the contract

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Acreditem ou não, o quarto de Nayeon era basicamente o espaço de uma nova casa. Tinha uma cama demasiada grande para um único corpo colada à parede e repleta de almofadas de pompom rosa brilhante, era inteiro forrado de rosa desde as paredes até o carpete de tapete. Pela porta de seu closet, esquecida aberta, conseguia espreitar pequenas amostras de tantas roupas de estilistas famosos e sapatos de grife. Perto da cama descansava um chinelo de veludo de monograma estilo pantufa, uma letra N de Nayeon floreada estava bordada no topo de cada um com acompanhamento de penugens rosas. Roupões coloridos estrategicamente arrumados num cabideiro ao lado do que eu achei ser a porta de vidro de acesso ao banheiro, um lustre de muita classe e exagero enfeitava o centro do teto e a parede da esquerda era um espelho infinito até onde se acabava numa fachada de cotineira branca comprida demais para dar a entender que do outro lado havia uma varanda, porém (para minha e a sua surpresa) sim, realmente existia uma varanda, havia passagem de ar por baixo e pelos lados da cortina, onde as extremidades vez ou outra se deslocavam bruscamente seguindo as vontades do vento, imaginei a vista que o cômodo aberto traria aos olhos, uma linda paisagem urbana de prédios e indústrias do lado norte de Seul, toda a paranoia de Gangnam, o lar dos novos ricos, a cidade que cresceu de forma tão vertiginosa.

Eu poderia continuar descrevendo os objetos de Nayeon e, pode crer, eu iria adorar fazer isso, mas por conseguinte o que possuía era somente outras coisas extravagantes que só são importantes quando se é um adolescente bem afortunado e mimado e eu imagino que você não seja assim, porque se fosse não estaria lendo isso aqui e sim passando o tempo em boutiques que reúnem marcas como Chanel, Celine ou qualquer uma que esteja no catálogo da Harper's Bazzar, por exemplo, ou de férias na casa de veraneio da família pedindo ao chofer o taco de número 3 antes de mirar na bola de golfe e lançá-la direto para o próximo buraco da vitória há alguns quilômetros de distância, mas ainda assim muito antes de terminar todo o campo que se encontra no quintal da sua mansão.

Fútil.

Fútil.

FÚTIL.

E eu bem que queria, se isso não significasse a morte de toda a minha moralidade, lutas internas e perda de inteligência adquirida justamente pela ausência dessa vida de benefícios e privilégios da elite.

Cruzei o quarto em direção ao banheiro, mas não pretendia usar seus serviços principais. Só precisava enfiar a cabeça na pia, jogar uma água no rosto e esperar que isso clareasse minhas ideias. E com toda a minha frustração e cabeça abaixada, a guitarra suave de um blues triste soando na minha audição imaginária, eu segui em direção ao lugar onde eu sentiria a segurança que somente uma boa privacidade poderia entregar, onde eu poderia ficar em frente ao espelho e me chamar de imbecil em paz.

Mas além do blues, ouço algo atrás das cortinas, vozes baixas. Cautelosamente me aproximo e abro uma boa brecha. Não sou uma criança triste, sou uma criança deslocada, triste e curiosa. Sem julgamentos por aqui, por favor.

O casal contemporâneo mais amado dos jornais de High Lake estava ali, aproveitando a luz do luar e o vento do sereno com as batidas bochornosas da música da festa ao fundo. Uma linda cena romântica de um lindo casal juvenil que desafia os estereótipos. Inspirador.

Nada que seja do meu interesse.

— Você se acha engraçada, certo? — Diz a gloriosa Park Chaeyoung em um forte tom de ironia, me deixando assim interessada o suficiente para permanecer no meu posto de xereta, com seu impecável conjunto de roupas de alguma linha francesa enviada especialmente para si de algum estilista bem sucedido com um cartão para presentes: "Para a adorável Roseanne, porque o seu francês me deixa sem palavras."

the j of my question zOnde histórias criam vida. Descubra agora