include us. for the happiness of beautiful young people in the 80s

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Leia: Disfunção. Quanto peso numa só palavra. Ela soa leve para você? Esse tipo de termo carrega sempre uma grande anomalia, uma situação rara, em sua grande maioria: difícil. Mas nunca usada para representar beleza. Seu dever é estar perto de uma função anormal e a última coisa que pensaria estar ligada era ao nome de Jennie, porém naquele dia Jennie Kim me mostrou que estava, que tinha uma coisa que nunca nem imaginaria nos meus sonhos mais exóticos.

Parei na porta principal, encostei no apoio da escadaria e cruzei as pernas. O vento soprou minha franja. Soprou a de Matthew Kim também, que vestia o casaco vermelho do time e usava óculos escuros enquanto passava pela multidão, irreverente, injustiçado e insociável como passara a ser desde que perdeu a visão de seu olho direito. Disfunção.

Sei que querem saber, vou contar. Um dia Matthew tinha um futuro promissor, porque diziam "você não pode ser o único, hoje em dia todo mundo sabe jogar futebol e isso sempre será um jogo coletivo, mas pode ser o melhor fazendo o que faz". E ele era o melhor atacante que um dia High Lake já teve (e que meu pai um dia já vira num campo escolar, porque dizia ele que Matthew Kim substituiria grandes jogadores facilmente pois não jogava somente com a força e estratégia, mas sim como se cada passo longo de seus pés fosse equivalente a uma batida do coração), ele jogava Como Um dos Grandes. Sua rotina era milimetricamente seguida desde às 08:00 até as 20:00, academia pelas manhãs, escola, treino e mais academia. Provavelmente consultou a nutricionista uma vez por mês até que tivesse certeza que eliminara toda a porcentagem de gordura que fosse capaz de eliminar e é claro que às vezes engolia e cheirava coisas que nem mesmo sabia o nome porque, assim como todo mundo, ele precisava relaxar e se sentir mais alto que o Monte Everest às vezes (e também porque às vezes só sentia vontade de descer a rua de High Lake, comer um daqueles sanduíches do tamanho de um bolo de casamento que eles deixam de graça se aguentar comer tudo, encher o estômago a ponto de não conseguir respirar e arrotar na cara do próprios pais feito um porco vingativo). Mas na primavera do ano passado Robert Kim pegou Matthew e Kim Taehyung — numa situação em que o mesmo caracterizou como "asquerosa" — aos beijos num dia qualquer de treino atrás do vestiário.

Então Robert batera em seu rosto. Repetidas vezes, batera mesmo, até que a retina do olho direito de Matthew se descolasse. Batera mesmo, porque a imagem ferira seu orgulho patriota. Para grande resumo da história, a polícia veio, mas não existiu muita conversa, Robert foi apoiado por responsáveis que deveriam garantir a saúda mental de todos. Mas um único policial, o chefe deles, não tomou o mesmo partido. Olhou com rigorosidade e pena para Robert, segurou em seu ombro direito e lhe disse: "Lhe levarei por violência e pelos danos causados a vítima".

Sim, vítima. Era o que Matthew era e também o que Robert só insistia ser. Para Robert, ele quem tinha sido a vítima do caso, mesmo que não tivesse sido ele a perder a visão, ele tinha sido o único a ver uma imagem tão desrespeitosa. E Robert não era um qualquer. Seus pais tinham grana e podiam contratar um advogado; com isso, a prisão de Robert virou trabalho comunitário durante 1 ou 2 meses no máximo, porque afinal ele era um bom garoto como dizia seu advogado para o juiz. E isso nunca, nunca mesmo, seria tão triste quanto perder a visão de um olho e ser gay, porque Matthew sabia muito bem que um dia poderia encontrar outra pessoa que se ofendia tão facilmente quanto Robert e perderia a visão de seu outro olho.

O Matthew de agora, o de óculos escuros, desceu as escadas e sumiu a caminho do estacionamento. Lembro que nesse período ele passou uma temporada em algum lugar, ninguém sabe onde, algum acampamento, qualquer local onde os pais escondem aquilo que os envergonham, mas voltou aquele ano, esse último ano. E pelo visto ninguém esquecera o que aconteceu, porque ele continua sozinho pelos cantos. Pelo visto; casais lésbicos tendem a ser mais toleráveis para todo mundo.

the j of my question zOnde histórias criam vida. Descubra agora