Casamento à obrigação

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Shizune-sensei e Inuzuka Kiba conseguiram conversar por quase vinte minutos sem que a Marca desse sinais de incômodo. Quando a palidez do Ômega se acentuou e ele reclamou que o pescoço começou a doer, a médica encerrou a "reunião", apesar de tudo foi efetiva em explicar a exata situação em que Kiba se encontrava. Por isso não se surpreendeu quando ele pediu para conversar a sós com Aburame Shino. O Alpha entrou no quarto algum tempo depois, batendo na porta para anunciar sua chegada.

— Não quer que eu chame sua mãe? — Ofereceu a opção.

— Não. — Kiba, que voltara a se deitar, recusou fazendo uma careta — Cara, a gente precisa conversar, não quero falar certas coisas na frente da mamãe!

Estremeceu só de pensar em tal cenário, Shino compreendia bem a delicadeza do assunto, além disso, o vínculo era uma garantia inquestionável, captava ansiedade, culpa, arrependimento em fragmentos claros. Não havia, entre tais sentimentos, nem um pinguinho de medo, apesar do descontrole e eminente ataque, Kiba não mostrava receio pela presença do Alpha.

Forte sensação de alívio chegou até Shino, que compreendeu com sabedoria que sua chegava devia ter aplacado a dor que o outro sentia n'A Marca. Era uma pena que Ômegas passassem por isso para firmar um compromisso, a natureza mostrava um lado sábio, embora não escondesse sua faceta cruel.

— Muito bem. — O homem sentou-se ao lado da cama. Por trás das lentes dos óculos deu uma boa mirada no garoto que era seu "marido", a aparência estava abatida, mas era sem dúvidas um jovem bonito.

Kiba suspirou, ajeitou o lençol, tocou o curativo do pescoço, procurou uma posição mais confortável, arrumou o lençol de novo, respirou muito fundo e ruidoso. Gestos atrapalhados de quem não sabe como começar a travar diálogo, Shino se condoeu, quase abriu os lábios para ajudar o outro, mas no fim o Ômega se adiantou.

— Eu sinto muito mesmo, cara. Pra caralho! Meu amigo e eu planejamos por semanas, traçamos várias possibilidades, pesquisamos sobre acônito e... Tanto trabalho só pra dar ruim!

Shino meneou a cabeça, devia estar furioso com os adolescentes, ele abominava comportamentos selvagens, sempre tomava os supressores quando da proximidade do Heat e buscava a segurança dos banhos públicos, locais em que a presença de centenas, milhares de Alphas impregnava cada cantinho. Em meio à sensação de estar entre outros da própria casta era mais fácil sobrepujar os instintos, não havia motivo para descontrole.

E, justamente essa massiva sensação ampliara a presença Beta e Ômega de modo inimaginável, a casa de banho era como um cômodo escuro, o Beta e o Ômega foram como dois pontinhos de luz no meio da escuridão, e a presença de Kiba se emanou quentinha, aromática, irresistível! Não existia no mundo acônito suficiente para camuflar aquilo.

E, apesar de tudo, Aburame Shino não estava furioso, o vínculo impedia a ira. A partir do momento em que se uniram como companheiros era impossível para um Alpha como Shino dirigir qualquer sentimento negativo para com o Ômega reconhecido, só oferecia preocupação e desejo de vê-lo bem estar.

— Imagino que o ataque tenha te assustado, me desculpe por não me controlar.

Kiba acenou com a mão descartando a ideia.

— Não me lembro de porra nenhuma, sério! Bem, me lembro de algo me chamando, sabe? Uma espécie de requisição, dai meu cérebro vira mingau de arroz e só volta ao normal quando eu melhorei. Teve algumas horas que doeu pra caralho, mas já é coisa de quando eu tava aqui no hospital, nem da hora que você me marcou eu lembro... Não é foda?

— É. Fico feliz que não tenha lembranças ruins desse momento.

— Eu nem sei como me desculpar... — Kiba torceu os lábios, desviando os olhos. — Era pra ser uma brincadeira! Eu falo isso e soa tão idiota...

Raison d'être (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora