete rutilante do cenário lustroso e assentisse com a cabeça, sinalizando que deveríamos ir. Descemos em meio a travadas pela inclinação muito agressiva, voltamos espremidas pelo beco e fizemos o mesmo caminho até a doceria, Jennie disse que eu deveria dirigir. E quando recebi as chaves de Neds novamente e liguei a Lambretta para partirmos, a vi com as mãos debaixo dos braços numa tentativa de aquecê-las antes que desfizesse e começasse a se preparar para montar no assento de passageiro. Seria muito descuidado meu não perceber.
— Vou te dar o meu casaco.
— Ah! — Sua boca abriu-se, rapidamente negando. — Não, vai sentir frio.
Ceder casacos era coisa séria, um gesto que queria dizer muito. Talvez eu estivesse indo rápido demais, mas eu queria mais do que somente nossas mãos dadas. Meu coração era desse jeito, sentia e agia, sempre foi meio insensato, não deveria se meter com gente comprometida assim. Então desconsiderei a ideia do casaco.
Mas os braços dela se arrepiaram catastroficamente agora, uma camada grossa de reação ao frio. E meus jeans deslizaram sobre meus ombros antes mesmo que eu desse conta de minhas ações.
— Sem essa. — Tiro o braço de uma das mangas e ergo o punho, lhe exibindo a roupa. — Minha camisa vai até os pulsos, olhe. Então fique com isso. — Quando lhe estico o casaco ela já está com um sorrisinho acanhado, segurando-o e se dando por vencida. Jennie deveria estar com muito frio... (ou era só eu que não precisava de muito para convencê-la — o profundo da minha mente sussurrou, manipulado pelo amor).
Muito tímida, passou os braços para dentro das mangas e precisou enrugá-las para poder ter as mãos fora, a jaqueta caiu como um cobertor e passou um pouco do comprimento de seu mini vestido. Afastei a vontade de passar o resto da noite a admirando e lhe dei espaço para acomodar-se atrás. Sem muita demora já foi se segurando em mim com as mangas folgadas se entrelaçando contra minha barriga, puxando-me para sentar no meio de suas pernas. Meu intestino sentiu um frio polar de nervosismo, meus braços e pescoço arrepiaram-se quando seus joelhos tocaram os lados do meu corpo. Isso, Jennie, aperte o quanto puder. Eu saí com a moto bem devagar e voltei pelo mesmo caminho, sentindo-me vitoriosa quando gradativamente sua cabeça foi se deitando sobre minhas costas. Correndo sob as luzes da cidade, passando pelo público noturno que esperava dentro dos bares as boates se abrirem, não consegui não pensar que mais tarde Jennie não estaria segurando alguém, mas estaria nos braços de outra pessoa.
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the j of my question z
Fanficsobre gramados alheios, sobre bastar, tabelas periódicas, sorrisos entre aspas, passeios noturnos e como a pirâmide se desmonta. sobre como o X da questão (a mais difícil de ser resolvida) é na verdade um Z que tem um J. - jenlisa - blackpink - les...