catch us on a scooter

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Onde eu cortava o cabelo (no cara que se chamava Svan) a única coisa que teria para ler seria a revista de popularidade "Motos: uma roda alinhada a outra com um motor no meio. Subtítulo: Por que a previsão de destaque das motocicletas é tão óbvia dentro dos setores automobilísticos do futuro? Conheça as novidades do mundo motociclista." onde no rodapé da revista você veria Diário da nação 1920. Eu não conseguia imaginar por quanto tempo a revista poderia estar ali, mas qualquer um que entrasse na barbearia do Svan se contentaria com o conteúdo, porque todos que andavam por lá tinham pelo menos um avô ou um bisavô que contava histórias sobre andar por aí numa Vicent Black Shadow, e todos lá no Svan idolatravam essa motocicleta. Tinha posters com letras de músicas, adesivos e miniaturas espalhadas por toda a barbearia. Svan tinha um colete jeans que ele mandou bordar nas costas "Se você tem uma Black Shadow até eu subo na sua garupa".

Os jovens não ligavam muito para ela, a Black Shadow, estavam interessados nas Ducati, mais especificamente a lançada em 87. Ter uma Ducati 851 era o mesmo que ser um Projeto de Rei, porque os caras tinham assistido Akira e gostavam de se imaginar como um dos integrantes da gangue, cada um com aquelas motos excepcionais. Mas nessa revista a primeira moto citada após a pioneira Harley Davidson era uma Vespa. O motor dessa ficava numa suspensão traseira. Frio ou chuva não atingiria o motor de uma Vespa, era barata, econômica, resistente, não sujaria a barra da sua calça e tinha possibilidade de um estepe. Era agradável, histórica e tinha sido a pioneira para o que viria posteriormente como Lambretta, a preferida de Jennie.

Como sempre, deixei a mesma quantidade de gorjeta. E ao levantar fui logo perguntando:

— Já andou de lambreta antes?

Jennie, que empertigava a gola de seu vestido, abstraída olhando as luzes do jukebox, traz os olhos imediatamente até os meus e sorri. Droga, ela era linda. Eu olhei para Neds limpando o balcão e soltei um assobio para chamar sua atenção, ela me olhou com o mesmo mal humor de sempre. Apontei para a moto pedindo sua permissão. Neds ergueu o polegar e jogou as chaves, eu as alcancei no ar e segui para a Lambretta vermelha e branca, levantei o pedal com a ponta da bota e a conduzi para fora da lanchonete. Jennie me seguiu.

Uma vez que estávamos do outro lado e a moto certamente fora da calçada pronta para a pista, Jennie tinha se tornado calada momentaneamente e preciso dar uma olhada nela. Seu rosto parece longe em pensamentos, balançando numa nuvem e flutuando nas suas próprias propostas que eu jamais poderia saber. E eu lhe dou seu tempo, porque sempre seria dócil quando se tratava dela. Jennie sabe que estou a assistindo e não muda de estado. Ainda fitando o hidrante de mil anos, ela separa os lábios, porém vacila e não fala.

— E então? — A instigo.

Ela me olha com olhos de expectativa.

— Eu poderia dirigir? — E eu me perguntei o porquê de ter sido tão cautelosa. Tinha medo de receber um não? Eu jamais faria isso! E Jennie tinha mesmo essa astucia para querer assumir o comando? Com aquele vestido adorável de ensaio fotográfico digno de um jardim no fundo como cenário? Houve uma explosão de corações por dentro de mim. Seria uma imagem de filme, sem sombra de dúvidas.

— Você pode fazer o que quiser.

Jennie sorriu, um daqueles sorrisos tão cheios de bem estar que acaba vindo com uma gargalhada junto.

Com entusiasmo segurou as manoplas com firmeza e sentou-se, ligou a moto como se fizesse isso a vida toda, e deu uma risada baixinha ao maltratar o motor para fazê-lo roncar alto como um gigante da floresta. Tínhamos acabado de sair da escola e eu tinha deixado minha mochila na Neds, até hoje não me perdoo por não ter trazido comigo; eu teria, naquele exato momento enfiado a mão na bolsa, puxado a câmera e implorado por uma pose.

the j of my question zOnde histórias criam vida. Descubra agora