follow in the footsteps of parents who aren't adults

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Ser grata ao pouco que não me faltava? Eu era, sempre. Pois tinha pais que nunca se esqueceram que um dia já foram crianças, que um dia já foram adolescentes, logo verdadeiramente eles me entendiam. E por tanto amá-los, tinha aos 14 anos feito uma promessa cruel: "Prometo-lhes crescer menos rápido." Promessa que estava indo por água a baixo, mas eu a mantive enquanto pude. A mantive até onde nós conseguimos levar as coisas; por muito tempo, mas não para sempre.

Com Jennie me sentia sempre numa balança, em nuances entre sentir-se apaixonada como uma criança em seu primeiro amor e amá-la como um adulto. Porque por vezes eu baixava o olhar para meu peito e via claramente um circuito, meu coração falhando, travando, rebobinando e perdendo pregos como o coração mecânico de Astro Boy, quando ela me chamava para um sorvete eu disparava a me imaginar voando aos céus como um foguete. E ao mesmo tempo, o que eu queria era requisitar um financiamento bancário e comprar uma casa, qualquer uma a qual Jennie gostasse do papel de parede ou da combinação do rodapé com o forro, e eu a arrancaria da displicência de sua mãe. Não podia fazer nada se estar com ela fazia-me sentir que finalmente o sol havia dedicado um pouco de luz para mim, e no geral era como um adulto que eu queria me parecer quando estava com Jennie. Eu só tinha que arrumar um pote confortável (que eu sempre manteria aberto) para guardar aquela minha sorte em forma de humano. Ela ia me amar, tenho certeza, eu trabalharia duro para isso. Estar apaixonada era ansiedade sem parar, mas era bom demais. Essa menina... ah, quem precisa de sol, sua felicidade já me ilumina. Minha rainha-lábios-de-sol-vermelho, não quero te deixar ir embora, acho que não vou conseguir dizer tchau.


— Estive empenhada nos últimos dias a arrumar uma maneira de beijá-lo. — Ela já terminou o sorvete e deslizava seu protetor labial pelos lábios, cobrindo a sua pele finíssima e incandescente com cor nude, e eu me impressionei com a mecânica daquela maquiagem; sua boca tornou-se rosa-vermelho da cor de chiclete de morango, escondendo temporariamente o aquário de sangue. — Gelo deve adormecer, talvez doa menos.

Ela fricciona os beiços com maciez para espalhar o batom por todos os lugares. E depois das considerações que fiz, eu estava determinada e hipnotizada demais para ter um filtro:

— Talvez você devesse me dá uns beijos para treinar antes de testar com Kai. — Lhe digo sorrindo aberta e boba. E eu só percebo que Jennie arregala os olhos quando retiro minha atenção de sua boca. Me sobe um frio rápido na espinha. — Eu faria esse sacrifício mesmo sabendo que ele acabaria comigo. — Tento consertar o deslize continuando a piada.

— Você está sempre fazendo graça! — Ela gargalha, e eu tenho que rir também porque seria estranho deixar transparecer minha decepção. Mas numa hora o som de seu riso some e eu levo um susto interno quando me dou conta de que seu olhar está fixo em minha boca com os mesmos olhos adormecidos de alguém que se deixa levar pelo vento inebriante de uma paixonite. Vejo as palavras deslizando suavemente pelos seus dentes: — Mas talvez... eu devesse... — Ela me faz acreditar na possibilidade. Sua cabeça está se aproximando de mansinho, eu congelo a sua espera.

Lembro de sentir coisas difíceis de descrever, de dizer em minha voz mental: pela expectativa meu rosto esquenta, Jennie faça-o queimar. Experimentei uma exaltação crescente, forte como relâmpagos naquelas chuvas que surgem do nada durante o verão, imaginei sua voz me chamando de meu amor, pensei como seria o som fino que teriam os estalos dos seus beijos e no final esperei pelo momento que tudo se calaria e o beijo aninhasse o corpo de nós duas no silêncio de um beijo bem na boca.

— Porém não! — Interfere ela inesperadamente. Quase me sinto enjoada ao vê-la se afastar a centímetros de me tocar. Oh, não... A execução dos acontecimentos é sempre tão torturante com ela. Discretamente solto uma lufada de ar. Prometo que um dia ainda vou pegar de volta todo o ar que você tira de mim (e vou arrancar pela sua boca).

the j of my question zOnde histórias criam vida. Descubra agora