Eu não conseguia abandonar isso, essa expressão de sobrancelhas juntas, de nariz franzido em forte questionamento. Mas que sensação estranha, que humor esquisito, até faz minhas mãos gelarem. Não era por causa de junho: mês estranho de ar teimoso, que mesmo no verão o vento soprava frio àquele mês. Não era também por causa de tudo parecer uma verdadeira conflagração ou o início de uma: com aqueles protestos em Pequim, com as retaliações no centro de Gangnam... Tinha algo errado, mas não eram essas coisas. Como poderiam ser, afinal? Eu não estou lá fora, estou aqui em seu quarto, nas profundezas das águas de Jennie, azuis e densas, tentando entender como o amor ousa ser ilusório se ele parece tão fácil de ser entendido. Como ele pode ter coragem e tamanha audácia mal caráter para se parecer com liberdade, com cachoeiras de águas pesadas espancando o mar, ou como quando chove enquanto faz sol e os pingos parecem cristais raros caindo das nuvens e se espatifando contra a terra, e ainda assim carregar a possibilidade de ser tudo só coisa da sua cabeça. Por favor, que não seja! Que eu não esteja amando sozinha. Que ela também esteja vendo cristais raros na chuva. Que se juntem todas as mãos do mundo em um pedido para qualquer que seja o Deus: não me deixe amar solitariamente, eu já cansei de ficar no meu quarto, deixe-me ir para qualquer que seja o lugar. Eu. Imploro.
Mas não deve ser mentira. Esse sentimento com ela deve ser como a liberdade, como a cachoeira e até como música de violino. Eu estou lhe vendo, Jennie. Você não mente para mim como faz com Kai porque você não precisa. Ele tem olhos que se fecham como essas portas pesadas do seu quarto, ele não a deixa entrar. Mas eu? Jennie, eu seguramente acho que você deveria entrar em mim. Precisa ver como eu me sinto, eu lhe mostraria o quanto sou real, lhe mostraria que é mesmo real essa coisa de paixão. Agora você vai ver o quanto que estou a seus pés, como sou capaz de chicotear minhas próprias costas para ter isso. E isso vai a atingir com tanta força, mal posso imaginar. E acho que vai gostar, isso parece exatamente o que você precisa.
O restante de Gentlemen Prefer Blondes estava rodando em volume muito baixo na TV e uma chuva rala se arrastava pelas janelas, com alguns pingos já começando a golpear os vidros, preparando-o para um futuro espetáculo de temporal. E eu já havia realizado o ato de despertar muitas vezes na vida, mas a primeira vez que me senti realmente feliz por ter acordado mais uma vez foi aquela noite. Vou lhe contar que talvez eu não seja o tipo de pessoa que tem muitos picos de felicidade durante a vida, mas essa noite me deixou contente. Eu gostei de estar viva quando vi as paredes do quarto dela ao meu redor. O destino havia dito: certo, vamos dar um momento para essa menina se sentir realmente rica. E o golpe fatal veio quando a vi rodopiando descalça pelo chão brilhante de mármore branco como se dançasse uma valsa. A cabeça estava inclinada para o alto porque é assim que fazemos quando sonhamos acordados, os cabelos ondais, as luzes de seu quarto todas acesas e amareladas refletiam em seu vestidinho de cetim preto que a deixava glamurosa. Como uma bailarina com pés de alfinete dentro de uma caixa de jóias. Eu fiquei surpresa e imóvel, porque achei que nunca tinha visto algo tão mágico antes. Acho que não pertenço mais a mim mesma, lembro de pensar.
Mas quando Jennie parou no lugar e olhou em minha direção, experimentei o gosto da insegurança e era puro acerbo.
— Lisa, você está doente? — Foi logo perguntando. Uma onda vermelha se espalha por todo o meu rosto durante o tempo em que ela toma para chegar até a cama. Quando a vejo engatinhar sobre a cama para sentar ao meu lado, seus olhos aflitos me comoveram e o amargo na língua enfim foi desbotando aos poucos.
Mas para sua pergunta eu ainda não tinha resposta.
Jennie se aconchegou nos tantos de travesseiros e jogou as franjas longas para trás. Nos encaramos por um instante. Na verdade ela se portava como uma mulher muito experiente, não havia hesitação em seu olhar ou qualquer reflexo de confusão. Em suma, Jennie tinha desvendado algo em seu interior e parecia saber exatamente o que fazer com isso. Por outro lado, eu era um bichinho assustado à espera do pior.
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the j of my question z
Fanficsobre gramados alheios, sobre bastar, tabelas periódicas, sorrisos entre aspas, passeios noturnos e como a pirâmide se desmonta. sobre como o X da questão (a mais difícil de ser resolvida) é na verdade um Z que tem um J. - jenlisa - blackpink - les...