Tsume estava desconfiada. E bastante.
No dia anterior, Kiba lhe enviou uma ou duas mensagens bem atípicas. A última delas insinuando que iria jantar com Shino na casa da mãe. Ela conhecia o filho bem o bastante para saber que havia alguma intenção oculta, principalmente pela doçura que permeava cada palavra do autoconvite. Kiba só agia daquele jeito quando queria conseguir algo.
E ela intuía aquele algo. Talvez desde o começo, quando o desespero e a raiva amainaram, permitindo que vislumbrasse os contornos do vínculo tido como provisório, que a cada dia se transformava um pouquinho, adaptando-se à personalidade de ambos para que se acomodassem na relação de companheiros.
A intuição veio em momentos certeiros, presenciando cenas até mesmo rotineiras. Ou, justamente por serem tão corriqueiras e acontecerem com tanta naturalidade, fossem o sinal que disparou as desconfianças da mulher. Afinal, Shino e Kiba eram dois desconhecidos. Que motivos tinham para agir com tanta adaptação a um relacionamento quase forçado?
E então... o convite cheio de firulas, num tom que...
Tsume quase podia ver aquele garotinho peralta, sabendo-se a beira de receber um castigo, tentando amenizar as consequências e limpar a própria barra. Exatamente a mesma postura que o Ômega adotou quando chegou à noite, com Shino, para o tal jantar. Kiba era todo sorrisos, cheio de prosa, e um olhar muito, muito, muito na defensiva.
— Olá, mamãe! Desculpe não ter dado notícias ontem, sabe como é, né? Essa coisa de vida de casado ocupa tanto tempo, não foi por querer, né, Shino? A gente estava resolvendo umas coisas, sabe?
Tsume observou os dois entrando na sala de sua casa, pouco antes das sete horas, e acomodando-se no sofá. Shino teve a gentileza de lhe entregar uma embalagem de pudim, oferta que trouxe para a sobremesa.
— Olá. — Devolveu o cumprimento. A intuição se tornando mais forte. De repente ela teve toda a certeza do mundo sobre o motivo de ambos terem marcado aquele jantar, da atitude de seu filho e de toda a cerimônia que acompanhava os gestos de Kiba. Divertiu-se secretamente, permitindo que as coisas seguissem sem dar a entender que desconfiava da verdade. — Vou levar isso até a cozinha, fiquem à vontade.
— Claro, mamãe. Essa ainda é a minha casa, sempre vou ficar muito à vontade aqui. — Kiba riu enquanto se sentava com Shino ao seu lado.
Tsume observou por um breve segundo antes de suspirar e trocar um olhar significativo com Shino, ou algo perto disso, afinal o homem nunca tirava aqueles óculos de sol. Por fim retirou-se da sala e foi levar o doce até a geladeira. Ao voltar, vinha com Hana, que tirou folga no serviço para participar do jantar em família.
— Hana-nee! — Kiba adorou a surpresa. Sentia saudades da irmã mais velha.
— Olá, irmãozinho. Cunhado querido... — Ela sorriu sentando-se no sofá junto à mãe. — Caprichamos na comida hoje. Parece que a ocasião é especial.
Kiba sentiu a indireta e a pegou como a oportunidade perfeita.
— Mamãe, Hana-nee... — Entrelaçou os dedos nos de Shino e ergueu um pouco, mostrando as mãos para as mulheres. — A gente resolveu continuar com o vínculo...
Foi tudo o que disse, para a própria surpresa. Afinal, na véspera, tinha passado um dia de puro nervosismo. Depois que terminou a vídeo conferência com Aburame-san, começou a planejar como contaria tudo para a mãe. Ensaiou discursos... Depois que Shino terminou as obrigações com o trabalho, treinou a revelação tendo o Alpha de plateia. O nervosismo crescia tanto quanto a ansiedade.
Praticamente decorou um longo pronunciamento elencando todos os pontos positivos da relação com Shino, sua fala mostraria que estava ciente dos desafios, dos obstáculos e dificuldades que viriam naquela relação. A diferença de idades podia ser um empecilho aos olhos da sociedade, que sempre julgaria Shino com rigor, assim como podia causar atrito entre Alpha e Ômega, dado à experiência que o primeiro possuía, sendo sempre desafiada pela inexperiência que caracterizava o segundo.
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Raison d'être (ShinoKiba)
ФанфикO plano era perfeito! Os garotos revisaram tantas e tantas vezes, pensaram em tantas e tantas possibilidades que nada poderia dar errado! Exceto que deu. E deu muito, muito errado, pois como Naruto e Kiba viriam a descobrir da pior forma, um dos ele...