Raison d'être (ShinoKiba)

Extra 01

— Caralho, meus pés estão me matando. — Kiba reclamou ao sentar-se no sofá. O clima quente não ajudava muito, fazendo as pernas incharem um pouco e tornando a situação um tanto mais desconfortável.

Ele estava no trimestre final da segunda gestação, os meses passando tão tranquilos quanto na época de Masako, porém o Ômega acabou sofrendo alguns incômodos que não experimentou na época da primogênita, sendo que azia e dor nas costas eram os mais recorrentes. Com o inchaço nas pernas já estava acostumado.

— Posso encomendar nosso almoço enquanto fazemos uma pausa. — Shino ofereceu sentando-se ao lado dele. Trazia Masako nos braços, adormecida.

A pequena Alpha tinha recém completado dois anos de idade, e era uma réplica impressionante de Aburame Shino, herdando dele desde os bastos cabelos negros à tez de constituição marmórea, os lábios eram finos, dificilmente exibindo sorrisos exuberantes, pois a seriedade era marca registrada da filhotinha. A palidez acentuada formava um quadro interessante com a negrura dos olhos cálidos e o tom vibrante dos triângulos vermelhos.

Era uma criança muito calma, na maior parte do tempo. Apenas ultimamente, quando os pais compraram a casa nova e começaram a decorá-la, Masako tornou-se um pocinho de ansiedade. Mas Kiba a entendia perfeitamente, ele próprio, um adulto (apesar de ter apenas vinte anos) vivia em constante animação, sem poder acreditar que começavam a colher os frutos do trabalho de Shino.

A pesquisa sendo subsidiada prioritariamente por Sunagakure permitiu que o Alpha a desenvolvesse sem pressão, sem cobranças e sem pressa por resultados imediatos. Gaara não queria algo supérfluo, ele acreditava que calma e precisão exigiam tempo, e esse tempo era um investimento a longo prazo para a Vila da Areia.

Naqueles dois anos Kiba acompanhou de perto, na medida em que podia compreender sobre os termos científicos, todo o esforço de Shino ao desenvolver o protótipo de uma abelha usando nano tecnologia aliada ao estudo dos insetos. O objetivo era usar essas criaturinhas para gerir um oásis artificial em Suna, influenciando ao menos o ambiente no centro da nação encruada no seio do deserto.

A intenção era criar um espaço ameno para Ômegas, regulando assim, naturalmente, o equilíbrio para os moradores de Sunagakure. A expectativa era melhorar a vida dos Ômegas nativos e tornar a cidade atrativa para turistas, aumentando o trânsito de visitantes, gerando mais renda e movimentando a economia, além da troca cultural que isso podia acarretar.

Os primeiros testes estavam sendo executados em escala menor. Gaara separou um recanto de área controlada e as primeiras nanoabelhas apresentavam resultado promissor, fato que traiu olhares de todos os lugares do mundo, outras Vilas espalhadas pelo deserto, assim como de regiões em que a extinção eminente das abelhas já trazia resultados negativos.

O dinheiro começou a chegar junto com o crescente interesse, a ponto de o casal ter capital para dar entrada em uma casa maior, com mais quartos, agora que a família também aumentaria.

Aburame Shino praticamente pôs a docência de lado para se dedicar à pesquisa e descobriu assim porque seu pai amava tanto esse nicho científico: educar um ser humano e ajudá-lo a adquirir conhecimento ampliando seus horizontes era sua maior recompensa como professor, era o combustível que o fez escolher tal profissão e ser um sensei tão reconhecido entre outros docentes.

Mas imaginar um projeto, desenvolvê-lo, ver esse objeto sair do papel e começar a redesenhar o mundo era algo inimaginável. A sensação o seduziu e o conquistou, sendo uma recompensa tão valiosa quanto a monetária, que agora era usada como investimento em um novo lar. Shino viveu todos aqueles quarenta anos em seu apartamento, teve bons momentos, mas não negava a felicidade em se mudar para uma casa com um bom quintal, espaço para trazerem Akamaru e com quartos para as duas crianças. O último e decisivo fator foi a aposentadoria de Aburame Shibi. Depois de perder a gestação e o nascimento da primeira neta, ele decidiu se aposentar. Não saiu da expedição de forma abrupta, mas foi amarrando as pontas para sair em bons termos e encerrar o contrato de pesquisa. Ele voltara para Konoha, para o apartamento do qual era dono e isso tornou o lugar um pouco mais apertado para viverem.