the beginning of something goo[ba]d

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Haviam muitas coisas para se ver com a chegada do verão, a principal delas era o campo nos fundos da cidade deixando de ser esquecido.

Em dias normais o campo era o lugar onde se esperava o carro passar para descartar à beira da janela garrafas de Soju enroladas em pacotes de salgadinhos. Seus chicletes da viagem, as cervejas de estrada. Era só o lugar onde ao anoitecer um caminhão coberto de vegetação até o eixo, bem no meio do terreno, assemelhava-se perfeitamente a um monstro robô que parecia ter plena capacidade de se mover a qualquer momento se você encarasse por mais de dez segundos, e as crianças apostavam quem tinha culhões para chegar mais perto. Ninguém ligava para aquele monte de nada e ninguém diria que poderia ser um lugar bonito antes que cortassem a grama alta e recolhessem o lixo. Mas com a chegada das competições era ali que os homens davam vida ao Parque de Diversões de Gangnam e finalmente a lembrança do espaço vazio retornava às cabeças dos moradores.

Àquele ano, sabendo do assombro que as crianças adquiriram em relação ao caminhão, construtores locais fizeram a piadinha sagaz de montar a complexa Casa Divertida nos mesmos arredores do automóvel velho.

"Casa Divertida" era um nome sacana para algo que de divertido não tinha nada. Começando pela entrada da tenda, que era o Bobo da Corte — sua estrutura facial, para ser mais exata — exageradamente grande. Uma cara branca que sorria de boca aberta um sorriso com a intenção de ser divertido (mas beirava ao sadismo) e que cheia de dentes pontudos cuspia uma língua comprida, verde e áspera, abrindo espaço para que você caminhasse sobre a língua grossa em meio aos dentes afiados e passasse pelo túnel trêmulo de argolas de sua garganta. Tinha um imenso chapéu vermelho de sinos, sobrancelhas flexionadas em expressão de malvadeza e olhos grandes demoníacos que encaravam e piscavam em filas frenéticas de cores neons automatizadas, olhos feios, olhos realmente alucinados e loucos que diziam: isso, entre por aí, pise em minha língua verde, é só um tapete escamoso, é o que você pensa, mas como pode ter certeza de que é só isso mesmo? Entre por aí, toque nos meus dentes que têm sua altura, estranhos e gosmentos; você sabe que os cuidadores umedecem essa geleia vermelha com borrifadores inofensivos para parecer sangue fresco, mas como pode ter certeza de que é só geleia falsa? Entre aqui mesmo e caminhe pelas salas com paredes que se movem e encare os rodamoinhos que nunca param de girar com cores tão saturadas de dar nó nas entranhas. Espere por uma múmia, um zumbi, um homem sangrento, um palhaço e um garotinho com uma faca nas costas, espere que tome um susto bem dado, espere que os atores se saiam bem, mas como pode ter certeza de que são só atores?

Eu nunca poderia suportar a ideia de usar o horror e o medo como ferramenta de entretenimento.

Um bom cenário de terror para dar início a uma parte que é mesmo sinistra e cheia de traumas.   Onde é mesmo que está Kim Jisoo? AH, consigo vê-la se aproximando, a hora dela está chegando.    E ela está linda com mais um dos espetaculares trajes finos que sempre vestia, um gracioso conjunto de casaco formal e saia em estampa buffalo branco, traçados em preto, gravata, meias até os joelhos e o sapato branco mais brilhante que qualquer um que você já tenha visto na vida. Caminhando pelo parque, carregando em seu rosto perfeito lábios refinados que cheiram a framboesa, um picolé de café na mão e os cabelos pretos cintilantes como a pintura de um mar escuro durante a noite. Era alguém tão luxuosa e tão bela que havia até um pouco de terror em sua beleza exagerada. Você se apavoraria. Um fotógrafo àquela noite tiraria uma foto sua e levaria para o edital do jornal, mas não publicaria, ele não estava ali para isso, ele era só um jornalista que tinha a fotografado num momento de fraqueza onde não pôde evitar ser arrebatado por sua estonteante aparência, enfeitiçado então, o sujeito só revelara a foto e guardara no álbum "Gangnam, verão de 1989". Tenho que contar que de algum jeito essa foto iria parar num memorial, pessoas de diferentes gerações a admirariam pela imagem e a achariam tão incrível que ainda sentiriam vontade de ser ela mesmo que já tenham se passado uns quarenta anos. Não a subestime, ela é inteligente. Ela é um gênio. Ela pode ser doce como os próprios lábios, mas sempre tivera um pezinho nas trevas.

the j of my question zOnde histórias criam vida. Descubra agora